Congresso: hilário ou eclético?

segunda-feira, 04 de abril de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Estou com os que vislumbram no Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal) um conglomerado eclético, formado por homens e mulheres simpatizantes de ideologias díspares, contraditórias e até antagônicas, de várias profissões e atividades, desde empresários a operários, latifundiários e peões, acadêmicos e semialfabetizados — enfim, uma gama de recursos humanos que forma e constitui a nação brasileira. Não temos um povo culto, civilizado ou altamente politizado. Os índices de analfabetismo nos coloca em posição vexatória no concerto das nações — apesar de sermos a oitava economia do planeta — e doenças endêmicas, já erradicadas em outras latitudes, ainda assolam as periferias citadinas e os bolsões geográficos de miséria espalhados pelo mapa nacional. Com todos estes itens, não poderíamos ter um Congresso Nacional onde pontificassem apenas eruditos, sábios, bacharéis e doutores.

Os escândalos das Casas de Leis, desta forma — e podem ser listados o nepotismo, o suborno e a extorsão, a falsificação, o estelionato eleitoral e a mais deslavada demagogia — são apenas fruto da miscelânea moral e cultural do Congresso e a ética ainda não entrou nas cogitações dos ilustres parlamentares que, quando não resolvem com o palavrão proferido da tribuna, apelam mesmo para tapas e sopapos. Assim tem sido ao longo da história democrática e a política à brasileira inclui, inclusive, tiros e tocaias que eliminam os mais temerários.

Por que o espanto com a inclusão de um suspeito de crassa ignorância como o palhaço Tiririca na Comissão de Educação e Cultura da Câmara Federal? Ou da seleção do indigitado deputado Paulo Maluf — na lista da Interpol — como membro da Comissão de Orçamento e Finanças? Ou de réus do mensalão em importantes segmentos da Casa de Leis? Senadores que recebem proventos ilegais (...e a lista é grande), como ex-governadores, com aposentadorias já condenadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), posam de representantes da moralidade e da transparência. E assim vai este Congresso Nacional, misto de eclético e hilário que, como toda regra, tem exceções dignas, coerentes e preocupadas com os destinos nacionais e não apenas com subsídios e proventos, passagens e verbas indenizatórias, cargos, comissões e propinas. São 32 partidos — uma verdadeira salada ideológica — a reunir em Brasília membros das mais variadas origens e finalidades, a maior parte desonestas e flibusteiras. Mas é assim mesmo que funciona a Democracia — e entre risos e ranger de dentes o Brasil vai superando o hilário e o eclético.

(*) - Jornalista e escritor em Brasília

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