Neste domingo, 13, estão previstas manifestações por todo o país em combate à corrupção. O Brasil vive atualmente uma situação polícia singular e delicada. Vemos os ânimos acirrados, com grande parcela da população se posicionando sobre temas políticos, principalmente em torno do combate à corrupção recente tendo como alvo o alto escalão da política e grandes empresas do país. Muitos analistas, inclusive, afirmam que o país está dividido: PT x PSDB, petistas x antipetistas, antipetistas x antipetistas, golpistas x republicanos, “coxinhas” x “petralhas”, e por aí vai. Nova Friburgo não foge à regra e deverá ter ato público por aqui também organizado pelas redes sociais.
Para contribuir para a construção de um Brasil que respeite a pluralidade de opiniões, A VOZ DA SERRA convidou dois proeminentes cidadãos, Thiago Mello e Monique Schuabb, para compartilhar com nossos leitores sua visão sobre a situação atual da política brasileira.
Confira:
Como pensar uma democracia em um país cujo povo culturalmente se nega ao debate? Como compreender os avanços de uma democracia quando boa parte de sua população não compreende a quem cabe essa ou aquela competência administrativa e todos apontam ao governo central a responsabilidade de todas as mazelas e malfazejos existentes? Como ponderar o razoável enquanto tudo é indignação de torcida de futebol, desconsiderando os vícios tão cotidianamente naturalizados, que atingem a todas as siglas e grupos políticos, sem distinção?
Um ditado consagrado no qual religião, futebol e política não se discutem e isso revela muito de nossa cultura autoritária e conformada, interessada nos consensos fáceis, no pouco questionamento e na aceitação soberana de que as coisas “tal como são”. Mas, na democracia alguma coisa sempre está fora da ordem pois existe um outro, desagradável, que teima em se pronunciar e temos que tolerar sua existência e as possíveis adesões, por mais que suas ideias pareçam estapafúrdias ou absurdas e possam arrebatar em votos e vozes.
Nesses incríveis 27 anos de democracia, passamos a sofrer as angústias naturais de quem descobre que na liberdade há também um ônus considerável e, creio, enfrentamos depois das eleições de 2014 a verdade revelada de nossa enorme fragilidade sócio-política. Descobrimos enfim que não basta um líder ou governo salvador, pois, no tapete há muito além da poeira empurrada: a poeira é o tapete.
Nossa “governabilidade” torna todo e qualquer governo refém de coalizões regionais, tecido arraigado de práticas de poder pelo cabresto, compra de votos, corrupção historicamente estabelecida. Noutra ponta, a Constituição criou o “controle social” na forma de conselhos (municipais, estaduais, etc.) destinados à vigilância do uso dos recursos públicos, mas não ocupamos esses espaços, pois falta tecido para ocupar todos esses espaços, assim como falta cultura, afinal não discutimos política, não é mesmo?
Nesse contexto, nossa intolerância à corrupção parece resumida a um único partido, como se “eliminá-los” fosse o suficiente para salvar o Brasil, desconsiderando que os esquemas denunciados foram apenas continuados, seu corpo e robustez tem lastro de mais de 50 anos de história política e cujo o principal partido operador preside o Senado, a Câmara, tem o maior número de prefeituras e de governos de estados, fazendo e forçando pactos pela “governabilidade”, ou seja, que a maioria de nós é cumplice a esse estado geral das coisas.
Nesse sentido, admitir a seletividade da pena e dos culpados, a orientação exclusiva da espada, aliviando aos “opositores”, é dar carta branca para que esfreguem em nossa cara nossa ignorância, nosso papel de gado, condenando as pautas sociais, construídas por inúmeros movimentos sociais legítimos e históricos, construídos por muita luta e abnegação de brasileiros e brasileiras em todas as regiões, à satanização de único partido.
Precisamos aceitar que viver em democracia é, além de uma dádiva, um fardo necessariamente carregado por todos em que é preciso defender o debate, acima de tudo; defender que reconhecer os avanços não faz de ninguém “petralha”, assim como criticar não faz de ninguém “coxinha”. Que é preciso a legalidade imparcial. Que isso não é um Vasco e Flamengo. Não se resume aos bons contra os maus. Enfim, vamos discutir política?
Thiago Mello, advogado
O Brasil vive uma crescente polarização política, fruto de uma militância que dividiu o país entre ‘nós e eles’. Uma coisa é a divergência de ideias, o contraditório, que é até saudável, democrático. Outra coisa é a polarização política, onde o contraditório dá lugar ao radicalismo, não há o convite à reflexão - tudo é tudo e nada é nada -, não se admite um meio termo e, portanto, qualquer debate acaba sendo esvaziado.
Em uma sociedade onde não se admite a pluralidade de ideias, mas somente as ‘nossas e as deles’, podemos considerar que esta sociedade encontra-se seriamente comprometida na questão da democracia. No entanto, o Brasil tem demonstrado que o espírito cívico tem sido muito maior do que a tentativa de servidão voluntária, ou seja, aquela em que a análise crítica dá lugar à alienação.
O Brasil não é só samba, carnaval e futebol. O Brasil é política também. E os brasileiros não se convencem mais com os velhos discursos políticos. O povo está muito mais informado do que antes e quer uma sociedade mais justa, quer um país livre da corrupção e com igual oportunidade a todos, não apenas privilegiando a uma pequena casta. Poder encher o carrinho de compras do supermercado é um direito de todos nós, não pode ser um privilégio de poucos.
A sociedade tem tomado às ruas numa clara demonstração de que é preciso passar o Brasil a limpo. É preciso preparar um futuro melhor para as próximas gerações. Mas isso só é possível com a união de todos, sem a divisão do ‘nós e eles’, mas com foco no Partido Brasil, do qual todos nós somos representantes.
Domingo, dia 13 de março, às 15h, na Praça Dermeval Barbosa Moreira, #VemPraRuaFriburgo
Monique Schuabb, blogueira e responsável pela página Transparência Nova Friburgo
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