Conselho Municipal de Saúde encontra mais irregularidades no Raul Sertã

Lavanderia sem tomadas nem instalação hidráulica faz com que roupa tenha que ser higienizada em Casimiro de Abreu, diz conselheiro
sexta-feira, 06 de dezembro de 2019
por Jornal A Voz da Serra
A lavanderia com equipamentos que não podem ser ligados (Fotos: Adriano Machado/ Conselho Municipal de Saúde)
A lavanderia com equipamentos que não podem ser ligados (Fotos: Adriano Machado/ Conselho Municipal de Saúde)

Membro do Conselho Municipal de Saúde de Nova Friburgo, onde representa a Cruz Vermelha, o advogado Adriano Machado é mais um integrante da entidade a denunciar precariedades e irregularidades no Hospital Municipal Raul Sertã, após visita à unidade.  Segundo ele, que também é eletrotécnico e técnico em automação industrial, a rede elétrica do Raul Sertã (foto) não tem capacidade para suportar os equipamentos instalados no hospital, o que expõe a maior emergência da região a risco de curto-circuito e até incêndios.

Ainda segundo a denúncia que ele apresentou ao Conselho de Saúde, mesmo após a chegada de novos equipamentos, a lavanderia do Raul Sertã não tem sequer tomadas para ligá-los à rede elétrica. O setor também não tem rede hidráulica instalada, e por isso a higienização de roupas usadas em cirurgias está sendo feita, segundo ele, em Casimiro de Abreu, por uma empresa terceirizada. Com isso, segundo Adriano, novas cirurgias não estariam sendo marcadas e as agendadas estão sendo canceladas.

O conselheiro informou ainda que há pacientes nos leitos aguardando há 45 dias cirurgias que não foram realizadas por falta de material. "O Raul Sertã possui apenas quatro kits cirúrgicos de emergência. Caso aconteça algum acidente de ônibus, por exemplo, e se for preciso operar cinco pessoas, a quinta vítima  não poderá ser operada por falta de material", afirmou. Ainda segundo ele, como não há classificação de risco, os pacientes que chegam ao hospital esperam em média de duas a quatro horas apenas para o atendimento inicial. Também não há profissional de saúde para procedimentos elementares como aferir pressão arterial. "O básico do básico não tem", disse Adriano.

O Conselho Municipal de Saúde ainda oficiará a Secretaria Municipal de Saúde sobre as denúncias. 

O que diz a prefeitura

Através de nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a denúncia "não é reconhecida pelos próprios membros pertencentes ao Conselho Municipal de Saúde. Devido às informações repassadas ao jornal, levantando comentários nada construtivos, reprováveis, sem expressar a real veracidade dos fatos, além de desfigurar informações sérias para divulgar para a população, a Secretaria Municipal de Saúde encaminhou um ofício ao Conselho Municipal de Saúde para saber se o suposto membro citado no pedido desta nota é, de fato, representante do órgão. A Secretaria de Saúde encaminhou, ainda, ofício à subseção local da OAB questionando se a visita ocorreu em nome da Comissão de Saúde. Tendo estas informações, medidas  que se fizerem necessárias serão tomadas a respeito do lamentável episódio ocorrido", diz a nota.

Adriano Machado (foto), por sua vez, postou nas redes sociais um vídeo onde reafirma seu dever de fiscalizar a saúde friburguense, rechaça motivações políticas e nega que queira se candidatar nas eleições do ano que vem. “Não sou candidato a nada. Sou totalmente contra as pessoas que usam a saúde para se promover. Estou apenas tentando resolver alguma coisa, ajudar. Não dependo da prefeitura para nada, não quero ganhar boquinha no governo”, diz ele no vídeo.

Estado insalubre

Na semana passada A VOZ DA SERRA mostrou denúncias feitas por outro membro do Conselho Municipal de Saúde, Edmilson Schneider, coordenador de comunicação da entidade. Fotos tiradas por ele de uma enfermaria do Raul Sertã mostram o estado “insalubre” das instalações, em condições deploráveis para uma unidade de saúde. Próximos aos leitos dos pacientes - entre eles um rapaz que, segundo ele, aguardava procedimento de biópsia em um dos pulmões - havia paredes com infiltrações e descascadas, soltando reboco; rodapés infestados de cupins; piso emborrachado descolando; e mofo no teto.

Em nota, na ocasião, a Secretaria de Saúde reconheceu, neste caso, que “algumas alas do Raul Sertã estão com a conservação fora do padrão ideal”. A prefeitura alegou que a estrutura do hospital é muito antiga - completará 100 anos em maio de 2020 - e que, por conta disso, “vem passando por importantes reformas estruturais”. A secretaria também  enviou fotos de alguns setores que já estão prontos. A prefeitura destacou ainda que, por se tratar de uma unidade hospitalar “de extrema importância para o município e a região, não é possível paralisá-la por completo para que a reforma aconteça em toda a estrutura de uma só vez. Sendo assim, conforme alguns setores vão sendo reformados, outros têm a reforma iniciada”, disse a nota.

Mergulhado em obras

As obras de expansão do prédio anexo do hospital, contratadas por R$ 4 milhões, foram iniciadas em abril, com previsão de 15 meses. A nova ala abrigará 30 leitos, sendo 20 adultos e dez infantis, do Centro de Terapia Intensiva (CTI), além de clínicas médicas. Iniciada em 2012, a obra do anexo fazia parte de um  projeto do governo do estado, mas parou por falta de recursos.

Além da construção do anexo, o Raul Sertã também passa por intervenções em seu prédio principal, como a reforma da lavanderia, da cozinha, do refeitório, da ortopedia, da rede de esgoto, do depósito de lixo, dos reservatórios de água e da recepção. Em junho, a prefeitura entregou a nova recepção do Centro de Tratamento de Urgência (CTU), após cerca de um ano e meio de obras, que custaram R$ 167 mil. O novo espaço tem uma sala de espera pediátrica, uma sala de espera para adultos, uma sala de acolhimento e seis banheiros novos. O hospital também ganhou um letreiro instalado na fachada.

O que é o Conselho Municipal de Saúde

O Conselho Municipal de Saúde é uma organização essencial para a gestão do setor e um importante canal de participação popular. Normalmente fazem parte representantes de usuários do SUS, profissionais da área (farmacêuticos, médicos, enfermeiras), representantes de prestadores de serviços de saúde (hospitais particulares) e representantes da prefeitura. Sua  função é formular e controlar a execução das políticas públicas. Suas principais atribuições são controlar os recursos públicos empregados na saúde e as ações executadas no setor e participar da elaboração de metas. O conselho deve se reunir pelo menos uma vez por mês. 

Em Nova Friburgo, o Conselho, com mandato para o biênio 2019-2020, foi homologado em abril, durante a 10º Confererência Municipal de Saúde. São 40 integrantes, sendo oito representantes da prefeitura e os demais, de variadas entidades, como sindicatos, associações de moradores, Apae, conselhos regionais de profissionais de saúde, UFF e até uma tenda espírita. 

* Reportagem de Adriana Oliveira e Tiago Lima, estagiário sob supervisão de Henrique Amorim

 

 

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