Cultura de Samba resgatando a tradição do samba de raiz

terça-feira, 28 de agosto de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Cultura de Samba resgatando a tradição do samba de raiz
Cultura de Samba resgatando a tradição do samba de raiz

Como mostra a letra dos compositores Edson Conceição e Aluísio, interpretada por Alcione, “Não deixe o samba morrer”, a preocupação sobre os rumos do tradicional samba de raiz não é de hoje. E com este olhar, de resgate, e com vontade de mostrar como se faz o verdadeiro samba, surge o grupo Cultura de Samba. A proposta dos seus integrantes é valorizar os acordes e letras apresentados por artistas renomados, como Cartola, Jovelina Pérola Negra, Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, João Nogueira, Martinho da Vila e vários outros, que retratam tão bem uma das principais manifestações culturais populares brasileiras—o samba.

Conhecimento e experiência: essas são as raízes do Cultura de Samba. Seus músicos se conheceram basicamente nas salas de aula do curso de Licenciatura em Música da Universidade Candido Mendes de Nova Friburgo, e pelas amizades que surgiram nesse meio. Assim, podemos apontar que a primeira centelha do Cultura de Samba tenha se soltado durante a realização do SambUCAM, em 2011.

A iniciativa surgiu dentro da universidade em Nova Friburgo, que consistia em shows de samba instrumental durante os intervalos de aulas. O projeto fazia parte de um trabalho feito em grupo para a disciplina Harmonia Funcional, com os alunos e integrantes do grupo: Marcelo da Graça, Victorio Vieira e Paulo Cellos. Com o bom resultado da apresentação, foi possível perceberem que a proposta era bem mais séria. A pegada do grupo, a partir disso, seria profissional.

Foi em janeiro de 2012 que o grupo tornou-se oficial e só vem crescendo em repertório e em número de ensaios, encontros esses em que fica evidente como se forma a cultura de samba, com cada músico completando a roda de samba com seu estilo, vivência e fluência no ritmo. E nessa pesquisa, o Cultura de Samba selecionou mais de 450 clássicos do samba, de vários compositores e intérpretes, para o grupo escutar, estudar e trabalhar de forma apurada e profissional. Cada um ouviu as composições e decidiram empregar a digital do Cultura de Samba, mas tomando o maior cuidado para não descaracterizar o samba de raiz. 

Como inspiração, o grupo formado por Andrinho, Damásio Ventura, Marcelo da Graça, Paulo Brandão, Paulo Cellos, Rominho e Victorio Vieira, se aprofunda nos trabalhos de Bezerra da Silva, Beth Carvalho, Alcione e Fundo de Quintal e tantos outros. A ideia é ser uma continuidade do que esses músicos já consagrados fizeram, caminhando sem pressa, mas com o jeito próprio do Cultura de Samba, que promete também mesclar músicas de própria autoria durante os shows.

Apesar de jovens, os componentes afirmam ter entrado para o mundo do samba somente após terem tido um amadurecimento pessoal e musical—e por isso cada um traz para a banda um verdadeiro mix de sonoridades, com experiências em ritmos como do rock ao pagode. Para os integrantes, é fundamental mostrar que o samba é uma arte genuinamente brasileira, muito rica e que é feita por bons músicos. Isso porque o estilo samba de raiz tem muita complexidade, e precisa ser estudado com cuidado e atenção, pois não basta chegar e tocar; tem que ter conhecimento apurado das letras, melodias e acordes.

Tendo a Lapa também como inspiração, o grupo não quer apenas tocar samba, mas passar esse amor e tradição pelo estilo samba de raiz para todos os que assistirem às suas apresentações. Eles pretendem mostrar seus trabalhos além da Região Serrana, e por isso planejam voos por onde for possível levar o Cultura de Samba, porque como diz Alcione: “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar...”. 

Formação do CULTURA DE SAMBA  

Baixo: Paulo Cellos, 36 anos, nascido em Fortaleza (CE), hoje morador da região serrana do Rio de Janeiro. Começou fazendo aulas de violão em Teresópolis, depois guitarra, e não demorou muito em se tornar um autodidata, sempre pesquisando em livros e vídeos. Mas, considera que a sua maior escola foi o seu grupo de amigos, que falavam o “musiquês”. Sobre o prazer do samba, Paulo tenta explicar: “É difícil definir com palavras os sentimentos, a energia, é necessário fazer e deixar de ‘pré-conceitos’ e simplesmente experimentar; o que posso dizer é que me faz bem, sempre volto à realidade mais feliz”.

Bateria: Victorio Vieira, 24 anos, friburguense, que tem como maior inspiração o grupo Fundo de Quintal e todo o movimento cultural que existe no Cacique de Ramos. Para o percussionista e baterista, o Cultura de Samba tem uma sólida proposta, por isso promete chegar muito longe. Já tocou em banda de pop-rock, como a Fermatta, e tem várias passagens em grupos de estilos musicais variados do soul ao jazz. Também faz parte do seu currículo à atuação com a banda Tora-Bora. E agora, se orgulha em dizer: “Sou Cultura de Samba, que é uma família com um só propósito: viver de música”. 

Cavaco e banjo: Marcelo da Graça, 30 anos, de Teresópolis, diz que desde pequeno sempre gostou de fazer batuque em tudo o que aparecesse em sua frente. Conheceu os primeiros acordes na música com o avô Cristóvão, quando foi apresentado ao acordeom. Também aprendeu a tocar instrumentos utilizados na capoeira, tais como o pandeiro e atabaque. Daí, para o samba e o pagode, estava a um passo, e descreve: “O Cultura de Samba é um grupo de amigos, uma família, que busca manter e dar continuidade a tudo àquilo que os sambistas do passado fizeram”.

Pandeiro e percussão: Paulo Brandão, 27 anos, de Nova Friburgo, que diz ter sido privilegiado por ter os familiares como os primeiros incentivadores musicais, desde cedo na percussão. Já atuou com o grupo de pagode Sensibilidade, que passou a se chamar Timidez. Mais tarde fez parte dos grupos Resumo do Samba e Provoca Samba. Seu ídolo maior no samba é o lendário Bezerra da Silva e completa: “Cultura de Samba pode ser resumido em quatro palavras: família, amigos, alegria, história”.

Percussão geral: Damásio Ventura, 23 anos, de Nova Friburgo, que começou aos 15 anos ouvindo samba e pagode. Damásio tem como ídolos Arlindo Cruz e Alcione, e o grupo Revelação e Seu Jorge. Para Damásio, o samba de Alcione “Não deixe o samba morrer”, fala um pouco da proposta do Cultura de Samba e declara: “Samba é minha vida, minha força e minha paz”.

Violão de 6 e 7 cordas: Andrinho, 25 anos, de Trajano de Moraes, começou na música aos 10 anos: tocou sertanejo, gospel, estudou violão e guitarra, e ainda participou de uma banda de rock e grupos de pagode. Diz que deve a sua iniciação musical ao avô Ézio, ao irmão Thiago e ao amigo Elton, que o ensinaram os segredos e as lições do violão. Tem como referências musicais Yamandu Costa, Gilberto Gil, Seu Jorge, Matos Nascimento e João Bosco. Sobre o Cultura de Samba, Andrinho afirma categoricamente: “Esse veio para ficar”.

Rebolo e vocal: Rominho, 25 anos, de Nova Friburgo, que teve iniciação na música aos 14 anos, ao acompanhar o tio tocar cavaquinho. Foi quando bateu a paixão não só pela música, como mais especificamente pelo samba. Desde que ganhou o primeiro cavaquinho de seu pai, passou a treinar dia e noite, e mais tarde passou a tocar em bares da cidade. Para Rominho, o Cultura de Samba busca mostrar a essência do verdadeiro brasileiro, e isso, por meio do samba. 

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