Crise indigesta: piora no cenário econômico atinge também os restaurantes

Restaurantes da cidade sentem na pele os efeitos da crise
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
por Karine Knust
Com aumento dos alimentos e tarifas, restaurantes e consumidores já sentem os efeitos da crise na hora das refeições (Lúcio Cesar Pereira)
Com aumento dos alimentos e tarifas, restaurantes e consumidores já sentem os efeitos da crise na hora das refeições (Lúcio Cesar Pereira)

Os efeitos da crise que atinge o país nos últimos meses estão chegando ao bolso do trabalhador. Em Nova Friburgo a realidade não é diferente. Com aumento de produtos e serviços dos mais variados setores, tem sido cada vez mais necessário reorganizar a vida financeira para ao menos tentar eliminar aquilo que pode estar se tornando supérfluo. Mas não é apenas o bolso que tem sentido esse peso nas contas. O estômago também é o atingido da vez. Além de gastar mais tempo pechinchando preços mais atrativos nos supermercados, fazer pesquisa para escolher o restaurante que ofereçam o BBB — bom, bonito e barato — também entrou no check-list daquelas pessoas que são adeptas da economia.

Atualmente, no centro da cidade o preço de uma refeição pode variar, em média, de R$ 18 a R$ 36 o quilo. Alguns restaurantes ainda disponibilizam a opção de refeições montadas, popularmente conhecido como prato feito, com valores que também podem variar de R$ 10 a R$ 20, dependendo do estabelecimento e da quantidade servida. A secretária Aline Tuntes, de 26 anos, afirma que sempre pesquisa o preço na hora de escolher, no entanto, apesar de optar por estabelecimentos mais baratos, até nestes percebeu um aumento no preço das refeições. Para driblar o problema sem abrir mão do sagrado momento do almoço, ela conta que estipulou apenas dois dias na semana para comer na rua. “Todos os dias pesa e muito no orçamento. Almoço apenas dois dias em restaurante e apenas nesses dois dias, só eu e meu marido gastamos em cerca de R$ 50 a R$ 60 reais por semana. Imagina se fossemos todos os dias? Inviável”.

Se para os clientes está difícil fazer a combinação comer bem e pagar barato, para os empresários, driblar o aumento de encargos e produtos também não é tarefa das mais simples. O gerente de um tradicional restaurante do Centro, Luis Dutra, disse que apesar de não ter aumentado o preço da refeição o estabelecimento, já está sentindo o arrocho no bolso dos friburguenses e turistas. “Além dos alimentos estarem mais caros, também temos sentido a crise econômica no aumento das contas de luz e água e na diminuição dos turistas. Do ano passado para cá, tivemos uma queda de 35% no movimento de clientes que vêm de fora”. Com o intuito de combater essa realidade, Luis conta que tem investido em promoções e bom atendimento: “Estamos com uma promoção de 30% de desconto no rodízio de carne. Sabemos que o lucro é pequeno, já que esse foi um dos alimentos que mais aumentaram, mas nossa intenção é atrair clientes. Não estamos contratando, mas queremos manter os funcionários que temos sem perder a qualidade do serviço prestado”.

Para Roberto Brito, dono de outro restaurante também no centro da cidade, a criatividade também é a alma do negócio: “Temos sentido a crise econômica, mas não estamos deixando que isso se reflita no preço do serviço. Temos um público muito cativo e para continuarmos assim investimos no bom atendimento e na renovação do nosso Buffet. Além de refeições de qualidade, a cada dia da semana oferecemos algum prato um pouco mais diferente, como o camarão”, conta ele.  

Enquanto os preços não caem, muita gente começa a criar alternativas para driblar a alta no valor da comida, como a família de Thais Affonso, de 23 anos: “Geralmente como com meu pai e meu prato dá entre R$ 7 e R$ 8. O valor do prato dele é um pouco mais, gira em torno de R$ 13. Com esse aumento vamos começar a almoçar em casa. Acho que, com isso, grande parte dos nossos gastos com alimentação vai cair”.

Atropelando a lei

Não há nada mais constrangedor do que perder a comanda de um restaurante ou lanchonete e ser abusivamente punido por isso. Para mudar essa realidade, em setembro do ano passado um projeto foi aprovado na Câmara dos Vereadores e passou a ser a Lei Municipal nº 4.309. A regra proíbe a cobrança de multa por perda de comanda por parte de fornecedores de produtos e serviços e obriga que os comerciantes afixem, em local visível, um cartaz dizendo que a prática da cobrança das multas é abusiva. No entanto, quase um ano depois de entrar em vigor, ainda é possível encontrar estabelecimentos que ainda não entraram na linha.

Na última semana, um de nossos colegas de trabalho registrou com a câmera do próprio celular as evidências do desrespeito. No canto inferior da comanda de um restaurante localizado no centro da cidade havia a seguinte frase: “Atenção: A perda desta comanda implicará no pagamento de R$ 100,00”.  De acordo com gerente do Procon de Nova Friburgo, Júlio Siqueira Reis, o consumidor que se sentir lesado deve procurar seus direitos: “De fato, cobrar multas é uma conduta ilegal. A responsabilidade do controle de consumo é do estabelecimento. Impor o pagamento de multa pela perda da comanda seria transferir para o consumidor uma obrigação da empresa. Quem se sentir lesado deve procurar o Procon ou Juizado Especial Cível. Se a multa for paga, o consumidor deverá exigir um recibo para depois reaver o dinheiro na Justiça”.

As sanções aplicadas aos estabelecimentos que não cumprirem a lei são — em diferentes instâncias — multa, suspensão temporária da atividade, cassação de licença e interdição — total ou parcial — do estabelecimento ou atividade. Para não sair no prejuízo caso a comanda suma, cabe aos restaurantes ter o controle exato do que é servido em cada mesa, computando cada item para cobrança.

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TAGS: resataurantes | preço | crise econômica
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