No momento atual em que o país atravessa mais uma greve dos bancos privados e públicos ocasionando diversos transtornos aos brasileiros vale uma reflexão sobre as cooperativas de crédito no Brasil.
No Brasil, as cooperativas de crédito apresentam uma história de mais de 100 anos e atualmente representam 1.8% do sistema financeiro nacional que beneficia mais de 4 milhões de brasileiros em mais de 1400 cooperativas de crédito.
No cenário mundial, vários países desenvolvidos apresentam o sistema de cooperativismo de crédito consolidado. Na Alemanha, o cooperativismo de crédito representa em torno de 20% do sistema financeiro do país. No Canadá, a maior parte das agências que atendem o público são cooperativas de crédito. Na França, o banco cooperativo “Credit Agricole” é a maior instituição financeira do país. A “Caja Laboral” é a segunda instituição financeira da Espanha.
A consolidação do sistema no Brasil veio com a Lei Complementar nº 130 de 17 de abril de 2009 que regula o cooperativismo de crédito e define claramente que estas cooperativas destinam-se, precipuamente, a prover, por meio da mutualidade, a prestação de serviços financeiros a seus associados, sendo-lhes assegurado o acesso aos instrumentos do mercado financeiro.
A Cooperativa de crédito é uma ótima alternativa que o cidadão brasileiro pode utilizar diante do precário atendimento e alto custo dos serviços oferecidos pelos bancos privados e públicos. Na realidade, ela oferece soluções financeiras para seus cooperados com menor custo e atendimento muito mais eficiente.
A cooperativa de crédito difere dos bancos, pois os recursos captados são repassados aos cooperados e consequentemente ficam na própria região. As destinações dos resultados financeiros chamados sobras são decididas democraticamente pelos seus cooperados numa Assembléia anual. Trata-se de um enorme diferencial quando comparados aos bancos que não devolvem seus lucros aos correntistas e muitas vezes os enviam para regiões distantes e até ao exterior. Em termos práticos, a cooperativa funciona como uma instituição financeira regional que atende seus associados que vivem na sua área de atuação e que recebem uma prestação de serviços financeiros de maneira mais eficaz e agilizada.
Ao se cooperar, o cidadão se torna proprietário da instituição e além de receber a prestação de serviços financeiros participará de um projeto sócio-econômico regional e como dono terá direito a participar da assembléia realizada anualmente e consequentemente das decisões sobre o destino da cooperativa. O cooperado terá acesso a todos os serviços financeiros oferecidos pela sua cooperativa como conta corrente, talão de cheque, pagamento de boleta, financiamentos e empréstimos diversos, aplicações financeiras com remunerações atrativas, internet banking, cartões de débito e crédito entre outros serviços. O diferencial é que toda participação do cooperado vai gerar resultado financeiro positivo na cooperativa e este resultado será revertido em seu benefício. Na assembléia anual, quando são apresentados os resultados financeiros, o cooperado decidirá o destino financeiro das “sobras” através de voto igualitário. Cada cooperado tem direito a um voto, independente do seu capital. A distribuição das sobras será realizada com base no volume de negócios realizados por cada cooperado e a partir desse montante será decidido quais valores ficarão na instituição para o seu fortalecimento, quais que se destinarão à reserva técnica e o que se destinará para distribuição por cada cooperado.
Toda cooperativa de crédito é regulamentada pelo Banco Central que através de supervisão rigorosa exige fortes controles para sua operacionalização como controles internos, sistema de avaliação de risco (risco de mercado, de crédito, de liquidez e risco operacional), auditorias independentes e com máxima transparência da gestão. Vale ressaltar que essas exigências são frutos da evolução e amadurecimento do cooperativismo de crédito e traz como conseqüência a sua consolidação no Brasil.
Merece destaque no cooperativismo de crédito o Sistema Unicred. No Estado do Rio de Janeiro, a primeira Unicred foi fundada há cerca de vinte anos. Ela surgiu com o objetivo de ser o braço financeiro do sistema Unimed (vale lembrar que a Unimed é uma cooperativa de trabalho médico que se consolidou ao longo desses anos como um exemplo mundial de organização bem sucedida no que tange a uma classe profissional, os médicos). O objetivo era simples: um grupo de pessoas se juntariam para formar uma cooperativa de crédito com o objetivo de propiciar crédito e prestar serviços financeiros de modo mais simples e vantajoso para seus associados.
Atualmente, a Unicred conta no seu quadro social não somente com a Unimed e seus médicos cooperados, mas também com os seguintes profissionais da área de saúde: médicos, dentistas, farmacêuticos, enfermeiros, veterinários, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, profissionais de educação física, biólogos, terapeutas ocupacionais e nutricionistas; bem como pessoas jurídicas como hospitais, laboratórios, clínicas, farmácias entre outras instituições ligadas à saúde. A Unicred conta com 119 singulares distribuídas em 24 estados, com mais de 423 postos de atendimento ao cooperado, 9 centrais e sua confederação com sede em São Paulo.
Apesar dos números expressivos, cada singular atende uma determinada região e o cooperado é atendido de maneira personalizada percebendo os benefícios da cooperativa. Ele não é um número de conta corrente a ser atendido por um funcionário distante atrás de um balcão. O cooperado se sente participando de um processo bem sucedido de confiança, solidariedade e mutualidade. Os objetivos continuam os mesmos e cada cooperado pode se orgulhar de não ser refém dos bancos privados e públicos. Muito se tem a caminhar neste país. Procure se informar sobre o cooperativismo de crédito e sua evolução ao longo dos anos.
Médico Cirurgião Geral.
Diretor Administrativo da Unicred Nova Friburgo.
Diretor Regional da Central das Unicreds do Estado do Rio de Janeiro.
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