A Comunidade Evangélica Luterana de Nova Friburgo esteve em festa no fim de semana por conta de seus 190 anos de fundação, comemorados no último sábado, 3, com um evento que lotou as dependências da tradicional igreja na Avenida Galdino do Valle Filho. A celebração contou com apresentações especiais do Coro Lírico Acrópolis e do Quinteto da Campesina.
As festividades prosseguiram na manhã de domingo, 4, com culto que teve a participação de pastores convidados, como o presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), pastor Nestor Paulo Friedrich; do pastor Sinodal Guilherme Lieven, de São Paulo; e do pastor Martin Volkmann, Sínodo Rio dos Sinos, onde começou o luteranismo no Rio Grande do Sul, também em 1824. À frente da comemoração, o pastor Adélcio Kronbauer e a diretoria da Comunidade Evangélica Luterana, formada por Nádia Athayde (presidenta), Áureo Luiz de Azevedo Góes (tesoureiro) e Dirce Saldanha (secretária).
O culto de domingo também lotou a igreja e foi marcado pelo clima de paz e confraternização entre os participantes. Destaque para a simbólica mesa montada diante do altar, composta por pão, trigo, uvas e pequenos cálices de vinho representando a Santa Ceia, oferecida aos participantes para a remissão dos pecados e o fortalecimento da fé. Outro ponto alto do culto foi a apresentação do Grupo Tom sobre Tom e de músicos que integram a comunidade luterana local.
A celebração, prestigiada pela vice-prefeita Grace Arruda e alguns vereadores, contou com a presença de delegações de Petrópolis, do Rio de Janeiro (Ipanema, Centro e Ilha do Governador), de Niterói e Rio das Ostras. Ao final, foi promovido um almoço festivo marcado pelo clima de alegria entre os participantes.
As comemorações vieram ao encontro do importante papel da comunidade luterana, que se confunde em muitos de seus aspectos com a história social, política, econômica, religiosa e cultural de Nova Friburgo. O contingente que chegou ao município no dia 3 de maio de 1824 trouxe a novidade do protestantismo e um povoamento maior do que o até então existente.
O processo de industrialização e modernização de Nova Friburgo no século passado também foi liderado por alemães. Os mesmos têm seus nomes registrados no rol de membros da comunidade luterana. "Atualmente, somamos forças com outras denominações no sentido de pregar uma mensagem de fé, esperança e amor, a fim de que as pessoas encontrem ânimo e consolo diante das situações diversas da vida”, ressalta a diretoria da instituição, satisfeita com o êxito das festividades do especial aniversário.
Nova Friburgo, berço da colonização alemã no Brasil
Apesar de pouco divulgado, o berço da colonização alemã no Brasil é Nova Friburgo. O município recebeu os primeiros colonos alemães em 3 de maio de 1824, data que também representa um marco para a liberdade religiosa no país. Isso porque os imigrantes trouxeram consigo o protestantismo para o Brasil, e fundaram a primeira igreja luterana da América Latina. "Os 345 alemães que aqui chegaram plantaram os pilares da fé luterana, garantindo, a partir daí, a liberdade religiosa em território nacional”, destaca a presidente do Centro Cultural Teuto-Friburguense, Dalva Brust.
Segundo Dalva, os colonos dos dois primeiros navios de imigração alemã que chegaram ao Brasil em 1824, Argus e Caroline, vieram para Nova Friburgo após um conturbado episódio. "O destino desses imigrantes era o sul da Bahia, para trabalhar na fazenda do alemão Scheffer, que intermediou a vinda deles para o Brasil. Como ele ainda estava na Alemanha quando os navios chegaram, D. Pedro I decidiu mandar os colonos para Nova Friburgo, onde se somariam aos suíços que restaram no município. Isso acabou gerando uma revolta entre os alemães, que não queriam vir para a Região Serrana porque estavam certos de que iriam plantar cacau na Bahia — e poderiam tropeçar em pepitas de ouro. Friburgo não fazia parte desses planos e um grupo acabou se revoltando e ficando preso por dois meses e meio na Armação das Baleias, em Niterói. Passado esse período, o grupo acabou vindo para Friburgo”, explica ela.
A imigração alemã para o Brasil no século XIX foi fruto de um projeto imperial e, para assegurar seu êxito, D. Pedro I concordou com a exigência de conceder aos alemães a liberdade de culto de fé luterana. "Os colonos que chegaram a Friburgo estavam acompanhados do pastor Friedrich Oswald Sauerborn, que realizou o primeiro culto luterano em solo nacional”, observa Dalva.
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