Era uma tarde de domingo na distante Ji-Paraná, em Rondônia, quando ouvi falar pela primeira vez das propriedades mágicas da copaíba. Entre aguardentes envelhecidos em guizo de serpentes, o feiticeiro me falou sobre o clarão amarelo que iluminava a mata nas noites de lua cheia de agosto: era o óleo da copaíba que subia da terra para as árvores. Repleto de propriedades curativas, o óleo amarelado passava a habitar e se acumular no tronco até que este, tão inchado, se rompesse deixando vazar pequenas quantidades do óleo. Neste tronco oleoso, os animais se roçavam para cicatrizar as feridas das lutas por território. Suas sementes possuem um cheiro adocicado de cumarina que é sentido à distância. Os animais a sentem a vão se alimentar, mas os caçadores também vão, e as copaíbas são conhecidas como “árvores de espera” de caça.
Nas estradas repletas de seringueiras e castanheiras, o caboclo amazônico aprendeu a localizar as copaíbas nas suas longas caminhadas em busca dos recursos vegetais da estação, que o mantém na floresta e que, assim, mantém a floresta em pé, diante das pressões do agronegócio e da grilagem.
Estes óleos coletados pelos silvícolas são comercializados em todo o país com os mais diversos usos, de secativo para pinturas a medicinal. Suas propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias foram relatadas pelos primeiros jesuítas que estiveram no Brasil, como José de Anchieta. À época, o óleo era usado para o tratamento de convulsões e picadas de cobra; para prevenir o tétano e para tratar a herpes. Atualmente, a ciência comprova principalmente as propriedades anti-inflamatórias e antitumorais dos óleos de copaíba. Mas, nem todos. Há variações na composição química destes óleos que influenciam suas atividades farmacológicas. E, além disso, é difícil saber se o óleo comprado nas farmácias ou mercados populares está puro ou misturado a óleo de soja.
Nos nossos tempos (globalizados) as pressões do mercado tendem a acabar com a magia das nossas origens, dos nossos antepassados, que conheciam como ninguém os recursos vegetais. Cabe a nós preservar as florestas como o Cerrado, a Floresta Amazônica e também a Mata Atlântica, locais únicos no mundo, onde as copaíbas podem ser encontradas.
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