Henrique Amorim
A proposta de criação de um Conselho Municipal Antidrogas, integrado por lideranças comunitárias, religiosas e profissionais de saúde, do Fundo Municipal de Prevenção ao Uso de Drogas e a união de autoridades e sociedade na difusão de políticas públicas de combate à proliferação da venda e consumo dos entorpecentes foram alguns dos temas debatidos na audiência pública Nova Friburgo contra as drogas, promovida na última segunda-feira, 23, na Câmara de Vereadores. A discussão, que reuniu representantes de diversos segmentos de saúde terapêutica e educacional, além de policiais civis e militares e demais entidades ligadas à segurança pública, foi proposta pelo vereador Pierre Moraes, que se diz assustado com o consumo desenfreado de drogas pela juventude que, “infelizmente, se mata aos poucos com o uso de substâncias cada vez mais corrosivas à saúde humana”.
A discussão atraiu ainda muitos jovens estudantes dos colégios Nossa Senhora das Dores e Canadá, que abordaram o tema com representantes do projeto da Polícia Civil, de prevenção e combate às drogas, Papo de Responsa, que desenvolve ações e palestras com os jovens vulneráveis à sedução do tráfico nas comunidades e também com os viciados. A audiência também contou com representantes do grupo AfroReggae, de grande participação nas ações de prevenção às drogas.
O crack, pedra derivada da cocaína, e mais recentemente o oxi, composição devastadora formada a partir do crack misturado a ácido sulfúrico, querosene e cal, que vicia mais rápido e custa mais barato (entre R$ 5 e R$ 10) também são motivos de preocupação para as autoridades. A deputada estadual Clarice Zito — presidente da Comissão da Criança, Adolescente e Idoso da Assembleia Legislativa (Alerj) — destacou a necessidade de união de forças entre os municípios e o estado. Ela enalteceu o êxito da Operação Dignidade, desenvolvida em Duque de Caxias, sua base eleitoral, que valoriza a prática desportiva entre os jovens em detrimento ao uso de drogas.
— Por trás dos viciados que se destroem, há famílias sendo destruídas. Precisamos fazer algo — disse.
O subcomandante do 11º BPM, major Alex Soliva, destacou o êxito do Programa de Erradicação das Drogas (Proerd) desenvolvido nas escolas de Nova Friburgo.
Os policiais civis integrantes do projeto Papo de Responsa, Wagner Ricardo e Roberto Chaves, questionaram a inquietude que as drogas promovem até mesmo nas esferas policiais, pois em operações de repressão, muitos colegas perderam a vida ao enfrentar o poder bélico dos traficantes nos morros cariocas.
— Recebemos denúncias que garotos de 15 anos estão armados com fuzis nas favelas. Vamos até lá e, se tivermos a sorte de capturá-los, será que esse ato é capaz de ressocializá-los? Como tentar reeducar alguém que sequer teve a oportunidade de ser educado? — inquiriu Wagner. André Santos, do Afro Reggae, também atraiu a curiosidade dos jovens com o trabalho de prevenção desenvolvido em comunidades dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro, graças à influência do grupo entre os jovens.
Também participaram da audiência expondo atividades de prevenção em suas áreas de atuação o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), Rodrigo Guimarães; Rita Scheffel, do Sindicato dos Profissionais de Educação em Escolas Particulares (Sinpro); Tânia Regina Athayde, do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe); Márcia Daflon, da Secretaria Municipal de Educação; Belini Figueiredo, da Ordem dos Advogados do Brasil; Paulo Langer, psicólogo da Clínica Santa Lúcia; Gilberto Paula, subsecretário de Assistência Social; Elaine Gomes, coordenadora de saúde mental da Fundação Municipal de Saúde; o delegado da 151ª DP, Luiz Cláudio Cruz; Landri Schettini, assessor do deputado federal Glauber Braga, além dos vereadores Cláudio Damião, Renato Abi-Râmia, Edson Flávio e Isaque Demani.
União disponibiliza mais de
R$ 90 milhões para ações antidrogas
O vereador Pierre Moraes anunciou durante a audiência que as propostas de implantação do conselho e do fundo antidrogas já haviam sido discutidas anteriormente com a Secretaria Nacional de Segurança Pública e que o governo federal já liberou R$ 91 milhões para ações de prevenção às drogas e tratamentos de dependentes químicos. Deste montante, R$ 9,47 milhões foram destinados ao Estado do Rio de Janeiro. Para Nova Friburgo usufruir de parte deste recurso é preciso ter um fundo próprio para essa função gerido por um conselho.
O governo federal também propõe a difusão de cursos de capacitação de educadores (25 mil vagas), lideranças religiosas (cinco mil vagas), policiais rodoviários e profissionais de segurança pública, prevenção ao uso de drogas no ambiente de trabalho e parcerias para tratamento de usuários de crack em centros terapêuticos com investimentos em ambulatórios para prevenção ao consumo de drogas.
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