Como se sair bem no Enem

E se você levou bomba no ensino médio inteiro? Invista na redação! Confira 5 dicas para um texto decente
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
por Ana Blue
(Foto: Flickr)
(Foto: Flickr)

Escrever uma redação para o Enem não é uma tarefa fácil, mas também não é lá um bicho de sete cabeças. Claro que, assim como a prova num todo, o objetivo número um do exame, como o nome diz, é testar as habilidades e a aprendizagem obtidas com o curso do ensino médio. Logo, se você foi um aluno do fundão a vida inteira, que levou a escola na flauta e provocou um genocídio com suas faltas no Diário de Classe, pode ser que a prova exija um pouco mais da sua capacidade mental e do seu bom humor.

Mentira, esqueça o que foi falado antes. Não é uma ciência absoluta: péssimos alunos podem sim, ser ótimos profissionais, bons de lógica e exímios articulistas, porque uma boa parte do que acontece de importante no mundo acontece a partir de pessoas inconformadas, curiosas, questionadoras e indisciplinadas — justamente aquelas que foram o horror das professorinhas. Não cabe aqui fazer um julgamento de valores ou exortar a revolta dentro das salas de aula, longe disso. No entanto, as dicas para o Enem, no geral, parecem ser escritas para pessoas que, no fundo, no fundo, não precisam de dicas. Que durante a vida acadêmica cumpriram com as obrigações curriculares, estudaram, fizeram tudo como manda o figurino. E seguem hoje uma rotina de estudos consoante com a exigência imposta aos candidatos do Enem. Mas, e os alunos do fundão, que encaram o Enem como uma ferramenta capaz de abrir as portas de um mundo maior, mas que, ainda assim, é apenas uma ferramenta, uma fase? Como transformar flauta e fundão em nota boa — e nota boa em boa faculdade?
    
5 dicas para uma redação decente

Pensando nisso, as dicas abaixo são para quem realmente precisa de dicas. Pra quem está confiando apenas na bagagem que já tinha acumulado durante a vida acadêmica, sem preparo prévio, sem cursinho, sem aula extra, sem sair em matéria de jornal bonita falando sobre superação. São dicas de sobrevivência.

1) Redação, redação, redação. Invista numa boa e sólida redação

A triste notícia é que as questões históricas, geográficas, biológicas e afins não serão aprendidas 24, 48 horas antes do teste. Agora, meu filho, Inês é morta. Tente ter um taco confiável e vai na fé, você não tem muita escolha — aliás, você tem uma escolha em cinco nas 180 questões, mas isso você já sabe. Já a redação é o jeito de você mostrar quem é e a que veio. Uma maneira de não ser só um cartão-resposta de letras ás e bês e cês respondidas metade confiantes, metade entre chutes. No Enem 2014, 529 mil estudantes simplesmente zeraram a redação. São quase três Novas Friburgos de pessoas que não obedeceram sequer a um critério mínimo digno de nota. Não seja um deles.

2) Tá, eu devo caprichar na redação. Mas como?
Lendo. Lendo muito, lendo sempre. Não de sábado pra domingo, que como já foi dito, agora Inês é morta. Você tem que cultivar o hábito ao longo da vida, por N motivos: pra ter assunto, pra ser uma pessoa interessante, pra ter um bom emprego, pra ser bem informada, pra estabelecer opiniões próprias sem se sentir impelido a se juntar às massas. É preciso ter o mínimo de noção das coisas que acontecem ao seu redor e no mundo. Provavelmente o tema da redação será algo contemporâneo, amplamente divulgado e debatido na imprensa — a guerra na Síria, a redução da maioridade penal, as pedaladas fiscais (você sabe o que é uma pedalada fiscal? Falou-se disso o ano inteiro!), a inflação... — Opa, não, mais uma mentirinha. Nem sempre é assim, o Enem prega peças. Ano passado, o tema da redação era publicidade infantil, assunto que não estava em discussão naquele momento e pegou muita gente de surpresa — a aposta geral era algo entre crise hídrica e Copa do Mundo. Moral: você deve ler jornais, sim, revistas, sim, feed do Facebook também, seções de esportes, TV, Twitter, sites que produzam conteúdo de humor satírico. Ler de tudo. Se este ano, por exemplo, o assunto da publicidade infantil se repetisse, uma boa forma de abordá-lo seria citar o caso recente de Valentina, menina de 12 anos, participante de um reality show infantil, que está sendo vítima de comentários de conteúdo sexual na internet. Isso não saiu nos jornais, nos artigos científicos ou na Revista Piauí: ganhou força no Facebook e no Twitter, e a partir daí, a comoção foi nacional. Ou seja: é preciso realmente ler de tudo um pouco. Porque o cara mais culto não é aquele que mais se enche de material dito culto (alguns são bem chatos e nem dá pra apreender direito), mas sim, aquele que é capaz de se adequar ao tempo e ao lugar onde vive.

3) Saiba o que e de que forma escrever
A estrutura da redação exigida no Enem (aliás, na maior parte das redações de concursos) é a dissertativa-argumentativa. Ou seja, você vai dissertar (discorrer, desenvolver, debater, expor) sobre o assunto exigido, apresentando suas causas e consequências para a sociedade através da sua argumentação. O texto deve ter introdução, desenvolvimento e conclusão. Basicamente, um parágrafo contando que o cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada, mais um parágrafo desenvolvendo a sessão de drama entre os dois, porque um desmaia e o outro chora, e o parágrafo final, que apresenta a solução para cada ponto exposto no texto. Se você levanta uma questão, você deve oferecer solução pra ela. No caso do cravo e a rosa, a solução foi a serenata.

4) Ninguém quer saber da sua opinião pessoal
Eu, Blue, não escrevi em primeira pessoa nenhuma vez neste texto (só agora), embora em todo o momento ficasse claro que isso aqui é uma conversa entre repórter e leitor. Numa redação dissertativa, a construção precisa manter um certo distanciamento neutro: você não está falando que o cravo brigar com a rosa é um absurdo e que ele deveria ir preso. Você está apenas expondo o fato, o fim da briga entre o cravo e a rosa não é da sua conta. Evite usar expressões como “eu penso que”, “na minha opinião”, “eu sou da opinião de que” — essa última, então, é horrível.

5) Capriche nas palavras bonitas — mas só nas que você conhece
Por último, vc ñ pd escrever assim tbm. Na escrita formal, não se pode abreviar as palavras como é costume na linguagem virtual, nem usar de símbolos :’(. Os corretores das redações do Enem são bem menos exigentes com a ortografia do que com a ideia desenvolvida no texto, mas alguns preceitos básicos são observados. O vocabulário diz muito sobre a capacidade cognitiva da pessoa. Só use uma palavra que você saiba o que significa. Use e abuse de expressões, saia do lugar-comum, mas dentro do seu limite semântico. Você não precisa escrever “mas” toda hora: há porém, entretanto, contudo, no entanto, todavia. “Outrossim” em vez de “também”. Fora isso, coesão e coerência, sempre. E, se puder, tente não usar a expressão “muitas das vezes”. É horrível também.

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