Contagem regressiva para a comemoração dos 200 anos de Nova Friburgo

Entidades civis e famílias descendentes organizam agendas de eventos reunindo cidadãos de Fribourg e Nova Friburgo
sábado, 14 de maio de 2016
por Ana Borges
Contagem regressiva para a comemoração dos 200 anos de Nova Friburgo
Periodicamente, uma família de origem suíça, ou de outra nacionalidade que formou a “nação” friburguense, promove um Encontro da Família, um costume tradicional entre os milhares de descendentes em Nova Friburgo. Neste sábado, 14, são os Thurler que se reúnem no Espaço Minha Glória, em Banquete.

É essa chama que pretendemos manter acesa

Geraldo Thuler

Faltando apenas dois anos para completar 200 anos da fundação de Nova Friburgo, descendentes dos primeiros suíços a pisar em solo brasileiro trabalham para oferecer à cidade uma festa à altura de sua importância na criação deste município. Segundo Geraldo Thuler, da Associação Nova Friburgo-Fribourg, os associados residentes na Suíça estão organizando uma excursão com 400 pessoas para o aniversário da cidade, em 2018.

Com apoio do Consulado Geral da Suíça no Rio de Janeiro e da Embaixada da Suíça, pelo terceiro ano consecutivo a associação vem mantendo contatos para estreitar os laços entre os dois países e planejar uma agenda comum. “Em 2014 recebemos a Banda Militar Suíça, com as presenças do cônsul e do embaixador André Reagli, o que por si só é uma clara demonstração da importância do nosso município para aquele país. Ano passado repetimos o evento, novamente em parceria com o cônsul, que promoveu uma Mostra de Cinema Suíço, e trouxe integrantes a Guarda Suíça do Vaticano”, relembra.

O grupo de música e dança folclórica La Farandole, formado por 34 componentes, já confirmou presença em Friburgo, este ano, para comemorar o Dia Nacional da Suíça, em 1º de agosto. Através da Associação Nova Friburgo-Fribourg e da Casa Suíça, os intercâmbios entre as duas cidades se intensificaram e a cada ano aumenta o fluxo de brasileiros e suíços, enaltecendo os traços culturais de cada país. O evento deste ano se estenderá por todo o mês de agosto rumo às comemorações pelos 200 anos de Friburgo.

 

Uma história friburguense

“A trajetória dos Thuler tem uma curiosidade que a torna singular a partir da vida de Anne Marie, filha de um personagem que se insurgiu contra a ordem vigente em seu país, foi condenado à morte e se tornou um herói”, conta Geraldo. Ela acabou vindo para o Brasil na leva de imigrantes de 1819, carregando em si o legado do pai. “Talvez tenha sido a primeira refugiada política a entrar no país. Por outro lado, a minha bisavó era negra e descendo também de portugueses. Quer dizer, a nossa história é tipicamente brasileira, em se tratando de sua miscigenação”, continua.

Tão abrangente quanto a sua integração com outros colonizadores, era o espírito de união cultivado pelos suíços o forte sentimento de solidariedade que havia entre eles e que se perpetuou nas gerações seguintes. “Outro dia estava conversando com um irmão, que está completando 70 anos, e falamos desse caráter. Nós somos dez irmãos, alguns filhos biológicos e outros que foram incorporados à família. Se havia alguém em dificuldade, meus pais acolhiam, amparavam”.

O pai, seu Manoel Geraldo Thuler, era um homem empreendedor que não perdia tempo lamentando o que não dava certo. Quando enfrentou problemas no seu negócio, que era produção agrícola, ele partiu para a área de construção e expandiu para outros segmentos afins. “Sem deixar de lado a questão da unidade familiar, algo sempre muito presente em todos nós. Ele ajudou os irmãos, construiu casas, foi juntando todo mundo, e isso fortaleceu nossos sentimentos em relação à família e ao próximo. Foi dessa união que surgiu a Thulerflex (indústria), pelas mãos de um tio, que tinha essa mesma capacidade de luta, de não se deter diante de obstáculos. Nós aprendemos a olhar para a frente”.

A enxurrada que devastou Friburgo em 2011 destruiu a Praça das Colônias, na Praça Suspiro, soterrou o restaurante e  inundou as lojas de lama. A maneira que a família Thuler encontrou para enfrentar aquele ano dramático foi realizar, naquele espaço, a festa da Colônia Suíça. “Em agosto decidimos homenagear o Dia Nacional da Suíça, como fazíamos todos os anos. Conseguimos apoio do Corpo de Bombeiros, da empresa que estava tirando entulhos, limpamos o que foi possível e fizemos o evento. Era a nossa maneira de mostrar que não podíamos cruzar os braços e aceitar aquele estado de coisas, de abandono. A Praça do Suspiro sempre foi um ponto turístico e histórico importante, com uma capela (de Santo Antônio, construída em 1884 e reconstruída em 2012), um teatro municipal (Laercio Ventura), uma fonte (do Suspiro, construída em 1820 e reconstruída em 2014), símbolos de várias épocas da história de Nova Friburgo. É essa chama que pretendemos manter acesa, não deixar que essa memória se perca. Penso que esse é o espírito não só da nossa família, mas do friburguense, de modo geral”, conta Geraldo Thuler.

Os suíços e o “novo mundo”

Os suíços foram os primeiros imigrantes europeus a se estabelecerem no Brasil, depois dos portugueses, entre 1819-1820, oriundos do cantão de Fribourg. O destino final das 261 famílias, num total de 1.682 imigrances, era o município de Cantagalo, precisamente a Fazenda do Morro Queimado (atual Nova Friburgo), no “novo mundo”. Os colonos foram atraídos para as serras do Rio de Janeiro por Dom João VI, com o intuito de povoar e europeizar a região. Hoje seus descendentes são encontrados aos milhares por toda a serra fluminense, miscigenados com portugueses, negros, italianos, espanhóis, alemães, etc.
Entre os benefícios trazidos pelos suíços, Geraldo destaca as técnicas agrícolas e a fotografia, atividades bem desenvolvidas em seu país. “Eles cultivavam seus alimentos com a preocupação de preservar a natureza, evitando ao máximo a destruição do meio ambiente. Tinham respeito pela natureza. E consta que o primeiro clube de fotografia no Brasil foi criado por eles, aqui, em Friburgo. A fotografia era bem desenvolvida na Europa e a Suíça incentivava a população a registrar imagens de suas famílias, ruas, monumentos, paisagens. Muitos trouxeram suas máquinas para continuar fotografando e desenvolvendo novas técnicas”.

Serviço:

O Encontro da Família Thurler 2016 terá início às 10h30 e se estenderá até 17h30 (participação por adesão). Outras informações com Geraldo Thuler: (22) 9 9911 5679 / 2523 0465, ou geraldothulerf@gmail.com.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: 16 de maio | colônia suíça | aniversário
Publicidade