Ser adolescente é sofrer de crise existencial. Pelo menos é o que a maioria das pessoas diz. Mau humor, alegria intensa seguida de tristeza sem fim, brigas com os pais e horas trancado no quarto. Todos estes sintomas e atitudes são mais frequentes nessa fase da vida.
Mas os pais precisam ficar atentos. Se além desses sintomas o jovem mudar por completo seus hábitos – não gostar mais dos amigos que tem desde a infância, querer trocar de colégio, começar a usar drogas ou sentir sua autoestima em baixa - , ele pode estar sofrendo de depressão.
A psicóloga Carmen Lúcia Göbel Coelho, formada pela UFRJ e há 11 anos lidando com jovens, conta que o termo “crise de adolescência” foi dado pelo psicólogo Erik Erickson propondo que é uma crise normativa e tem como objetivo adquirir ou sedimentar uma identidade. “Nessa busca, muitas vezes o jovem apresenta um comportamento defensivo, procurando em seu grupo de amigos segurança e estima. Às vezes parece que pertence mais à sua ‘turma’ do que à sua própria família. É comum marcar sua imagem com características de um determinado grupo ou ‘tribo’, porque eles ajudam a estruturar a identidade desse jovem num contexto social. Os amigos, que passam por dificuldades e angústias semelhantes, servem como modelo uns para os outros”, explica Carmen, que tem sua tese de mestrado e doutorado inspirada na própria experiência com adolescentes.
Com relação à idade limite para ser considerado adolescente, o critério varia bastante. Do ponto de vista legal, 18 anos é a idade considerada limite para passagem da adolescência à idade adulta, em que o jovem é considerado legalmente responsável por seus atos. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência se situa na faixa entre 10 e 19 anos. Já para a Organização das Nações Unidas (ONU), entre 15 e 24. Considerando as normas e políticas de saúde do Ministério de Saúde do Brasil, esses limites variam entre as idades de 10 a 24 anos. E ainda para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a adolescência fica na faixa dos 12 aos 18 anos.
“Para muitos estudiosos, aqueles jovens que ainda não adquiriram independência e autonomia ainda são adolescentes. Assim, podemos encontrar jovens economicamente ativos e independentes com 15 anos, e outros dependentes dos seus pais aos 30 anos. Quando o parâmetro é entrada no mercado de trabalho, o compasso de espera nessa etapa do desenvolvimento varia muito”, frisa a psicóloga, que alerta para as transformações que ocorrem nessa fase da vida. A adolescência se inicia com a puberdade, com as transformações biológicas no corpo do indivíduo. “Embora esses dois conceitos estejam intimamente relacionados, são diferentes, porque a puberdade diz respeito às transformações biológicas e a adolescência refere-se às modificações psicológicas e sociais”, afirma Carmen.
Para ela, fica fácil entender a adolescência quando se pensa em como lidar com situações de mudança de paradigma, ou seja, modificações que não têm volta. Por exemplo: o corpo de criança fica para trás e é preciso aprender a lidar com uma nova imagem. Os pais da infância, normalmente vistos como heróis, passam a ser encarados de forma mais real e menos mágica. Além do corpo que muda, a inteligência amplia-se enormemente, permitindo que o jovem seja capaz de pensar hipoteticamente, de refletir e de criticar. Os hormônios ficam à flor da pele, evidenciando a sexualidade e a busca de parceiros afetivos. Passam a valorizar seus amigos, pois com eles começam a construir uma ponte para a idade adulta, preparando-se, gradativamente, para sair de casa e enfrentar o mundo. Assim, a opinião dos colegas passa a ser muito mais importante de que a dos pais, pelo menos aparentemente. As figuras de autoridade, como os pais e os professores, por exemplo, podem ser rechaçadas ocasionando, nesses casos, problemas de relacionamento nos quais o adolescente sente-se injustiçado. No entanto, esses e outros sintomas, que geram a conhecida crise da adolescência, são muito importantes para o desenvolvimento do sujeito, ou seja, são esperados e considerados evolutivos.
No entanto, é preciso saber distinguir a “crise de adolescência” da depressão. Apesar de o jovem passar por períodos de instabilidade marcados por grande intensidade, é possível que o adolescente fique deprimido sem estar apresentando um quadro depressivo. O que faz a diferença é como e por quanto tempo o adolescente apresenta esse sintoma. Se for muito intenso ou se durar muito tempo, pode-se estar lidando com a depressão. Caso contrário se for leve e temporário, pode ser um sintoma típico dessa fase.
Como os pais devem agir?
De acordo com Carmen Lúcia, se for o caso de sintomas típicos da “crise de adolescência”, é importante compreender. “Porém, compreender não significa autorizar o adolescente a exagerar. Vale lembrar que a adolescência convida a toda a família a passar por isso. Os pais também precisam se adaptar a essa pessoa que vem surgindo e se estruturando, porque uma família é um sistema interdependente, no qual, ao transformar um membro, todos também se modificam, num processo dialético de adaptação”, ressaltou.
Uma boa dica, segundo a psicóloga, é lembrar aos pais que eles também foram adolescentes. “Como foi essa etapa para cada um? Essa fase do desenvolvimento de seus filhos os convida, indiretamente a pensar sobre isso”, argumentou.
“Acredito que os ingredientes fundamentais são o bom senso, o amor e a capacidade de contenção. Porque dar limites, não é necessariamente engessar, é assegurar contorno, é dar segurança. Tudo isso fica mais fácil se for pincelado com carinho e compreensão”, frisa Carmen.
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