É essa chama que pretendemos manter acesa
Faltando apenas dois anos para completar 200 anos da fundação de Nova Friburgo, descendentes dos primeiros suíços a pisar em solo brasileiro trabalham para oferecer à cidade uma festa à altura de sua importância na criação deste município. Segundo Geraldo Thuler, da Associação Nova Friburgo-Fribourg, os associados residentes na Suíça estão organizando uma excursão com 400 pessoas para o aniversário da cidade, em 2018.
Com apoio do Consulado Geral da Suíça no Rio de Janeiro e da Embaixada da Suíça, pelo terceiro ano consecutivo a associação vem mantendo contatos para estreitar os laços entre os dois países e planejar uma agenda comum. “Em 2014 recebemos a Banda Militar Suíça, com as presenças do cônsul e do embaixador André Reagli, o que por si só é uma clara demonstração da importância do nosso município para aquele país. Ano passado repetimos o evento, novamente em parceria com o cônsul, que promoveu uma Mostra de Cinema Suíço, e trouxe integrantes a Guarda Suíça do Vaticano”, relembra.
O grupo de música e dança folclórica La Farandole, formado por 34 componentes, já confirmou presença em Friburgo, este ano, para comemorar o Dia Nacional da Suíça, em 1º de agosto. Através da Associação Nova Friburgo-Fribourg e da Casa Suíça, os intercâmbios entre as duas cidades se intensificaram e a cada ano aumenta o fluxo de brasileiros e suíços, enaltecendo os traços culturais de cada país. O evento deste ano se estenderá por todo o mês de agosto rumo às comemorações pelos 200 anos de Friburgo.
Uma história friburguense
“A trajetória dos Thuler tem uma curiosidade que a torna singular a partir da vida de Anne Marie, filha de um personagem que se insurgiu contra a ordem vigente em seu país, foi condenado à morte e se tornou um herói”, conta Geraldo. Ela acabou vindo para o Brasil na leva de imigrantes de 1819, carregando em si o legado do pai. “Talvez tenha sido a primeira refugiada política a entrar no país. Por outro lado, a minha bisavó era negra e descendo também de portugueses. Quer dizer, a nossa história é tipicamente brasileira, em se tratando de sua miscigenação”, continua.
Tão abrangente quanto a sua integração com outros colonizadores, era o espírito de união cultivado pelos suíços o forte sentimento de solidariedade que havia entre eles e que se perpetuou nas gerações seguintes. “Outro dia estava conversando com um irmão, que está completando 70 anos, e falamos desse caráter. Nós somos dez irmãos, alguns filhos biológicos e outros que foram incorporados à família. Se havia alguém em dificuldade, meus pais acolhiam, amparavam”.
O pai, seu Manoel Geraldo Thuler, era um homem empreendedor que não perdia tempo lamentando o que não dava certo. Quando enfrentou problemas no seu negócio, que era produção agrícola, ele partiu para a área de construção e expandiu para outros segmentos afins. “Sem deixar de lado a questão da unidade familiar, algo sempre muito presente em todos nós. Ele ajudou os irmãos, construiu casas, foi juntando todo mundo, e isso fortaleceu nossos sentimentos em relação à família e ao próximo. Foi dessa união que surgiu a Thulerflex (indústria), pelas mãos de um tio, que tinha essa mesma capacidade de luta, de não se deter diante de obstáculos. Nós aprendemos a olhar para a frente”.
A enxurrada que devastou Friburgo em 2011 destruiu a Praça das Colônias, na Praça Suspiro, soterrou o restaurante e inundou as lojas de lama. A maneira que a família Thuler encontrou para enfrentar aquele ano dramático foi realizar, naquele espaço, a festa da Colônia Suíça. “Em agosto decidimos homenagear o Dia Nacional da Suíça, como fazíamos todos os anos. Conseguimos apoio do Corpo de Bombeiros, da empresa que estava tirando entulhos, limpamos o que foi possível e fizemos o evento. Era a nossa maneira de mostrar que não podíamos cruzar os braços e aceitar aquele estado de coisas, de abandono. A Praça do Suspiro sempre foi um ponto turístico e histórico importante, com uma capela (de Santo Antônio, construída em 1884 e reconstruída em 2012), um teatro municipal (Laercio Ventura), uma fonte (do Suspiro, construída em 1820 e reconstruída em 2014), símbolos de várias épocas da história de Nova Friburgo. É essa chama que pretendemos manter acesa, não deixar que essa memória se perca. Penso que esse é o espírito não só da nossa família, mas do friburguense, de modo geral”, conta Geraldo Thuler.
Os suíços e o “novo mundo”
Os suíços foram os primeiros imigrantes europeus a se estabelecerem no Brasil, depois dos portugueses, entre 1819-1820, oriundos do cantão de Fribourg. O destino final das 261 famílias, num total de 1.682 imigrances, era o município de Cantagalo, precisamente a Fazenda do Morro Queimado (atual Nova Friburgo), no “novo mundo”. Os colonos foram atraídos para as serras do Rio de Janeiro por Dom João VI, com o intuito de povoar e europeizar a região. Hoje seus descendentes são encontrados aos milhares por toda a serra fluminense, miscigenados com portugueses, negros, italianos, espanhóis, alemães, etc.Geraldo Thuler
Entre os benefícios trazidos pelos suíços, Geraldo destaca as técnicas agrícolas e a fotografia, atividades bem desenvolvidas em seu país. “Eles cultivavam seus alimentos com a preocupação de preservar a natureza, evitando ao máximo a destruição do meio ambiente. Tinham respeito pela natureza. E consta que o primeiro clube de fotografia no Brasil foi criado por eles, aqui, em Friburgo. A fotografia era bem desenvolvida na Europa e a Suíça incentivava a população a registrar imagens de suas famílias, ruas, monumentos, paisagens. Muitos trouxeram suas máquinas para continuar fotografando e desenvolvendo novas técnicas”. Serviço: O Encontro da Família Thurler 2016 terá início às 10h30 e se estenderá até 17h30 (participação por adesão). Outras informações com Geraldo Thuler: (22) 9 9911 5679 / 2523 0465, ou geraldothulerf@gmail.com.
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