Em sessão realizada no último dia 27 de agosto, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro concedeu o título de ‘Cidade Real’ a Nova Friburgo, a única do país a ser fundada a partir de Decreto Real, de D. João VI. A medida foi apresentada através de projeto de lei elaborado pelo gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) a partir de levantamento histórico e indicações encaminhadas pelo vereador friburguense Professor Pierre Moraes.
Com a concessão de tal honraria, Pierre espera que o poder público faça a sua parte e devolva à população uma cidade que faça jus ao título. “O governo municipal precisa encontrar um meio de não apenas resgatar a Nova Friburgo que já foi, mas acrescida de uma estrutura adequada aos tempos que vivemos. Sabemos que não será uma empreitada fácil, os problemas estão por toda parte, são de toda natureza, em bairros e distritos”, destaca Pierre. “Mas, é preciso enfrentar e fazer”, ponderou.
Do ponto de vista histórico, de uma época, e ficar só nisso, o vereador admite que a concessão desse título apenas não basta para fazer desta uma cidade ‘real’, no sentido da nobreza, mas real, no sentido de verdadeira, autêntica. “Pode até ser questionado (o título). Mas, quando o colocamos dentro de um cenário nacional, embora sejamos plurais, a história de Friburgo é singular. Como não trabalhar isso, transformar em ação pública? Precisamos explorar tudo o que temos. O poder público tem a obrigação de convencer e atrair a população para, juntos, fazerem essa nova cidade aflorar”, defendeu.
“Por sua própria beleza natural, Friburgo já possui essa ‘realeza’ que é documental. Falta olhar para nossa memória, nos perguntar ‘quem somos?’ Somos quem fomos e para reconhecer isso precisamos revisitar nossa memória. Temos em nós mesmos as raízes e as memórias dos nossos ancestrais. Em qualquer situação, mesmo inconscientemente, invocamos esse passado, buscamos essa identidade. Tenho certeza também que vamos nos defrontar com dúvidas como ‘somos hoje o somatório ou a subtração do que fomos ou deixamos de ser no passado?”. Pode ser isso ou aquilo, e tantas outras coisas mais, e cabe-nos olhar para trás para descobrir como seguir em frente, sempre”, propôs o professor.
Gênese de um país, de uma cidade
Inicialmente três povos tiveram atuação marcante na formação do nosso país: os índios, os portugueses e os africanos. Os índios eram os habitantes locais na época do descobrimento. Os portugueses, os colonizadores, começaram a explorar as terras recém-descobertas no século 16. E os africanos foram trazidos para trabalhar como escravos nas plantações de cana-de-açúcar, na mineração e nas lavouras de café. Depois, chegaram os imigrantes, vindos de várias partes do mundo. Com o desenvolvimento da cultura do café e a proibição da entrada de escravos no Brasil, chegaram os italianos para trabalhar nas fazendas de café de São Paulo. Depois, alemães, espanhóis, portugueses, japoneses, sírios, libaneses e outros povos vieram, contribuindo para a formação do povo brasileiro. Tal e qual Nova Friburgo. Por isso, apropriadamente, o professor Pierre Moraes costuma dizer que Nova Friburgo é um mosaico do Brasil.
“Voltar a ser o que já fomos”
Até 1755, a região da atual Nova Friburgo era habitada pelos índios goitacases e puris, e portugueses. Em 1818, o rei D. João VI resolveu estreitar os laços de amizade com os germânicos, a fim de obter apoio contra o império francês. Propôs uma colonização planejada, a fim de promover e dilatar a civilização do Reino do Brasil, e baixou um decreto autorizando o estabelecimento de uma colônia de famílias suíças na Fazenda do Morro Queimado, no Distrito de Cantagalo, localidade de clima e características naturais semelhantes às de seu país de origem.
Entre 1819 e 1820, a região foi colonizada por 265 famílias suíças, totalizando 1.458 imigrantes. Foi batizada pelos suíços com o nome de Nova Friburgo, em homenagem à cidade de sua origem, Fribourg. Foi, também, o primeiro município no Brasil colonizado por alemães, tendo estes imigrantes, ao todo 456, chegado à cidade em maio de 1824, três meses antes que imigrantes alemães chegassem à cidade de São Leopoldo-RS. Nova Friburgo foi a primeira colônia não portuguesa a ser fundada no Brasil em caráter oficial.
Após a proclamação da Independência do Brasil (1822), o governo contratou a vinda de imigrantes que chegaram em maio de 1824; chegaram 80 famílias, conduzidas pelo pastor Frederico Sauerbronn. Em 8 de janeiro de 1890, Nova Friburgo foi elevada à categoria de cidade, quando sua população aumentou com a chegada de imigrantes italianos, portugueses e sírios.
A partir de 1910 Nova Friburgo, que, até então, devia o seu progresso ao desenvolvimento da agricultura e ao seu clima frio e seco que atraía turistas, viu chegar cidadãos determinados, como Julius Arp, Maximilian Falck e William Peacock Denis, que se tornaram os pioneiros da era industrial friburguense. Antes, cuidaram da eletrificação da cidade. A estes se juntaram outros personagens de igual valor, provocando o surto de progresso verificado até meados da década de 1980.
“É deste período que gostaríamos de ver retomado o ímpeto que vigorava então no município, com perspectivas viáveis e que inspirem confiança. O rompimento dessa evolução começou no fim dos anos 1980, início dos 1990. Desde então, só andamos para trás. Agora, é hora de construir uma ponte que ligue aquele passado, ainda tão recente, aos tempos atuais. Repito, precisamos voltar a ser o que já fomos. Uma cidade real, em todos os seus sentidos”, encerrou Pierre Moraes, lembrando que o senador Cristóvam Buarque, ciente do título conquistado, agendou uma visita a Nova Friburgo no próximo dia 31 de outubro.
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