Consumidores mais cautelosos adotam controle de gastos visando 2017

Quitação de dívidas, consumo, viagens — o que você vai fazer com o 13º salário?
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
por Ana Borges
Danielle Murizini já se decidiu: “Nesse Natal, vou ser o meu próprio Papai Noel” (Foto: Ana Borges)
Danielle Murizini já se decidiu: “Nesse Natal, vou ser o meu próprio Papai Noel” (Foto: Ana Borges)

Os trabalhadores de Nova Friburgo com carteira assinada, mais os aposentados e pensionistas do INSS, aguardam ansiosos o 13º salário, como sempre, mas não pelos motivos já consagrados ao longo dos tempos, isto é, comprar presentes, fazer ‘aquele’ Natal — o dinheiro extra do fim de ano será usado para pagar dívidas, zerar contas atrasadas. 

Por lei, a forma de pagamento deve ser dividida em duas parcelas: a primeira entre o dia 1º de fevereiro até 30 de novembro; e a segunda parcela até o dia 20 de dezembro, tendo como base de cálculo o salário de dezembro menos o valor da primeira parcela.

Na imensidão deste país, com seus mais de 5.500 municípios, servidores públicos sortudos de algumas cidades não atingidas pela crise, assim como funcionários de empresas privadas, foram brindados com o adiantamento da primeira parcela do 13º salário, ao longo do ano. O que ajudou a otimizar as economias locais, principalmente de capitais, com a injeção de até alguns bilhões de reais. 

Para a gerente de salão de beleza, Sônia Maria Teixeira Corguinha, 54 anos, sua prioridade com o 13º salário é se presentear neste Natal. “Trabalhei demais este ano, seis dias por semana. Não tive feriadão, nenhuma viagenzinha, nem pro Rio ou Cabo Frio, porque além de estar economizando, eu aproveitava uma folga ou o domingo para arrumar, a casa, lavar, passar, cozinhar. Portanto, é mais do que justo ser a minha própria prioridade. Não tenho dívidas, nem filho para criar, então, vou tratar de ser feliz neste fim de ano”, revelou, de forma contundente e sem culpa.    

Cautela, bom senso e canja de galinha

Por outro lado, o endividamento e inadimplência de uma imensa maioria da população brasileira, sem dúvida, vai exigir cautela e bom senso nas festas de fim de ano. O que se lê e vê em reportagens de todo tipo de mídia é que milhões de consumidores vão utilizar o recurso extra para saldar as dívidas. De todo tipo. O percentual de famílias que vêm deixando de pagar faturas, como de condomínio, telefone, internet, TV a cabo, etc, vem crescendo, mês a mês, de acordo com levantamento de sites de economia doméstica. 

Para José Antônio Francisco de Almeida, 76 anos, aposentado, assim como a mulher, o 13º de ambos será usado para acertar contas atrasadas e estocar alimentos não perecíveis e remédios. “Esse ano não vamos comprar nenhum presente, nem para filho, nem para neto. Vamos participar e colaborar para uma ceia decente, manter o espírito de Natal, e já está muito bom. Não tenho bom pressentimento com 2017. Acho que vai piorar e vivo avisando meus filhos para não se endividarem. Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, brincou.     

Em tempos menos bicudos, o setor que mais fatura em dezembro é o de eletroeletrônicos. Kelly Alves, 30 anos, zeladora, já usou a primeira parcela do 13º para visitar os pais, que moram em outro município, e ajudá-los financeiramente. “Agora, nas folgas, tenho feito faxinas em lojas para juntar um dinheiro para gastar comigo mesma. O restante da segunda parte do 13º vou guardar. Mas, esse extra que estou ralando para ganhar vou gastar com presentes pra mim, algum eletroeletrônico, um celular legal, coisas do tipo. Eu mereço”, disse, enfática. 

Neste cenário de recessão, no que diz respeito a sistema bancário, quase ninguém fala em poupança. No máximo se referem a renegociação de dívidas, na tentativa de livrar o orçamento apertado do peso das mensalidades. “Tenho um financiamento estudantil, já estou pagando há cinco anos e é um estresse, me faz muita falta. Como devo receber parte de uma herança de família, vou pegar tudo e ver se dá para liquidar isso. Vou pechinchar muito até conseguir um desconto bem grande, o suficiente para zerar o que devo”, disse uma fisioterapeuta em início de carreira, que pediu anonimato.  

A gerente de loja Danielle Murizini, 35 anos, solteira e sem filhos, não tem dívidas. Está tranquila, não vai se “pendurar em carnês” nem deixar conta para 2017. “Vou entrar no ano novo com tudo em dia e bem presenteada, porque resolvi não dar presentes a não ser para mim mesma. Quando avisei parentes e amigos que esse ano não ia ter nem lembrancinhas, a reação foi de alívio!”, conta, rindo, ao descobrir que muitos estavam pensando como ela, mas meio que com vergonha de confessar. “Gente, em tempos como esses que estamos vivendo, vamos ser realistas, e, principalmente, responsáveis”, completou Danielle.  

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TAGS: economia
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