Bruno Pedretti
Conforme A VOZ DA SERRA vem noticiando desde a catástrofe em Nova Friburgo, em janeiro, um dos bairros mais gravemente afetados foi Córrego Dantas. Desde então, através de cartas e e-mails ao jornal, moradores reivindicam melhores condições para o bairro. Muitos perderam suas casas, automóveis e até mesmo o emprego — pois residiam e trabalhavam no bairro, que abrigava fábricas e confecções, gerando emprego e movimentando a economia do município.
O que se vê no bairro hoje, quase três meses após a catástrofe, ainda é lama, muita lama e escombros. Valetas foram abertas pela força das águas e rolaram pedras de montanhas até então cobertas pela vegetação. O lugar foi devastado tanto pelas águas do Córrego Dantas quanto pelos deslizamentos dos morros ao redor — que até então pareciam não oferecer problemas, tanto é que a localidade nunca foi considerada área de risco.
Em Córrego Dantas todos foram atingidos, direta ou indiretamente, num retrato fiel da proporção da tragédia na cidade. Os moradores reclamam que não vem sendo dada a atenção devida e necessária para a reconstrução do bairro — e para que a população vislumbre ao menos esperança de um recomeço. Diversos leitores têm enviado cartas à redação de A VOZ DA SERRA diariamente, com queixas diversas em relação ao bairro. Uma delas trata-se da limpeza, que os próprios moradores do Córrego Dantas têm sido obrigados a realizar; outras abordam os problemas das casas que estão para serem demolidas e ainda não foram, gerando apreensão à comunidade, principalmente porque o período de chuvas ainda não cessou.
Segundo moradores, existem máquinas trabalhando em algumas ruas, mas ainda não é o suficiente. Também segundo eles, as máquinas que retiram os entulhos estão jogando estes em lugares inadequados, e quando a chuva vem os problemas aparecem novamente. “Às vezes parece que estão brincando. Tiram o entulho de um lado e jogam para o outro, e assim vai o dia todo, até que vem a chuva e volta o entulho todo para o rio”, denunciou, através de e-mail, a leitora Gisele Macário.
Segundo Gisele, a entrada da Rua Luiz Shottz, em frente ao Hotel Vila Verde, está interditada desde fevereiro devido a um buraco que os responsáveis pelas obras no Córrego Dantas abriram para a troca de manilhas, e até hoje não foi solucionado. “A nossa maior preocupação com esse abandono é com os idosos, pois com esse buraco os carros ficam ilhados, ou em suas garagens, sem poder sair, ou correndo risco de furtos, pois ficam estacionados no asfalto. Caso um idoso ou criança precise ser levado ao médico, por onde será o acesso?”, indaga Gisele.
Também segundo denúncias de moradores, um matadouro está com carne apodrecendo desde a enchente, gerando um mau cheiro terrível no bairro e colocando em risco a saúde de todos. A maioria das casas está sem segurança, pois muitos muros foram derrubados com a violência das águas. “Não podemos reconstruir os muros, pois os entulhos tomam conta das calçadas, tanto os entulhos que foram trazidos pelas chuvas, quanto os que as máquinas colocam pelas ruas. Com isso ficamos desprotegidos e correndo risco de sermos assaltados”, salienta Gisele.
Inúmeras histórias foram enterradas no bairro junto com as barreiras e os sobreviventes da tragédia pedem ao poder público o mínimo de condições para se reestruturar e seguir em frente. Um depoimento marcante foi o do morador aposentado Joel Bayer, que está tendo que catar lixo para conseguir dinheiro. “Necessitamos de condições básicas para viver, de água para cozinhar, para tomar banho. Estamos tendo que nos banhar com a água da chuva, nos córregos e poços daqui”, revelou o morador na edição de 14 de março. De acordo com outros relatos, a situação ainda não melhorou e, quanto mais tempo passa, pior fica.
Deixe o seu comentário