Candidatos que fizeram o teste de aptidão física do concurso público da Prefeitura de Nova Friburgo entrarão com uma ação coletiva na Justiça para pedir o cancelamento da avaliação. O grupo alega que o teste, realizado no último fim de semana, na quadra do Friburguense Atlético Clube, exigiu habilidades incompatíveis com as atribuições de cada cargo. Além do mais, eles ainda reclamam que não havia água para beber e que os banheiros do estádio Eduardo Guinle, em Olaria, estavam sujos.
“O teste começou com meia hora de atraso”, conta Tayná Rodrigues, que fez a avaliação na tarde de domingo, 21. “Eu cheguei às 15h, mas só começaram a distribuir a numeração para os candidatos às 15h30. A equipe que aplicou o teste foi muito educada, mas não havia bebedouro. Tivemos que tomar água quente da torneira. O banheiro estava imundo. Não tinha papel higiênico, sabonete para lavar as mãos e nem papel-toalha”, detalha a candidata ao cargo de auxiliar de serviços gerais. Por três centímetros, Tayná não foi aprovada no salto. “O chão estava escorregadio, e, como não havia caixa de areia para amenizar o impacto, eu pulei com medo”, lamenta.
O teste foi realizado nos dias 20 e 21 de fevereiro. Cerca de 950 candidatos aprovados nas provas objetivas para os cargos de agentes de limpeza pública, auxiliar de serviços de sepultamento, auxiliar de serviços gerais, calceteiro, carpinteiro, guarda municipal, jardineiro, servente de obras e trabalhador braçal tiveram que fazer quatro testes físicos.
Assim como Tayná, a maioria foi reprovada na primeira etapa, chamada de “impulsão horizontal”. Segundo o edital do concurso, o candidato deveria, com um único impulso e sem corrida de aproximação, saltar para frente, buscando ultrapassar o espaço de 2,14 metros, para homens, e 1,66 metros, para mulheres, demarcados no chão.
“Eu machuquei o tornozelo, mas pelo menos consegui ser aprovado no salto. Eu vi que muitas pessoas machucaram o pé porque não havia caixa de areia”, conta Haike Rodrigues Neves, que concorreu ao cargo de guarda municipal. O morador de Conselheiro Paulino, no entanto, foi reprovado na terceira etapa da avaliação física.
Após o salto, os classificados seguiam para os abdominais (25 para homens e 15 para mulheres) e, depois, para as flexões (20 para homens e 15 para mulheres), ambas deveriam ser realizadas em um minuto. Na última fase do teste, homens deveriam correr 1.600 metros e mulheres 1.200 metros em 12 minutos. Somente os candidatos aprovados nas quatro provas do teste de aptidão física se classificaram no concurso.
“Esse teste foi um exagero, porque parecia que estavam selecionando militares ou atletas para os Jogos Olímpicos”, ironiza Haike Rodrigues Neves. Cerca 50 candidatos já se organizaram em um grupo no aplicativo WhatsApp para trocar informações sobre as medidas que tomarão contra a Exatus, banca organizadora do certame, e a Prefeitura de Nova Friburgo.
Na tarde desta segunda-feira, 22, o vereador Christiano Huguenin anunciou que entrou com uma representação no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pedindo a instauração de inquérito para investigar as supostas ilegalidades cometidas no teste de aptidão física. “O princípio da proporcionalidade, previsto na Constituição Federal, não foi respeitado na avaliação. Como podem ter exigido a mesma atividade física no teste para pessoas de faixas etárias diferentes? Essa covardia não vai perdurar, vamos até as últimas consequências contra esse absurdo”, escreveu o parlamentar em sua página no Facebook.
Em nota a Prefeitura de Nova Friburgo informou que os parâmetros do teste de aptidão física estavam previstos no edital e que ninguém questionou o nível de exigência das provas até a realização do teste. No entanto, devido às várias reclamações dos candidatos, a comissão do concurso solicitou a empresa Exatus que encaminhe justificativa técnica sobre os parâmetros exigidos nos testes.
“A Prefeitura de Nova Friburgo compreende a frustração dos candidatos reprovados, porém, deve pautar sua atuação e intervenção à condução dos trabalhos da empresa Exatus, responsável pelo concurso, por critérios objetivos da legalidade, dos atos por ela praticados; frisando que o direito de ação é um direito público subjetivo do cidadão garantido pela Constituição Federal”, diz a nota.
Próximas etapas do concurso
Além do teste de aptidão física e da prova de títulos, haverá ainda prova prática obrigatória para os candidatos aos cargos de calceteiro, carpinteiro, costureira, cozinheira, eletricista, instrutor de artesanato, instrutor de corte industrial, jardineiro, mecânico, merendeira, operador de esteira, operador de máquina rolo compressor, minicarregadeira e retroescavadeira, operador de motoniveladora, operador de usina de asfalto, pedreiro, pintor e serralheiro. A data desta etapa do concurso ainda não foi definida pela banca, por isso, os candidatos devem ficar atentos ao site da Exatus (www.exatuspr.com.br).
Em janeiro, a prefeitura adiantou para A VOZ DA SERRA que os candidatos devem começar a ser convocados para tomar posse nos cargos em março deste ano.
Mais de 30 mil pessoas se inscreveram para concorrer a 868 vagas oferecidas pela Prefeitura de Nova Friburgo. Os salários variam de R$ 807 até R$ 3 mil. As provas objetivas foram aplicadas nos dias 13 e 20 de dezembro. Além das vagas que serão preenchidas imediatamente, o certame formará um cadastro reserva, cujo prazo de validade será de dois anos a partir da data da publicação do ato de homologação do resultado final.
O concurso ainda poderá ser prorrogado por igual período, ampliando para quatro anos o período em que outros candidatos classificados poderão ser convocados para tomar posse de cargos, de acordo com a necessidade da administração municipal.
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