Não é de hoje que receber correspondências no conforto do lar virou raridade para muitos friburguenses. Há pelo menos um ano, são constantes as reclamações sobre a ineficiência do serviço de entrega oferecido pelos Correios. O resultado, claro, não poderia ser outro: cresce o número de pessoas na fila do Centro de Distribuição da cidade em busca de cartas e objetos que nunca chegam ao lugar de destino.
Na tarde desta última quinta-feira, 9, por exemplo, dezenas de pessoas aguardavam no CDD do município, debaixo de sol, para conseguir retirar faturas e documentos que deveriam ter sido entregues por carteiros. Para muitos, inclusive, a prática já virou rotina.
Seu Esmeraldo Jander, de 77 anos, mora em Theodoro de Oliveira e todo mês vai ao Centro de Distribuição para pegar boletos. “As faturas só chegam lá em casa depois que vencem. Mas não dá para ficar pagando juros, né? Aí a gente vem aqui todo mês para poder retirar os boletos e pagar em dia. Temos CEP e tudo direitinho, mas desde o meio do ano passado estamos nessa situação. Hoje [quinta-feira], por exemplo, só vim a rua para pegar as contas no Correio”, conta o aposentado.
Depois de aguardar por mais de uma hora, dona Madalena Siqueira, de 60 anos, conseguiu voltar para casa com as faturas que precisava, mas ela desabafa: “Isso é um absurdo. Ficamos debaixo de sol um tempão para, no fim, pegar as cartas que eles deveriam entregar. Faz mais de um ano que tenho que fazer isso todos os meses. É revoltante”.
Leocárdio Barbosa, de 38 anos, entretanto, não teve a mesma sorte que Madalena. Pela terceira vez, saiu do local sem a correspondência que precisava. “Já estou cansado de vir aqui. Eles são pagos para fazer um serviço que não fazem e os prejudicados somos nós. Estou aguardando alguns documentos que eram para ter chegado na minha casa há dias e, simplesmente, toda vez que venho aqui eles dizem que ainda não chegou. Só tenho meu horário de almoço para vir aqui e mais uma vez vou chegar atrasado no trabalho e ir embora sem o que precisava”, relata Leocárdio.
Recorrendo à internet
Para não deixar as faturas acumularem e arcar com despesas maiores devido aos juros por atraso no pagamento, muitas pessoas passaram a recorrer a internet. O representante comercial Gutierre Knust, de 29 anos, é uma delas.
“Por já ter pago várias contas em atraso devido aos atrasos de entrega de boleto eu resolvi só usar a internet para isso. Baixo os boletos pelo site, imprimo e pago na lotérica. É o jeito. Infelizmente, nesse país nada funciona, só o Carnaval. Conversei com um carteiro uma vez e ele disse que essa confusão era por falta de funcionário. Acho que para fazer a estatal prestar seu serviço corretamente só se abrir concorrência privada para o serviço postal”, diz Gutierre.
A publicitária Bárbara Navega, de 26 anos, também usa a internet para tentar driblar os problemas com entregas. “Nunca recebo as contas certas pelo Correio, por isso, sempre pego online. Até porque, quando a correspondência chega, o que nem sempre acontece, já passou o vencimento”, conta ela. “Fico preocupada com as pessoas mais velhas que têm dificuldade no acesso à internet e ficam pagando juros após juros por causa de atrasos no pagamento”, finaliza.
Rota desviada
Esperar a conta chegar sem sucesso, ter que ir ao CDD, baixar boletos pela internet, já é um transtorno para muitos. Mas, e quando a correspondência ou encomenda simplesmente some? Uma das grandes perguntas de muitos consumidores quando o assunto “correspondências não entregues” vem à tona é: se elas não chegam em casa e não estão no Centro de Distribuição, onde foram parar?
De acordo com algumas empresas de prestação de serviço ouvidas por A VOZ DA SERRA, a devolução de boletos por entregadores dos Correios em suas sedes tem se tornado comum. Segundo os estabelecimentos, a justificativa seria a impossibilidade de entrega dos envelopes devido a uma suposta redução no quadro de funcionários dos Correios.
Em outros casos, moradores recebem correspondências de forma equivocada. “Onde moro são várias casas de uma mesma família e fica em uma servidão. Aí que o negócio complica. Não chega nada no prazo e quando o carteiro vai, ele coloca na caixinha muitas correspondências que não são nossas. Como se a gente fosse responsável por distribuir. Já aconteceu de entregarem correspondência de gente da família no outro lado do bairro”, conta a auxiliar administrativa Lidiane Sousa, de 30 anos, que mora no Catarcione, acrescentando que “costumo comprar coisas pela internet, e quando a entrega é pelos Correios, tenho dor de cabeça na certa. Eles nem se dão ao trabalho de ir entregar, e já colocam no sistema que o carteiro não foi atendido, sendo que tinha gente em casa para receber. Isso é muito irritante”, reclama ela.
Há ainda relatos sobre descarte de cartas em locais públicos. “Às vezes, as correspondências não chegam e a gente não sabe o motivo. Mas esses dias fiquei assustada. Estava andando pela calçada Rua Coronel Zamith, embaixo do viaduto, e me deparei com um bueiro cheio de cartas. Eram tantas correspondências que nem precisava de muito esforço para enxergar”, conta a manicure Yasmin Souza.
Em nota enviada ao A VOZ DA SERRA, a assessoria dos Correios no Rio de Janeiro afirmou que para reforçar a equipe da unidade, os Correios contrataram recentemente 10 funcionários temporários para o Centro de Distribuição Domiciliar Nova Friburgo (CDD Nova Friburgo). Ainda de acordo com empresa pública, “atualmente, o CDD Nova Friburgo possui 42 empregados próprios e 10 temporários, e não há nenhum empregado desta unidade inscrito para sair no Plano de Desligamento Incentivado (PDIA)”.
Sobre a devolução de boletos para empresas, a assessoria afirmou que a informação não procede, alegando que “os Correios somente devolvem a correspondência ou boleto à empresa remetente quando a entrega ao destinatário não foi possível ser realizada por motivo de endereço inexistente ou incompleto. Neste caso, cabe à empresa remetente confirmar e corrigir o endereçamento antes da próxima postagem ao cliente”.
Ainda questionados sobre a demora na entrega de correspondências em domicílio, os Correios, entretanto, não se pronunciaram.
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