Cursos de audiovisual formam novos profissionais em Friburgo

Diretora e roteirista de documentários é uma das convidadas da produtora Arturius Filmes
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
por Ana Borges
Daniela Broitman com a turma do curso de roteiro, na sede da Acianf. Embaixo: exibição de filmes, entre eles, “Marcelo Yuka, no caminho das setas”
Daniela Broitman com a turma do curso de roteiro, na sede da Acianf. Embaixo: exibição de filmes, entre eles, “Marcelo Yuka, no caminho das setas”

A produtora Arturius Filmes, em parceria com a Acianf (Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo) e A VOZ DA SERRA, está promovendo cursos de audiovisual, com profissionais que atuam em áreas específicas da produção cinematográfica. Com esse projeto, a produtora pretende contribuir para a formação de novos profissionais. Os cursos, em andamento desde agosto, são: produção para audiovisual; fazendo filme - documentário; e roteiro para audiovisual.

Uma das convidadas do professor e produtor Leo Arturius é a cineasta paulista Daniela Broitman, radicada no Rio. Formada em jornalismo pela USP com mestrado na Universidade de Berkeley - Califórnia, ela trabalhou nos jornais Folha e Estadão (São Paulo), antes de optar por cinema, área para a qual migrou entre 1990/2000. No início desse período, ela se mudou para os Estados Unidos, onde estudou Produção de Vídeo Digital na New York University. Entre suas produções, está o documentário “Marcelo Yuka, no caminho das setas”, lançado em 2011, que participou de festivais nacionais e internacionais, sendo premiado em dois deles.  

“O curso tem como propósito a formação especializada de novos alunos, nas áreas oferecidas, com o objetivo de lhes dar base para realizar seus projetos após o término das aulas”, explicou Arturius, acrescentando que a idade dos alunos varia entre 17 e 60 anos. 

Aos 20 anos, terminando a faculdade, Daniela acreditava que ia mudar o mundo através do jornalismo (contou, rindo). “Sempre fui curiosa, inquieta, me envolvia em mil coisas ao mesmo tempo, queria saber tudo que estava acontecendo no mundo. Também me tocavam as questões sociais. Desde menina adorava ir ao cinema, escrevia sobre eles, fazia críticas. Mas não passava pela minha cabeça fazer cinema”, conta. 

Além de jornalismo, ciências sociais, de modo geral, e matérias como antropologia, sociologia, política, em particular, também despertavam o seu interesse. “Eu ia a vários eventos no mesmo dia: estreia de filme, abertura de vernissage, exposição de fotografia, artes plásticas, instalação. Gostava de conversar, perguntar, conhecer gente, ouvir histórias. Como era filmar, montar, finalizar todo o processo registrado pela câmera? Aliás, como funcionava uma câmera? Quer dizer, eu queria tudo aquilo, não me contentava com menos”, lembra. 

Sobre essa sede de se descobrir e ao mundo, Daniela lembra de quando conheceu o cineasta Eduardo Coutinho (falecido em 2014), considerado um maiores documentaristas da história do cinema do Brasil. Conversando com ele, falou de seu projeto sobre moradores de comunidades que já estava em fase de pré-produção e de tudo que ela precisava providenciar, de tudo que planejava. “Ele quase ficou sem fôlego”, comenta. Divertido com toda aquela efervescência, o experiente e tranquilo diretor aconselhou a jovem colega iniciante a desacelerar. Algo que sua inquietude intelectual não permitia. 

Com justo orgulho, ela, que se sentia assim como uma pupila de Coutinho, certa vez disputou, com ele — “imagina, eu, concorrer com Eduardo Coutinho!” —, o importante prêmio do cinema nacional. Sentados lado a lado na plateia no dia do evento, ele repetia, a todo instante: “Você vai ganhar!”. Ao que ela retrucava qualquer coisa, rindo, sem maiores pretensões. Ambos venceram em categorias diferentes. Ao contar essa passagem, Daniela reverencia a memória do amigo, acentuando que qualquer pessoa que conheça ou venha a conhecer a obra de Eduardo Coutinho, desde o premiadíssimo “Cabra marcado para morrer”, entre outras obras premiadas, entende a sua admiração.  

Expressões, impressões, linguagens

Ao trocar jornalismo por cinema, Daniela encontrou o que buscava: poder contar histórias usando imagem e som — que na origem de sua formação acadêmica equivaliam à escrita e fotografia. Roteiro e direção eram seus novos desafios. Resumindo, imagem, som, história, registros, eram as ferramentas que agora queria para se expressar. 

“Quando me aproximei do cinema, entendi que tudo que eu queria devassar estava contido nele. O audiovisual unia todas as minhas paixões, me encontrei ali. Como jornalista, observei que o documentário está muito além do jornalismo, porque ele nos dá a possibilidade de desenvolver diversos estilos: o docudrama, por exemplo, é um deles. A história do Yuka é outro exemplo: não está restrito ao fato jornalístico, linear, tem um lado de ficção, tem um lado dramático. Essa passagem do jornalismo para o documentário não quer dizer simplesmente deixar a escrita e desembarcar no audiovisual. É outra linguagem, outra construção, tem a montagem, são várias fases a serem trabalhadas desde a filmagem. Nessa mudança, a gente leva tudo o que já sabe para ser acrescentado com o que vai aprender. Daí descobrimos o quanto vasto é esse universo”, avaliou.   

Nos Estados Unidos Daniela cursou produção de vídeo digital na New York University e em 2003 lançou seu primeiro longa documentário: “A voz da ponta – A favela vai ao Fórum Social Mundial”, premiado pela Brazilian Studies Association. “Comecei fazendo matérias para a televisão no meu curso de mestrado e dali fui me aproximando do cinema através de documentários para a TV. Fazendo esse tipo de reportagem aprendi a trabalhar com câmeras, microfones, edição, e fui entendendo as técnicas, como tudo aquilo funcionava. Eu precisava ter certeza do que queria. Adorei confirmar minha paixão por fotografia, descobrir a edição, poder fazer uma escolha com conhecimento de causa”, conta. 

Com o peso de seu currículo recebeu convites para novos desafios em São Francisco, e a carreira como documentarista se firmou nos Estados Unidos. Na volta ao Brasil, deu início a seus projetos, agora radicada no Rio de Janeiro. Começou esse novo momento, literalmente com a câmera na mão, desenvolvendo suas ideias à medida que ia realizando. Seu primeiro contato com Yuka foi em 2004 e foi um encontro de afinidades e debates. “O Yuka é uma pessoa que tem uma preocupação com o crescimento espiritual. Ele faz ioga, meditação, que eu também pratico. E tem uma visão da vida muito interessante, é uma pessoa sensível, especial. Fazer esse documentário com ele, que levou anos até ficar pronto, foi uma experiência muito enriquecedora”, revelou.

A carreira

Daniela Broitman, paulista de nascimento, radicada no Rio, é graduada em jornalismo com mestrado na Universidade de Berkeley (Califórnia). Trabalhou por cerca de oito anos nos dois principais jornais de São Paulo (Folha e Estadão). Produziu programas para o Frontline World (TV PBS) e tem trabalhado em produções internacionais, como Rip: A Remix Manifesto e Witness (HBO). Fez o roteiro, produção e direção dos longas Meu Brasil e Marcelo Yuka no Caminho das Setas.

A trajetória no cinema de Daniela está vinculada ao registro da luta de grupos excluídos e ao documentário. De 1989 a 1998, trabalhou como jornalista (tem mestrado na área pela Universidade da Califórnia – Berkeley) e migrou para o cinema nos fins dos anos 1990 para 2000. Em 1997, mudou-se para os Estados Unidos, onde cursou produção de vídeo digital na New York University. 

Em 2003 finalizou o seu primeiro longa documentário: A voz da ponta – A favela vai ao Fórum Social Mundial. O filme ganhou o Prêmio de Excelência da Brazilian Studies Association (BRA-SA), sendo exibido em festivais internacionais. Seu segundo documentário, Meu Brasil, foi resultado de uma pesquisa com mais de 100 líderes comunitários e inúmeras ONGs, e desdobramento de um projeto audiovisual social sobre comunidades populares marginalizadas. 

Premiada com a prestigiosa bolsa da Fundação Guggenheim de Nova York, ela filmou o documentário Marcelo Yuka, no caminho das setas, que participou de mais de 15 festivais nacionais e internacionais, e ganhou o prêmio de melhor montagem no Festival do Rio 2011, e vencedor do Júri Popular online no Festival In-Edit Brasil. Nos últimos anos, a cineasta também atuou como produtora em documentários internacionais como Rip! A remix manifesto (EyeSteelFilm e National Film Board of Canada); Witness, da HBO; e co-produziu Obama Samba, The Money Tree e The Carbon Hunters, para o programa Frontline/World, da TV americana PBS.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade