As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem/2016) só acontecem em novembro, nos dias 5 e 6, um sábado e um domingo. Mas todo estudante sabe que a preparação deve começar bem antes. Aliás, o aprendizado durante toda a vida escolar, principalmente nos três anos do ensino médio, se torna indispensável neste momento, já que as provas exigem raciocínio, interpretação, compreensão e análise de diferentes linguagens, códigos e conteúdos.
As provas são divididas em quatro áreas de conhecimento. No primeiro dia, com quatro horas e meia de duração, o teste reunirá questões de Ciências Humanas (História, Geografia, Filosofia e Sociologia) e Ciências da Natureza (Química, Física e Biologia). Já no segundo dia de prova, as questões são sobre Linguagens e Códigos (Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira, Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e Comunicação) e Matemática, além da elaboração da redação, tudo em até cinco horas e meia.
A estudante Ana Luiza Mendonça, de 17 anos, explica que está no 3º ano do ensino médio, mas que a preparação específica para a prova já acontece desde o 1º ano. “Quero cursar medicina e sei que a concorrência é maior. Estudo em um colégio que tem como objetivo preparar os alunos para os vestibulares e o Enem. Não é uma prova difícil, mas demanda muita atenção e domínio de diversos conteúdos”, afirma.
Mayara Carvalho, de 16 anos, também está se preparando. “Estou no 2º ano, mas fiz o Enem no ano passado como teste e vou repetir a experiência. A ideia é me acostumar com a prova quando chegar a hora e realmente estiver valendo uma vaga em uma universidade. Ainda não sei qual faculdade escolher, mas venho me preparando para a prova. Estudo uma média de quatro horas por dia, além do colégio”, conta ela, acrescentando que a escola onde estuda desenvolve o “Projeto Enem”, com aulas aos sábados. Todo o conteúdo é voltado para o exame, com dicas para a redação.
Ana Luíza e Mayara, entretanto, fazem parte de um grupo pequeno de alunos que ainda estão no ensino médio e procuram pelos cursos de preparação. De acordo com o coordenador de um curso pré-vestibular em Nova Friburgo, Anselmo Rodrigues, “a maior parte dos alunos que se matriculam nesses programas são alunos já formados no ensino médio, que fizeram o Enem no ano anterior e não conseguiram a tão sonhada aprovação. Há também aqueles que antecipam esse processo e já iniciam os estudos quando ainda estão no 3º ano do ensino médio. Já para os alunos dos 1º e 2º anos, a dica é que concentrem os estudos no ensino regular, de modo a fazer um bom ensino médio e, com isso, não precisar fazer um pré-vestibular. É sempre bom ir do 3º ano direto para a faculdade. Para isso, é preciso seguir uma boa rotina de estudos desde o 1º ano”, destaca.
Ainda conforme Anselmo, além do aumento do número de candidatos por vaga ao longo dos anos, também é maior o nível de dificuldade das questões do Enem, o que exige mais conhecimento e preparo dos candidatos. Assim, é preciso estudar cada vez mais para conseguir uma vaga em uma universidade de excelência.
Carlos Ferreira, de 20 anos, fará o Enem pela terceira vez. “Fiz quando estava no terceiro ano e no ano passado. Mas não obtive a nota necessária para ser aprovado no curso de Direito, na UFRJ. No ano passado estudei sozinho, mas desta vez optei pelo cursinho e acho que vai me ajudar, indicando os conteúdos certos que eu devo estudar”, disse.
Jhenifes Silva, de 19 anos, terminou o ensino médio em 2015 e também fará a prova este ano. “Fiz a prova pela primeira vez no 3º ano do ensino médio e estava mais preocupada em terminar bem a escola, com notas boas. Agora entrei em um cursinho e estou com foco apenas em passar para uma universidade pública”, contou.
Greve prejudica alunos da rede pública na preparação para o Enem
Enquanto as aulas nos colégios particulares e nos públicos de outros estados seguem em ritmo normal, muitos estudantes estão há mais de 120 dias sem aulas devido à greve dos professores. A categoria reivindica reposição salarial de 30%, retorno do calendário de pagamento no segundo dia útil do mês para aposentados e ativos e, entre outros, o fim do parcelamento de salários. Hoje, 6, mais uma assembleia da categoria será realizada no Rio, seguida de passeata com demais servidores estaduais, mas o fim da greve ainda não é certo.
Com isso, muitos alunos da rede estadual, principalmente os do 3º ano do ensino médio, temem não conseguir aprovação no Enem e também não têm certeza sobre o futuro deste ano letivo. “Pelo que tudo indica iremos perder este ano. Não há mais dias disponíveis no calendário para reposição. Mesmo se eu passar no Enem, como farei a matrícula na faculdade se o ano letivo de 2016 só for encerrado lá para abril ou maio de 2017”, diz uma aluna do ensino médio do Colégio Estadual Júlio Salusse.
“Os professores têm direito nas suas reivindicações, mas essa greve já nasceu morta. Se o estado está falido, é obvio que eles não conseguiram reajuste. A greve só está prejudicando aos alunos. E a reposição dessas aulas terá o mesmo conteúdo das aulas em tempo regular?”, questiona um aluno do Colégio Estadual João Bazet.
Por conta do conteúdo atrasado, alguns alunos da rede estadual já admitem que irão desistir e deixar para o próximo ano o sonho de uma vaga no ensino superior. É o caso do estudante Marvin Monnerat. Aos 17 anos, ele estuda no 3º ano do Colégio Estadual Professor Jamil-El-Jaick, mas desde o dia 2 de março não tem aulas. “Não farei o Enem este ano porque praticamente não tive aula. Com que base eu iria fazer? Nem mesmo realizei a inscrição, pois não há sequer previsão para a greve acabar. Só estou tendo aulas de matemática e química”, destaca ele.
Anselmo Rodrigues, coordenador de um curso pré-vestibular, explica que por causa da paralisação dos docentes aumentou o número de alunos da rede pública que buscam o auxílio dos cursinhos particulares, mas que por causa dos problemas no ensino municipal e estadual, essa já é uma realidade.
“Sempre recebemos alunos da rede pública, principalmente porque sua formação ainda é muito deficiente. Além disso, existem os programas de cotas para quem é oriundo da rede pública. O que faz com que alguns alunos até abandonem o colégio particular no ensino médio, com objetivo de participar dos programas de cotas criados pelo governo federal”, conta ele.
Outra jovem de 17 anos, que preferiu não se identificar, diz que fará o Enem, mas sem expectativa de boa nota e, muito menos, de uma vaga em universidade pública. “A concorrência é desleal. Quem tem uma condição melhor para pagar escola e cursinho tem mais chances que a gente. Mesmo tendo cota, sem professor para ensinar é difícil”, exclama.
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