Eloir Perdigão
A encosta das ruas Juvenal Namen e Cristina Ziede, no centro da cidade, está recebendo obras de contenção. Isto representa um alívio para os antigos moradores, que já estavam agradecidos pela visita da presidenta Dilma Rousseff, logo após a tragédia de janeiro passado. No entanto, cobram das autoridades municipais uma posição sobre o terreno onde se situavam suas construções. Os escombros e entulhos foram retirados, máquinas e caminhões se movimentam no local e ninguém dá uma posição sobre seus direitos. Só nesse trecho central da cidade foram 12 mortos, inclusive três bombeiros.
UM MÍNIMO DE ATENÇÃO – O Edifício Monte Carlo, situado na esquina das ruas Augusto Spinelli e Juvenal Namen, foi atingido em cheio pelo deslizamento ocorrido no local. O síndico, Sormani Gama Pereira, e o morador Hamilton Wermellinger de Araújo, que se encontram desalojados (o prédio está interditado), relembram a visita da presidenta Dilma Rousseff, como primeiro alento no pós-tragédia. Alguns meses depois viram começar as obras de retirada de terra, com expectativa de que seja construído o muro de contenção. Para Sormani e Hamilton isto já significa um mínimo de atenção das autoridades.
Sormani não presenciou a tragédia porque estava em viagem. Quando retornou não pôde voltar para casa, pois o prédio estava—e continua—interditado. Dos 18 apartamentos—nove em dois blocos—todos estão vazios. Cinquenta metros quadrados dos apartamentos da coluna 4 do bloco B ruíram com o deslizamento. Sormani está morando em outro apartamento no Centro, alugado, o que representa mais uma despesa. O que sabe dos antigos vizinhos é que todos estão em situação semelhante, morando provisoriamente em outros imóveis. O síndico ainda não tem informações se poderá retornar ao seu apartamento.
Hamilton estava no prédio e quando desceu as escadas não sabia a dimensão do ocorrido. Mora provisoriamente num apartamento da Villa das Flores, na Via Expressa, em Olaria, da construtora Gemini. Tem informações de que o bloco A não tem nível grande de comprometimento, mas, todo o prédio continua interditado por medida de segurança.
Segundo Hamilton, ainda há a questão psicológica. Cita o exemplo de Sormani, que não presenciou a catástrofe e pode se sentir à vontade para voltar, caso haja autorização nesse sentido. Mas os que presenciaram podem não ter condições psicológicas para retornar, devido ao trauma. E cita o exemplo de uma moradora que, além da perda material, perdeu o filho de 15 anos.
Hamilton crê que o governo estadual está fazendo a obra de contenção nas ruas Juvenal Namen e Cristina Ziede como fruto da presença da presidenta Dilma Rousseff ao local, o que não deixa de ser um apoio significativo que os moradores recebem. “Podem haver situações de abandono muito grandes no município. Mas nós temos que dizer que a presença marcante da presidente da república, fotografada diante do nosso prédio, trouxe esperança e alento para a gente, de que a obra vai ser feita. Nós, moradores do prédio, não podemos dizer que teríamos sido abandonados pelo poder público, porque a obra ali terá o custo de alguns prédios daquele nosso, um custo elevado que nós, do prédio, não teríamos absolutamente condições financeiras para fazer”.
A VOLTA PARA CASA – Sormani acredita na volta para casa após o término da obra de contenção da encosta. Até em função da responsabilidade da empresa de engenharia contratada para o serviço. “Nós estamos sendo agraciados com essa obra que seria impossível para nós, condôminos, e outros moradores de nossa rua”.
Posição semelhante tem Hamilton, que vê no local da obra uma placa com a chancela do governo estadual. Para ele, bem provavelmente em função da presença da presidenta Dilma, o governo federal deva ter dado atenção especial ao local, até por se situar a um quarteirão da principal praça da cidade. “Se tem a chancela do governo federal do governo do estado, se tem a placa da obra, temos que entender que existem recursos da engenharia mais que adequados para transformar aquele entorno [Juvenal Namen, Cristina Ziede, Augusto Spinelli] novamente numa área segura, num ponto nobre do centro da cidade. O interesse não é apenas nosso, é da própria cidade, que quer continuar a receber as pessoas, e a praça é um cartão de visitas. Se nós falarmos que não estamos sendo socorridos, eu penso que não seria justo. Nós estamos muito esperançosos de que vamos ter atenção do governo federal, governo estadual e governo municipal para voltar para casa”.
Sormani e Hamilton só não têm ideia de quando isto poderá acontecer. Enquanto não voltam, demonstram preocupação com o próximo período de chuvas, pois acreditam não haver tempo para conclusão da obra de contenção da encosta, o que poderá resultar nas ruas novamente enlameadas no entorno do prédio que moravam, podendo chegar à Praça Getúlio Vargas.
Ex-moradora quer informações sobre o terreno de seu imóvel
Se alguns julgam terem um mínimo de atenção, outros se queixam de não ter atenção alguma. É o caso de Célia Regina Mesquita Lo-Bianco, que residia na esquina das ruas Cristina Ziede e Miranda Fortes. Tudo que ela deseja é respeito. Isto porque, a exemplo dela, nenhum outro morador dessa área central da cidade sabe mais qual é o seu pedaço. Para a obra de contenção da encosta local há movimentação de máquinas e caminhões nos lugares onde anteriormente estavam os imóveis desaparecidos.
Célia escapou da tragédia com a roupa do corpo, mas perdeu seu marido. Seu neto, de 14 anos, e uma cunhada escaparam por pouco. Foi muito ajudada por familiares, parentes e amigos, mas não pelas autoridades. Nem aluguel social conseguiu, sob alegação de que quem morava na Cristina Ziede não precisa do benefício. Mas Célia frisa que sua casa era herança deixada pelo sogro. “Eu morava bem, graças a Deus, mas perdi tudo. Se o aluguel social é para quem perdeu tudo, por que eu não tenho direito?”, questiona.
A moradora cobra das autoridades um mínimo de respeito e atenção. “A única coisa que recebi da casa foi o carnê do IPTU”. Na Prefeitura foi alegado que os carnês são emitidos automaticamente. É outro detalhe que continua sem solução. “Se há o carnê do IPTU, há também uma planta na Prefeitura. As autoridades municipais deveriam promover uma reunião com os antigos moradores e propor demarcar o terreno dos antigos imóveis, para que cada um pudesse ter sua planta, ter respeitado o seu direito, ter o seu pedaço. Agora eu não sei mais o que é meu, onde é minha calçada, meu terreno, onde é a rua, não deram atenção nenhuma a um pessoal tão duramente atingido”, lamenta.
Outro ponto que aflige Célia é a questão de uma pedra (que ela nem tem certeza se é verdade) que ameaça rolar nas imediações, desde que foi aberta a Rua José Namen, que liga a Augusto Spinelli à Carlos Éboli, no final do governo da prefeita Saudade Braga. “Quebraram uma pedra ali e dizem que todo mundo sabia que aquele morro estava desprotegido. Aquela rua foi ótima, mas se sabiam que isso poderia vir a acontecer, ninguém pensou nas conseqüências. E sofre que tiver que sofrer, cai a casa, morre marido, criança, é uma falta de respeito muito grande. Fico muito chocada porque eu nem sei até que ponto isso vai continuar acontecendo”.
Célia viu rapidamente, de passagem, a obra de contenção da encosta da Cristina Ziede. Ela crê que, agora, mesmo que haja uma chuva forte não deve descer tanta enxurrada, até que o problema seja definitivamente solucionado com a conclusão da obra. Sua dúvida é se a obra está sendo feita em função dos moradores ou devido à localização, tão próximo ao Centro, da Praça Getúlio Vargas.
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