Começou o reinado de Momo

segunda-feira, 03 de março de 2014
por Jornal A Voz da Serra

Yedda Pereira dos Santos

Começa, enfim, o carnaval. A mais descontraída e democrática forma de governo já inventada pelo homem. Desinibidamente saem de sujos, os sem dinheiro, de mascarados, os tímidos, de mulher ou de homem, os mal resolvidos, de nus, os existencialistas, sob o peso de enormes fantasias, os exibicionistas ou disfarçados de si mesmos, a grande maioria. Todos sob a égide da alegria.  

Nesta amostra grátis de reinado, chegamos a interferir até em nosso próprio inconsciente, desligando o auto-policiamento e acionando o vale tudo. Vale cantar bem alto pelas ruas, levantar os braços e sacudi-los ao som de nossos ritmos internos, sambar com ou sem jeito, encher a cara de autoconfiança e de outras cositas más. Vale vestir roupas extravagantes que não usaríamos nos outros 360 dias do ano e, acima de tudo, deixar fluir um comportamento delirante. 

Eis, em poucas palavras, o reinado de Momo que, de quebra, embora poucos percebam, ainda nos traz um estado eficientemente estruturado. A economia movimenta vultosas finanças, o trabalho se aquece nos mais insuspeitados setores, afugentando os fantasmas da recessão, mesmo que apenas por alguns dias. Pelo menos durante o carnaval, temos a impressão de viver um tempo de verdadeira igualdade social. Fazemos um curso intensivo de história do Brasil através das letras dos sambas-enredo.

 Artesãos e músicos, dançarinos, costureiros, desenhistas e não sei mais quantas categorias têm oportunidade de exibir seus dotes e receber por isso. Da indústria e do comércio quase não é necessário falar, pois são evidentes seus sucessos. E deixamos por último o turismo, setor mais beneficiado, que carreia milhões de dólares do mundo inteiro para encher o prato da nossa balança comercial. E a saúde? Veja a da raça em exibição por todo o país, atrás dos trios elétricos, dos bumba meu boi, dos blocos de embalo, das escolas de samba. Nem parece o mesmo povo doente e raquítico do nosso Brasil República, afeito a quilométricas filas do INSS. Isso tudo sem falar do banimento da institucional corrupção. É difícil, no bom astral do carnaval, alguém perder tempo em roubar.   


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