Restaurado, casarão de 1873 que abrigou a antiga estação ferroviária volta a oferecer cultura e arte a crianças, jovens e adultos
Henrique Amorim
Quem teve a triste oportunidade de ver o casarão de Riograndina logo após a tragédia de 2011 com mais de três metros de altura de água e toneladas e mais toneladas de lama e entulhos que encobriram todo o porão e parte dos demais cômodos, tem dificuldades para acreditar que as fotos que ilustram essa reportagem não sejam do passado. “Quem viu esse prédio tomado pela enchente com paredes trincadas e prestes a cair, jamais imagina que pudesse ser restaurado. E foi”, vangloria-se o ex-presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Riograndina (Amar), Ronaldo Pinto Henriques, que não escondia a felicidade na tarde da última segunda-feira, 14, na festa de reinauguração do casarão, todo restaurado graças ao projeto “Voluntários Banco do Brasil” que liberou linha de crédito específica para reerguer projetos sociais nos municípios atingidos pela maior catástrofe climática da história. No casarão de Riograndina—que já abrigou a estação ferroviária do distrito e ganhou banners informativos com um pouco dessa saudosa época de progresso na linha férrea de Cantagalo—foram injetados R$ 97 mil.
De todo o montante, R$ 80 mil foram consumidos na recuperação do telhado, na adaptação de lambrequins (beirais em madeira decorada em estilo europeu, típicos para facilitar o derretimento de neve e o escorrimento de águas das chuvas) e sustentação das paredes, pintura e reinstalação das instalações elétricas e hidráulicas. Os R$ 17 mil restantes foram aplicados na compra de instrumentos e materiais para os cursos de violão, artesanato, desenho, cerâmica, artes plásticas, dança, teatro e ginástica para a terceira idade, todos gratuitos e que beneficiam 239 crianças, jovens e adultos da comunidade local, alguns deles assistidos pelo Centro de Atendimento Psicossocial do município (Caps). “Aqui revelamos muitos talentos e vencemos a ociosidade da garotada com arte e cultura. O Ponto de Cultura de Riograndina é a extensão da casa deles”, comemora Carolina Henriques, coordenadora do projeto de arte e cultura no distrito.
Na solenidade de inauguração, os alunos mostraram os resultados dos cursos retomados há pouco mais de dois meses com peças de artesanato, souvenires e a ginga dos membros do bloco carnavalesco Estação Riograndina do Samba, o popular bloco do boi, que fizeram barulho no casarão atraindo o público numa tarde fria chuvosa. Ronaldo Pinto Henriques, que atua como voluntário nas atividades do casarão, sonha com a retomada das oficinas de panificação paralisadas desde a enchente que danificou os equipamentos. “Quem sabe algum empresário se interessa em colaborar com a aquisição de novos maquinários. Iremos formar muita mão de obra para padarias da região”, acredita ele.
Uma obra que encanta e emociona por conta do seu imenso valor histórico e cultural
A restauração do casarão de Riograndina também impressionou a gerente do Departamento de Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura, Lilian Barretto, e o coordenador de Patrimônio Material e Imaterial do órgão, Luiz Fernando Folly, que acompanharam o passo a passo da obra ao longo de pouco mais de cinco meses. A restauração é a única obra patrimonial pronta depois da tragédia das chuvas no município. “Quem sabe agora com o casarão reformado poderemos dar a partida para a elaboração de um complexo turístico, histórico e cultural de Riograndina aproveitando-se a bela ponte de ferro e o antigo galpão da estação ferroviária que muito bem abrigaria um cinema. Riograndina tem tudo para tornar-se um roteiro turístico após esse investimento”, acredita Lilian Barretto.
O secretário municipal de Cultura, David Massena, também aposta na recuperação de Nova Friburgo, não somente com obras, mas com investimentos em cultura. “É preciso investir em políticas culturais e só a arte é capaz de transformar. Precisamos mesmo de novos friburguenses formados pela arte e a cultura”, disse ele. Outro que se emocionou com a possibilidade de transformação através da arte foi o prefeito Sérgio Xavier, que impressionou-se com a vibração dos alunos de percussão do Ponto de Cultura de Riograndina, que somaram-se ao bloco carnavalesco durante a solenidade que reuniu diversos membros da cultura local, autoridades, o tenor Agnes de Souza—que entoou os hinos nacional e de Nova Friburgo—e a representante da Fundação Banco do Brasil, Ana Maria Vahia Concy. “Como é bom ver a população com esperança novamente”, destacou o prefeito.
A obra no imóvel tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural do Rio de Janeiro (Inepac) também foi minuciosa acompanhada pelo arquiteto do órgão, Alberto Taveira, que se impressionou com o fato da estrutura ter resistido a enchente, mesmo sem colunas de sustentação, um artifício incomum às construções centenárias. “Aqui ainda temos paredes só com tijolos e de pau a pique”, observou.
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