Desesperada, a mocinha corre pela rua gritando por ajuda. Das sombras um homem de máscara e faca em punho surge para atacá-la. Não adianta correr, ele sempre surgirá na próxima esquina, pronto para atacar. O monstro, embora continue a ser alvo de tiros, facadas, cadeiradas, choques e afogamentos, não descansará até o minuto final... quando deve morrer, vítima de algum plano mirabolante e desesperado. Para ressurgir no filme seguinte.
Embora monstros e assassinos mascarados tenham sido utilizados pela dramaturgia em geral desde sempre, o cinema, principalmente o de horror, foi o que melhor soube utilizar a assustadora junção destes elementos. Em 1978 o mundo já até havia sido apresentado ao Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica, mas é John Carpenter quem entrará pra história como o criador do grande vilão moderno dos filmes de terror com seu Halloween.
A história de um garoto perturbado que assassina a irmã e vinte anos depois foge do sanatório onde ficou internado, para assassinar outras jovens da mesma idade, surpreende. O filme de Carpenter capricha no clima, entregando uma trama que, em sua primeira hora, pouco se preocupa em exibir matanças. Tudo o que temos é a constante presença ameaçadora do assassino, que nem sempre está nas sombras – muitas vezes sai à luz do dia.
Agora, trinta anos depois, com mais oito filmes apenas com o personagem de Michael Myers, há de se entender a força do personagem. Para começo de conversa, é bom que se saiba que antes de Michael Myers, fora um outro clássico, como Cabo do Medo ou Psicose, nunca que a identidade e figura do assassino foi tão relevante para o desenrolar de uma trama de terror. O brilhantismo da composição de Michael está em entregar uma face de inocência (embora, em seu momento mais inocente, ou seja, quando aparece como uma criança, ele não seja nada inocente – pois ainda que use uma máscara de palhaço, quando vemos Michael pela primeira vez o garoto já havia assassinado a irmã e aguardava, coberto de sangue, pelos pais na frente de casa), além de lhe conferir uma determinação e irrefreabilidade que até aquele momento só podia ser conferida nos filmes de zumbis comandados por George Romero e o pessoal do cinema de horror italiano (tema de palestra para outra ocasião).
A máscara, sua marca registrada, foi resgatada no ano seguinte, com a sequência do filme, desta vez com Carpenter assinando apenas o roteiro e a produção. Não é um outro clássico, mas foi o bastante para que percebessem que o babado dava caldo. Ou algo assim.
O fato é que desde então não cessaram de surgir monstros mascarados. Jason Vorheess e Freddy Krueger são os mais conhecidos. O Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica também ganhou nova chance, mas nenhum filme que valesse a pena assistir. Em 1996 o gênero de filmes se tornaria definitivamente objeto de culto não só por aficionados, mas por jovens em geral, com o lançamento de Pânico, do diretor e criador de A Hora do Pesadelo (os filmes do Freddy), Wes Craven.
Parece que só os produtores do Halloween original não entenderam o que tinham em mãos. O terceiro filme da franquia abortava o conceito de Michael Myers e investia numa nova história sobre uma cidade assombrada por uma fábrica de máscaras. Felizmente, o quarto filme trouxe Michael de volta do mundo dos mortos e deu fôlego para a série que, lá com seus revezes, foi até o oitavo filme.
Daí, como algumas moscas que picam Hollywood de tempos em tempos, acharam que era preciso renovar o título. E, assim como fizeram com O Massacre da Serra Elétrica e Sexta-feira 13, trataram de engatilhar uma refilmagem.
O oba-oba surgiu quando anunciaram o nome de quem sentaria na cadeira do diretor: Rob Zombie, ex-White Zombie, responsável por dois bons filmes de terror, A Casa dos 1000 Corpos e Rejeitados pelo Diabo (este último, uma extraordinária peça de carnificina). Certamente o nome ideal para uma produção deste porte.
O que se viu foi um filme cansativo, de duas horas de duração, carregado em violência gráfica, uma direção mais ou menos caprichada e personagens fracos, que dão bem a idéia do que o público atual espera quando vai ao cinema se encolher no escuro e dar uns gritinhos. São quarenta arrastados minutos de introdução, que não levam a nada, senão “engrandecer” (sabe-se lá com o que) a história original. Não bastasse, Zombie ainda apresenta atores infinitamente inferiores aos da versão original, de Carpenter.
No lugar de Jamie Lee Curtis, uma atriz bobinha, sem graça. E o grande Donald Pleasance como o psiquiatra Sam Loomis? Entra em seu lugar Malcolm McDowell, o Alex de Laranja Mecânica, carregando o peso da idade. O filme, além de se arrastar por uma introdução chata e desnecessária (além de violenta, claro), segue passo a passo a história anterior, mas segue por mais vinte minutos, “enriquecendo” a trama.
E, vejam só, fez sucesso, ganhou sequência e não deve demorar vai estourar nos cinemas (ou nas locadoras – já que o primeiro filme levou dois anos para ser lançado aqui e, quando foi, foi direto para as locadoras). Fica a torcida para que a refilmagem de A Hora do Pesadelo, programada para 2010, não seja tão decepcionante.
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