Ar puro, belezas naturais, tranquilidade, clima diferenciado e emoldurada pela grandiosidade da Mata Atlântica: essas são características típicas de Nova Friburgo. Localizada apenas a 131 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, o município se destaca pelas montanhas e integração com o meio ambiente.
E não é só isso que descreve a cidade: muitas personalidades históricas passaram por Nova Friburgo, seja pelo clima salubre ou pelas tradições de colégios da época, que eram considerado pelos pais o ideal para a educação de seus filhos.
Confira abaixo seis destas personalidades:
1 - Rui Barbosa
Político, advogado, diplomata, jornalista, tradutor e orador, Rui Barbosa foi um dos intelectuais mais brilhantes de sua época. E Nova Friburgo também faz parte de sua história. Visitante frequente da cidade, Rui Barbosa se hospedava na residência dos Salusse, que alugava como veranista, e que ficou conhecida como “Casa de Rui Barbosa”. O imóvel ficava localizado no final da atual Praça Getúlio Vargas, no Centro, onde atualmente está o Edifício Rosa Marchon.
Uma passagem marcante de suas estadias de veraneio na cidade foi quando se juntou aos friburguenses contra a intenção da Marinha do Brasil de adquirir o então Instituto Sanitário Hidroterápico, fundado por Carlos Éboli. Seu apoio à população local foi decisivo para que o Instituto fosse penhorado pelo Banco Comercial do Rio de Janeiro. Fez também, no Colégio Anchieta, em 1920, como paraninfo dos bacharéis de Ciências e Letras, um importante discurso cristão: a Oração aos Moços.
2 - Casimiro de Abreu
Casimiro José Marques de Abreu foi um poeta pertencente à segunda geração do romantismo. Nasceu em 1839 e viveu parte de sua vida em Barra de São João. Ainda adolescente, induzido pelos pais a se dedicar aos estudos, entrou no antigo Instituto Freese, em Nova Friburgo.
Casimiro foi para o Rio de Janeiro e mais tarde embarcou para Portugal, onde entrou em contato com o meio intelectual. Em Lisboa, escreveu a maior parte de sua obra.
Com a vida boêmia que levava, Casimiro contraiu tuberculose e na busca de uma recuperação do estado de saúde, voltou para Friburgo. Um dos poetas mais populares do romantismo brasileiro, morreu então com apenas 21 anos, em 1860, em Nova Friburgo, numa localidade que hoje é um município que leva seu nome: Casimiro de Abreu. Ele foi sepultado, conforme seu desejo, em Barra de São João, e sua lápide se encontra no cemitério da secular Capela de São João Batista.
3 - Machado de Assis
Considerado o maior nome da literatura nacional, Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839 e foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Nascido no Rio de Janeiro, esteve por três vezes em Nova Friburgo, onde estabeleceu vínculo estreito.
Segundo estudiosos, a ideia do livro “Memória Póstumas Brás Cubas” surgiu no município serrano. Sua primeira visita a Friburgo foi no final de 1878. A retinite, especialmente do olho direito, seria a causa de seu afastamento do trabalho em dezembro, quando, sob recomendação médica, decidiu se refugiar com sua esposa Carolina em um hotel de Nova Friburgo, por ser uma “região de clima frio e águas revigorantes”. Não se sabe se o hotel era o mesmo que ficaria em 1904, o Hotel Engert, em sua segunda visita à cidade. Seu médico era Dr. Hilário de Gouveia, cunhado de Joaquim Nabuco.
Foi entre as montanhas, caminhando pelas ruas friburguenses, que o célebre escritor recuperou suas forças e sua energia. O recolhimento em Nova Friburgo, segundo estudiosos de sua obra, foi fundamental para sedimentar ainda mais sua carreira literária, além de incentivar o começo de uma nova fase de suas obras — de escritor romântico, passa a adotar uma técnica menos sentimentalista e mais voltada ao realismo.
“Nova Friburgo é terra abençoada. Foi aí que, depois de longa moléstia, me refiz das carnes perdidas e do ânimo abatido”, escreveu Machado em correspondência para seu amigo José Veríssimo em 1910.
4 - Joaquim Nabuco
O político, diplomata, historiador, jurista e jornalista brasileiro Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, nascido em 1849, em Recife, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Foi batizado pelos senhores do Engenho Massangana, Sr. Joaquim Aurélio Pereira de Carvalho e Dona Ana Rosa Falcão de Carvalho, que teriam grande influência na sua formação, pois ainda criança ficou sob os cuidados dos padrinhos quando os pais viajavam para a Corte.
Com a morte de sua madrinha, Dona Ana Rosa, em 1857, Nabuco transferiu-se para a residência dos pais, no Rio de Janeiro, onde realizou os estudos de nível primário e secundário, este último em Nova Friburgo, no colégio dirigido pelo famoso barão de Tauthphoeus. Na época, a cidade era considerada na Região Serrana a de melhor qualidade de ensino nas escolas, e por isso convergiam os adolescentes induzidos pelos pais a se aplicarem aos estudos.
5 - Villa-Lobos
O maestro e compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos nasceu em 1887 e foi o principal responsável pela descoberta de uma nova linguagem brasileira na música. É tido por muitos como o maior expoente da música moderna no país. Suas obras contêm nuances das culturas regionais brasileiras, com elementos das canções populares e indígenas.
E foi em Nova Friburgo que Villa-Lobos fez o primeiro concerto como compositor, em 1915, no extinto Theatro Dona Eugênia, que ficava na Rua General Câmara, atual Augusto Spinelli. Ele compôs e executou o seu primeiro quarteto em forma de suíte dias após a sua apresentação. A audição foi na residência do maestro Homero de Sá Barreto, na Rua General Osório, 88. Participou do encontro, entre outros, o consagrado maestro Artur Eugênio Stutt.
Segundo lembra o professor Paulo Jordão Bastos, crítico de artes e pesquisador da vida e obra do músico e compositor carioca, a aproximação de Villa-Lobos com Nova Friburgo foi devido à sua tia Zizinha (irmã de seu pai), que morava no município serrano e que foi sua professora de piano na infância. Foi ela quem o apresentou à obra de Johann Sebastian Bach, que ele cultuaria por toda a sua trajetória musical.
6 - Carlos Drummond de Andrade
O consagrado poeta brasileiro nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 1902. Tornou-se, pela conjuntura de sua obra, um dos principais representantes da literatura brasileira do século XX. Iniciou o curso primário em Belo Horizonte, em 1910. A partir de 1918, foi aluno interno do Colégio Anchieta, onde recebeu alguns prêmios em concursos literários. No ano seguinte, foi expulso da escola sob a justificativa de “insubordinação mental”. Foi então que voltou com a família para Belo Horizonte, concretizou os estudos e deu início a sua carreira de redator, na imprensa.
A Fundação D. João VI, de Friburgo, conseguiu recuperar algumas crônicas que o poeta escreveu durante o período em que estudou no Colégio Anchieta. Um trecho de uma delas, com o título “Conversa fiada”, foi escrita quando Carlos Drummond tinha apenas 17 anos:
"Quando a chuva cae sobre qualquer parte deste mundo pouco sério, tudo reverdece, desde as plantas, exceto as dos pés, até a alegria amortecida dos homens. A chuva é benéfica, fecunda savanas e cochilhas, varre o calor, faz tanta cousa! Se insiste em alagar-nos, trazendo-nos à physionòmia um ar carrancudo de spleen, é um berreiro louco por ahi a fora, a pedir ao céo que feche as torneiras e faça parar a líquida avalanche. O céo attende, e manda a secca, mortal, árida, medonha.
Pois é isto que acontece com um jornal. Chove a collaboração, e os redatores exultam. Tiras e laudas juncam, abarrotam as mezas de trabalho. Nada melhor! Eis, porém, excessiva essa fúria d'escrivinhar, e os pobres dos jornalistas torcem a tromba, como quem diz: Hum! Isso não está a me cheirar bem...
E os artigos chovem tempestuosamente, inundando, alagando a rédacção, como costuma fazer aquelle inoffensivo Bengalas, primo irmão do Nilo. E sabem o que acontece? ..."
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