Leonardo Lima
No processo de reconstrução da cidade, a população friburguense se pergunta: o que fazer para impedir novas catástrofes? Há como evitar que novas tragédias devastem ainda mais a Região Serrana? Existem técnicas e estratégias eficazes a ponto de diminuir os efeitos de novas enxurradas?
Em entrevista concedida para A VOZ DA SERRA, o professor universitário de engenharia de segurança ambiental, tenente-coronel bombeiro militar Sérgio Baptista de Araújo, aponta que de nada adiantam planos de emergência se eles não tiverem exercícios simulados. “Sistemas sofisticados de monitoramento climatológico funcionam se souberem identificar os sinais”, diz. Atuando há diversos anos na área, tanto no Brasil quanto em Portugal, ele alerta que as autoridades não podem ficar passíveis diante do desastre na região. “Em virtude das alterações climáticas, da excessiva concentração demográfica, dos padrões construtivos, do atraso tecnológico em termos de prevenção no campo da Defesa Civil, afirmo que o número de vidas perdidas aumentará”, garante.
Segundo o tenente-coronel, a tragédia da Região Serrana caracteriza a situação atual do Brasil. “Essa é uma clara demonstração de um país desenvolvido, mas como um saldo trágico, comparável a nações de terceiro mundo” analisa. Formado em cursos de especialização em diversos países, ele explica que uma técnica de combate às enchentes utilizada no Japão pode ser eficiente em terras brasileiras. “O Flood Fighting existe desde a década de 50, e consiste na construção de barragens urbanas, diques e proteção das laterais dos rios e encostas. Pode funcionar em alguns casos”, informa.
A VOZ DA SERRA: O senhor considera que os chamados “planos de emergência” não atingem todo o potencial no Brasil?
SÉRGIO BAPTISTA DE ARAÚJO: Não, não atingem, pois na maior parte dos municípios não existe um padrão definido de como ele deve ser estruturado. Além disso, um plano municipal de emergência deve ser validado por meio de exercícios simulados frequentes, envolvendo todos os segmentos da população, incluindo pessoas com necessidades especiais.
AVS: Quais medidas o senhor considera essenciais para que toda essa teoria seja posta em prática e, de fato, ajude a população?
SÉRGIO DE ARAÚJO: Construção de abrigos bem localizados, seguros, identificados, e de fácil acesso, sistemas de alerta visual e sonoro, padrões de mensagem via rádio e exercícios simulados constantes, além de medidas de macro-engenharia.
AVS: E em relação aos kits de proteção? O que eles devem conter?
SÉRGIO DE ARAÚJO: Os kits de auto-proteção devem ser alojados em sacos plásticos e precisam conter lanternas, cobertores, medicamentos de uso comum, rádios de pilha, capas de chuva e cabos de dez metros com dez milímetros de diâmetro.
AVS: O senhor defende que toda a população deve fazer exercícios simulados frequentes. Mas como tornar o acesso viável em todos os segmentos da sociedade?
SÉRGIO DE ARAÚJO: Colocando esses exercícios como matéria obrigatória nas escolas, em todos os níveis, divulgando-os em programas de rádio e TV, e através de cursos oferecidos pela própria Defesa Civil.
AVS: E em relação à técnica japonesa do Flood Fighting? Ela seria eficaz em todo o Brasil?
SÉRGIO DE ARAÚJO: Esta técnica é eficiente na medida em que a população sadia pode, através de sacos, construir barragens urbanas, diques e sistemas de proteção. Entretanto, o Flood Fighting só funciona em eventos que possam ser controláveis, o que não é o caso da tragédia da Região Serrana, que teve proporções muito maiores.
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