CRÔNICAS - Uma análise sobre o dia em que o coração bate mais forte

sexta-feira, 07 de junho de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Adriana Ventura


E então o Dia dos Namorados chegou... Somos bombardeados pela propaganda e ofertas de todo tipo, em nome do amor. O comércio precisa disso: impulsionar o consumo, nem que seja à custa de propaganda de camisinha na televisão. Aí, vêm as flores – como as adoro em qualquer época do ano... –, as roupas, os chocolates. Tudo em forma de corações vermelhos. Pra todo lado.
E os convites dos hotéis oferecendo noites românticas e restaurantes com menus afrodisíacos? Recebi pelo menos três desses só na semana passada. E você ainda tem que explicar em linguagem tipo telemarketing: “No momento não estarei namorando, muito obrigada, mas estarei encaminhando o seu convite...”. E, pensando alto, acrescento, “a quem interessar”. Aliás, melhor pensar em tantos outros dias dos namorados quando estava acompanhada para passar tranquila por essa cobrança do mundo de que se deve ter um par, hoje!, Dia dos Namorados.
Aí penso que não mudei muito desde os meus 16 anos. Muitos namoros no currículo, um casamento de 20 anos, e ainda espero o príncipe e procuro o amor. Que merda! Pelo menos o meu príncipe mudou de cara. O homem que me interessa hoje é outro. Estar acompanhada hoje e sair para jantar não seria difícil se não houvesse tantas e importantes exigências. Desculpem-me, mas a idade e a vida exigem, agora, outros pré-requisitos. Para começar, o príncipe tem que ser inteligente, sensível, reciclado, autossustentável, espiritualizado, e gostar de arte, filosofia e música. Ser ecologicamente correto, gente!
O que mudou na figura do príncipe é que ele não precisa ser propriamente bonito, rico, bombado. Ele é de verdade! Normal, e garanto que muito mais interessante. Mas voltemos a falar em estar sozinha no Dia dos Namorados. 
Sozinha? Quem tem rede social aí, gente? Milhões de pessoas sem namorado também e, graças a Deus, online. Alívio na tal noite romântica, essa é a minha esperança. Teremos vídeos para ver, rir, chorar, e ainda bem: gente para conversar... Sério: quanta gente sozinha, mesmo acompanhada? Procuramos, todos nós, esse tal do Amor. Tem jeito não. Onde será que ele está?
Você pode ter tido a sorte dele estar ao seu lado, e feliz. Mas nem sempre é assim... Quem eu gostaria para estar ao meu lado hoje e sempre está livre de todos esses clichês. Romantismo é bom, mulheres adoram. Mas troco fácil por uma conversa entre almas, por risos soltos, pela alegria de ser o que se é, com suas imperfeições expostas, sem texto ensaiado nem coreografia marcada.
Beijos? Muitos, longos, de tirar o fôlego. Com direito a pernas bambas, mas sem abrir mão de muitas conversas pela madrugada. Sexo? Tão óbvio que não se tem pressa. É inevitável mesmo. Presente? Sempre gostoso de receber. Mas tem presente melhor do que poder livremente ser? Presentear seu companheiro com o melhor que você anda fazendo do pior de você? Complicou? É que faço terapia, sorry! (Por falar nisso, se o meu amor fizer análise, melhor ainda.)
Esse amor de que falo é também daqueles que te dá vontade de cantar, de escrever, de rir... E não só de coisas sérias, não... Tem também espaço para bobagens. Mas, por favor, ouvir “vou comprar umas três calças para o marido”, como ouvi hoje, é demais. O amor que quero não é feito de necessidades... É de prazer, de alegria, de vida. Vida, gente, não coisas...
Aliás, é por falta de necessidade dele que o ser amado pode surgir. A necessidade de ter um homem qualquer, somente para não estar sozinha, é pura idiotice, não vale a pena. Não quero ser escrava de mais nada. Ser viciado em alguém é uma merda. Penso o contrário sobre o amor. Tem que ser livre, tanto quanto eu.
E voltando aos coraçõezinhos vermelhos, um dos primeiros desenhos que nós, mulheres, começamos a rabiscar, o que fazer com milhões deles caindo sobre nossas cabeças? Eu peguei o meu, colei na agenda para lembrar que tenho cardiologista hoje à tarde. Bem-vindas à vida real. Feliz Dia dos Namorados!

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