O que define um grande evento? O que o torna grande? O número de pessoas envolvidas? O orçamento mobilizado? O impacto financeiro? A cobertura midiática? Repercussão nas redes sociais?
Tais questionamentos se tornam inevitáveis quando, numa manhã de sexta-feira, perdidas numa sala qualquer de um campus projetado originalmente para ser uma fábrica, algumas das mentes mais brilhantes do cenário científico nacional debatem sobre temas e desafios que se encontram na fronteira do conhecimento humano.
Quando, sem alarde, sem custos vultuosos, sem filas para comparecimento, sem grande interesse da imprensa e num ambiente silencioso o bastante para que o repórter pudesse finalmente descobrir que sua câmera fotográfica emite um som baixíssimo quando está ligada, 20 testemunhas têm o privilégio de ver o processo de educação completar seu arco. De ver o anseio pelo conhecimento e o compromisso com a missão do magistério se sobrepondo à falta de estímulos financeiros, à falta de infraestrutura básica, à falta de respeito, de visão e de vergonha de quem deveria financiar todo este processo.
O que pode ser mais importante, mais digno de nota, do que uma aula dada em sua excelência, apesar de todo o descalabro que aflige nosso sistema científico-educacional? Do que a voz suave e as palavras didáticas, generosas e absolutamente geniais da professora e pesquisadora Márcia Begalli, diante de uma turma de alunos atentos e participativos? O que pode ser mais forte e atraente do que a ciência de ponta sendo traduzida e compartilhada de forma compreensível, como só uma mulher seria capaz de fazer?
Para alguém familiarizado às pesquisas de natureza subatômica, como o professor Bernardo Sotto-Maior — principal responsável pelo fato de a conferência anual ter sido realizada em Nova Friburgo na semana passada —, o evento foi um sucesso.
“O balanço final foi bastante positivo. Conseguimos cobrir toda a agenda de apresentações, discussões e planejamento das atividades da colaboração Atlas/Brasil. Além disso, tivemos também uma excelente recepção por parte de pesquisadores, professores, tanto do IPRJ (Instituto Politécnico do Estado do Rio de Janeiro) como de outros institutos da região. A expectativa é de que, com o envolvimento de mais pesquisadores, possamos crescer como um grupo desenvolvendo pesquisa de ponta em Nova Friburgo. E, naturalmente, o desenvolvimento da pesquisa impacta diretamente na formação de alto nível dos alunos que desenvolvem e participam dos projetos”, observa o professor.
Já para um leigo, como este repórter, o impacto foi diferente, embora não menos tocante. Em tempos marcados pelo desencanto e por uma profunda carência de lideranças morais não eleitoreiras, ver que ainda existem pessoas dispostas a levar uma vida de sacrifícios em nome de princípios e ideais é o tipo de experiência que renova a esperança no ser humano. Da mesma forma, a profundidade e a clareza do conhecimento transmitido aos presentes faz recordar a atração exercida pelo conhecimento, pelo aprendizado, ao mesmo tempo em que atesta que vale a pena — e é preciso — investir nas pessoas. Em todas elas. E a falta de afrodescendentes e a pequena quantidade de mulheres presentes no evento devem nos dizer muito sobre o quanto estamos longe de alcançarmos este meta.
Fica a esperança, contudo, de que boas sementes tenham sido plantadas, e possam ser passadas adiante quando os alunos de hoje derem as aulas de amanhã. Assim, quem sabe, encontro de quilate equivalente possa ser acompanhado no futuro por contingente muito maior e mais representativo de pessoas. E talvez até movimente um orçamento maior, repercuta em redes sociais e ganhe uma cobertura midiática mais digna...
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