Fazer uma lista dos piores discos do mundo é tão difícil quanto fazer dos melhores. O resultado deixará sempre muita gente irritada, já que essa eleição só tem graça quando os artistas citados são ilustres, mas que tiveram a infelicidade de gravar um disco ruim.
Contudo, nas diversas listas de "piores” aparece volta e meia uma banda um tanto desconhecida — The Shaggs — e o seu "Philosophy of the World”, de 1969. A maneira como três meninas adolescentes da zona rural dos Estados Unidos realizaram tal proeza é uma história muito curiosa.
Foi ideia do pai, Austin Wiggin Jr., montar a banda. Quando Austin era criança, sua avó lhe havia feito três previsões, ela lera em sua mão: Austin se casaria com uma ruiva; esta não conheceria duas das suas três filhas em vida e, por fim, as filhas teriam um grupo musical que um dia seria famoso.
Como as duas primeiras previsões se concretizaram, Austin decidiu então investir todas as fichas na carreira musical das filhas, sendo que estas jamais haviam tocado qualquer instrumento e nem queriam montar a banda. Mas Austin Wiggin Jr. estava firme em sua resolução: tirou as meninas do colégio, matriculou-as em um curso de música por correspondência e forçou-as a praticar todos os dias, o dia inteiro. Quando os diplomas do curso enfim chegaram, Austin achou que era o momento das "Shaggs” se apresentarem ao vivo, em um baile semanal da sua pequena cidade (Fremont,NH). Os jovens que compareceram ao baile para dançar, ao assistirem às Shaggs, jogaram coisas no palco e vaiaram o grupo. Austin, porém, não se abalou com o ocorrido. O próximo passo era naturalmente a gravação de um LP, o qual ele pagaria do próprio bolso. No estúdio, o engenheiro de som tentou em vão convencer Austin de que as meninas não estavam prontas para gravar, mas Austin decidiu seguir em frente. Mil cópias de "Philosophy of the World” foram distribuídas para as rádios e jornais. Não vendo qualquer tipo de repercussão, Austin não mais fez cópias nem quis gravar outro álbum.
Os anos se passaram e "Philosophy of the World” foi aos poucos se tornando objeto de interesse entre músicos e aficionados por música; um item de colecionador. A existência daquele disco era mesmo algo inacreditável, pois a afinação das guitarras, a marcação dos ritmos, as harmonias e as melodias pareciam vindas de um universo próprio, onde não existia preocupação alguma com as convenções da música tradicional — uma espécie de niilismo involuntário e inocente, primal e errático, impossível de traçar influências. As letras, por sua vez, abordavam o relacionamento de jovens com os pais, o Dia das Bruxas, dever de casa e bichinhos de estimação.
Mais tarde, as Shaggs ganharam notoriedade na mídia depois de Frank Zappa,em uma entrevista, afirmar que elas eram melhores do que os Beatles e que "Philosophy of the World” estava entre os seus três discos favoritos. Logo um pequeno culto se formou e as filhas de Austin chegaram a receber o título de "madrinhas da música alternativa”; um ícone simbolizando tudo o que desviava de um padrão. E "Philosophy of the World” também foi considerado o pior disco do mundo. Segundo as próprias Dorothy, Betty e Helen Wiggin, em sua canção de abertura: "Fazemos o melhor/ tentamos agradar/ somos como todo mundo/ nada para a gente é fácil/ você não consegue agradar /todas as pessoas/ nesse mundo”.
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