Por Max Wolosker
Uma empresa instalada em Córrego Dantas, bairro de Nova Friburgo, deixa a população preocupada e em busca de explicações sobre quais as reais ameaças à saúde de todos. Trata-se da Creamor, Cremação de Animais Ltda., instalada na Rua Antonio Mário Azevedo, 3308 e que se destina à incineração de resíduos de serviços de saúde (lixo hospitalar), cremação de animais de estimação, incineração de documentos e incineração de produtos perecíveis.
Há cerca de um mês, de acordo com a presidente da Associação dos Moradores do Córrego Dantas, Maria José Lima, foi entregue um ofício ao Inea, Instituto Estadual do Ambiente em que os moradores do bairro reclamavam da saída de uma fumaça preta das chaminés, além de um cheiro pouco agradável, do tipo remédio queimado; em certas ocasiões, a fumaça era tão forte que mais parecia uma névoa densa. Após a entrega desse documento, houve também um contato com o biólogo da instituição, Thiago Afonso Santos Lepore que se prontificou a procurar o dono da empresa e se inteirar dos fatos.
Segundo Thiago Afonso, a empresa está regularizada e com a LF (licença de funcionamento) em vigor; possui dois incineradores, um com capacidade de processar 20 quilos por hora e o outro 200 quilos. A explicação para a cor da fumaça pode ser a incineração acima do limite da capacidade do forno ou então, a combustão de determinados materiais, entre os quais o plástico. Ainda de acordo com o biólogo, no início da cremação é possível que a fumaça saia preta clareando à medida que o processo evolui.
Após esse contato com o Inea, vários moradores confirmaram que a situação durante o dia melhorou bastante, com as chaminés da Creamor expelindo uma fumaça branca. No entanto, como a população agora está atenta, os caminhões com lixo hospitalar passaram a chegar à noite e é de madrugada, quando a maioria das pessoas dorme, que a fumaça preta sai da chaminé.
“É um erro comum crer que as coisas simplesmente desaparecem quando queimadas. Na verdade, a matéria não pode ser destruída ela apenas muda de forma. Após a incineração, os metais pesados presentes no resíduo sólido original são lançados junto com os gases pela chaminé do incinerador, associados a pequenas partículas; também estão presentes nas cinzas e em outros resíduos. A incineração de substâncias cloradas, como o plástico PVC, leva à formação de novos compostos clorados, como as dioxinas altamente tóxicas, que vão se juntar aos vários resíduos da incineração já mencionados. Em outras palavras, os incineradores não resolvem os problemas dos materiais tóxicos presentes no lixo.” É o que nos revela entre outras coisas, a monografia Incineração e a Saúde Humana, estudo sobre os impactos da incineração na saúde humana, de Michelle Allsopp, Pat Costner e Paul Johnston, realizada no Laboratório de Pesquisa do Greenpeace, na Universidade de Exeter, Inglaterra.
A Creamor, nas palavras de Thiago Afonso, está disposta a instalar filtros em mangas nas suas chaminés o que vai ajudar ainda mais no processo de filtração. Por falar nisso, o filtro de manga tem por finalidade separar as partículas existentes no fluxo dos gases industriais. A filtragem é realizada pela passagem do ar carregado de partículas através de mangas onde essas partículas ficam retidas na superfície e nos poros dos fios, formando um bolo que atua também como meio filtrante. Aliás, foi uma exigência feita às fábricas de cimento, até então grandes poluidoras do meio ambiente.
No entanto, é preciso que o Inea se mantenha alerta, com inspeções periódicas e não apenas quando houver denuncias dos moradores do Córrego Dantas. Ainda mais que essa fiscalização é da alçada do estado, cabendo ao município apenas a liberação do alvará para a construção da empresa, desde que em área propícia. É preciso ter em mente que qualquer atividade produtiva é bem-vinda, desde que a preservação do meio ambiente e a saúde da população sejam preservadas.
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