Como e onde surgiu a prática de tatuar o corpo?

sexta-feira, 13 de março de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Como e onde surgiu a prática de tatuar o corpo?
Como e onde surgiu a prática de tatuar o corpo?

Tudo indica que a prática de marcar o corpo é tão antiga quanto a própria humanidade. Mas, como é impossível encontrar corpos de eras remotas com a pele preservada, a base para pesquisas são as amostras mais recentes. É o caso de múmias egípcias do sexo feminino, como a de Amunet, que teria vivido entre 2160 e 1994 a.C. e apresenta traços e pontos inscritos na região abdominal — indício de que a tatuagem, no Egito Antigo, poderia ter relação com cultos à fertilidade.

Um registro bem mais antigo foi detectado no famoso Homem do Gelo — batizado Ötzi —, múmia com cerca de 5300 anos descoberta em 1991, nos Alpes, entre a Áustria e Itália. As linhas azuis encontradas em seu corpo podem ser os mais antigos vestígios de tatuagem já encontrados — ou, então, cicatrizes de algum tratamento medicinal adotado pelos povos da Idade da Pedra. Mesmo com tantas incertezas, os estudiosos concordam que, já nos primórdios da humanidade, a tatuagem deve ter surgido durante a busca para preservação da pintura do corpo.

A prática se difundiu por todos os continentes, com diferentes finalidades: rituais religiosos, identificação de grupos sociais, marcação de prisioneiros e escravos (pelo Império Romano), ornamentação e até mesmo camuflagem. No Ocidente, a técnica caiu em desuso com o cristianismo, que a proibiu, sendo redescoberta em 1764, quando o navegador inglês James Cook realizou uma expedição à Polinésia e assim registrou o costume em seu diário de bordo: "Homens e mulheres pintam seus corpos. Na língua deles, chamam isso de tatau. Injetam pigmentos pretos sob a pele de tal modo que o traço se torna indelével”.

Cem anos depois, Charles Darwin afirmou que nenhuma nação desconhecia a arte da tatuagem. De fato, dos índios americanos aos esquimós, da Malásia à Tunísia, a maioria dos povos do planeta praticava ou havia praticado algum tipo de tatuagem. Com a invenção da máquina elétrica de tatuar, em 1891, o hábito se espalhou ainda mais pela Europa e pelos Estados Unidos. No final do século XX, a pele desenhada, até então uma característica quase exclusiva de marinheiros e presidiários, tornou-se uma das mais duradouras modas entre jovens.

 

Arte  universal

Sempre existiu gente tatuada em diferentes pontos do planeta

Taiti - De acordo com a mitologia da região, foram os deuses que ensinaram aos homens a arte de tatuar-se. Por isso, deve ser executada seguindo à risca uma liturgia especial. Aos homens, por exemplo, é permitido tatuar o corpo todo, enquanto as mulheres só podem marcar o rosto, os braços e as pernas. Na Polinésia em geral, a tatuagem costuma ser usada como símbolo de classe social.


Japão - O país foi um dos que mais desenvolveram a técnica: as sessões podem durar anos até os desenhos cobrirem o corpo todo, com exceção das mãos e dos pés. A prática, porém, ficou mais associada à organização mafiosa Yakuza. Outra curiosidade local é a kakoushibori, espécie de tatuagem oculta, com produtos químicos como o óxido de zinco, que fazem o desenho aparecer apenas em certas situações: quando a pessoa está alcoolizada, após o ato sexual ou um banho quente.


Índia - Outro país onde a tatuagem é uma tradição milenar, a Índia desenvolveu também a chamada mehndi, pintura corporal com o pigmento natural de henna. Nesse caso, os desenhos duram no máximo uma semana — por isso a técnica costuma ser usada quase que exclusivamente com fins decorativos, para ocasiões especiais como casamentos.


Nova Zelândia - Os desenhos espiralados típicos da tatuagem maori, como são chamados os nativos deste país, tinham o objetivo de distinguir os integrantes de diferentes classes sociais. Cada espiral simbolizava um nível hierárquico. A prática só era permitida aos homens livres: escravos não podiam se tatuar. Depois que os líderes maoris morriam, seus familiares conservavam a cabeça tatuada em casa, como relíquia. 


África - As tatuagens com cores e traços elaborados são menos comuns em povos de pele escura. Nas tribos africanas, uma prática comum é a escarificação, que consiste na produção de cicatrizes a partir de incisões na pele. Alguns povos a utilizam com fins terapêuticos, para introduzir medicamentos diretamente no corpo. A prática também é verificada em ritos de passagem. Em algumas tribos do Sudão, por exemplo, as mulheres são submetidas a três processos de escarificação: aos dez anos elas marcam o peito, na primeira menstruação é a vez dos seios e, após a gestação, são marcados os braços, as pernas e as costas.


Brasil - Knud Harald Lykke Gregersen, conhecido como Lucky Tattoo, nasceu em Copenhague (Dinamarca), em 14 de maio de 1928. Foi o primeiro tatuador profissional no Brasil, considerado o precursor da tatuagem moderna. Quando chegou ao Brasil, apresentou-se como desenhista e pintor, ao desembarcar no cais de Santos em 20 de julho 1959, trazendo a primeira máquina elétrica de tatuagem para o país. Lucky Tatoo estabeleceu-se na zona portuária, onde seus primeiros clientes foram os marinheiros que ali se concentravam. Viveu em São Paulo por mais de 20 anos, onde se casou com uma brasileira e teve um casal de filhos. Mais tarde mudou-se para Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Faleceu, em 17 de dezembro de 1983, no auge de sua carreira, com 55 anos, vítima de ataque cardíaco. Deixou muitos admiradores e seguidores. Já com a carreira consolidada, era procurado por artistas e celebridades, no final dos anos 70. Entre outros, tatuou surfistas, como Petit, na época conhecidos como "meninos do Rio”. Inspirado nesta revolução da contracultura, Caetano Veloso compôs a canção Menino do Rio. Esta reportagem é ilustrada por trabalhos realizados pelo nosso entrevistado Arthur Galluzzi, autor também da capa.


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