18 de janeiro de 2011. Eu hoje acordei com uma “musiquinha” na cabeça: “É Paulo, é Paulo, é Paulo, é Paulo ô, ô, é Paulo Azevedo que merece o nosso amor!” Deste estribilho, o pensamento me levou aos antigos discursos “azevedianos” que se iniciavam com a tradicional saudação: “Meus amigos, minhas amigas, minhas queridas crianças!” Com esse cumprimento afetivo, Paulo Azevedo falava ao povo friburguense e, comum a um homem público, que se entrega à vida política, para muitos era um anjo, para outros tantos, um mito e perante os “adversários”, uma ameaça ao “concorrente”.
Hoje, nesta manhã de céu azul, “depois da tempestade”, no meu “rio de lágrimas”, livre de qualquer sintoma político, partidário, meu pensamento me levou à Biblioteca Cirene Bravo Souza, onde, certeiramente, peguei o livro - “Afinal, Quem tem medo de Paulo Azevedo?”, escrito pelo estimado e brilhante professor Alexandre Gazé, editado em julho de 1996.
Gosto de abrir livros ao acaso, e assim o fiz, caindo nas páginas 50 e 51, de onde transcrevo alguns de seus dizeres: “Eu sou um cara emotivo”. Graças a Deus tenho sido um homem simples que não se deixou levar pela vaidade do poder, porque entendo que ele é efêmero e passageiro”.
Mais adiante, Paulinho pensava no futuro: (...)“no meio de tantas brutalidades e violências, o objetivo é mostrar à criança que há outro lado da vida, um lado mais bonito, que é o sentimento de solidariedade.”
Na mesma sequência, agradecimentos: “Vocês que me ouvem, que têm me acompanhado durante muito tempo, que nas orações diárias lembram do Paulinho, pedindo pela minha segurança, sou muito grato a vocês. Gostaria de ter tempo para me multiplicar, agradecer e abraçar a todos vocês.”
Caros leitores de A Voz da Serra: eu poderia dar continuidade aos relatos, transcrevendo trechos e mais trechos emocionantes desta obra literária e confesso que em setembro de 2010, quando organizávamos a nossa biblioteca, tive um sentimento de orgulho por possuir, em casa, um livro assim especial que retrata a intimidade de um friburguense com sua terra.
Nosso momento é de profundo pesar. A desolação, a tristeza, a tormenta são sentimentos que se multiplicam com todos os seus sinônimos, sentimentos que, inclusive, afetam o mundo que nos assiste e ergue os braços em orações por todos nós de Nova Friburgo.
Nesta tragédia, incomensurável, também se foi o Paulinho! Não sei se a frase precisa de um ponto de exclamação ou se seria melhor uma interrogação, indagando o motivo de tamanho desfecho trágico?
Retornando ao livro do professor Gazé, na página 75, mais um relato de Paulinho: (...) “O poder não é eterno. Os que o exercem se não o fazem com dignidade e com alto sentido de servir, dentro de um período muito curto, estarão sendo julgados pelo povo. E eu imagino que, à semelhança de tantos, eu haverei de ser julgado.” (...) “ tenho me dedicado de corpo e alma a esta terra, à nossa terra. A terra que um dia me viu nascer e que haverá um dia de cobrir aquilo que de mim haverá de restar como simples mortal.”
Choramos a morte de cada um de nossos irmãos friburguenses e por todos os nossos habitantes levados pela catástrofe. Choramos por Paulinho. O Paulinho alegre, positivo, popular, corajoso, empreendedor que tanto fez pela nossa cidade. O Paulinho questionador, aclamado, criticado, companheiro, boa gente! O Paulinho que ajudou o “cultivar” a nossa terra, a mesma terra que se deitou, de forma brutal, sobre seu corpo. Entretanto, sua Alma já está num Reino Especial, o reino reservado aos que trabalham e dão de sua vida em prol de uma cidade. Não sei se há palavras consoladoras para os seus familiares e para o povo que tanto o ama, mas na página 73 do livro histórico, Paulinho nos conforta: “Eu vou morrer, isso não é brincadeira para ninguém não. Vou morrer de amor por este povo.”
Elisabeth Souza Cruz
Deixe o seu comentário