Vinicius Gastin, direto da Granja Comary / Fotos: Rafael Ribeiro-CBF
Se todo grande time começa por um bom goleiro, a Seleção Brasileira tem motivos que vão além dos três convocados para comemorar. Julio Cesar, Jéfferson e Victor venceram uma acirrada disputa com outros jogadores de alto nível da posição, como Diego Cavellieri e Fabio. Não seria surpresa caso um destes dois integrasse a lista final de Luiz Felipe Scolari, neste que, talvez, seja o setor onde o técnico esteja melhor servido. A boa safra de goleiros brasileiros terá como principal missão superar um fantasma que permanece assombrando o futebol nacional quando o assunto é Copa do Mundo no Brasil. A falha de Barbosa no segundo gol uruguaio na decisão do mundial de 1950, no Maracanã, ainda repercute. O arqueiro do Vasco da Gama foi apontado
como um dos principais vilões do vice-campeonato e ficou um bom tempo sem sequer sair de casa por conta deste lance.
Experiente, Julio Cesar, o titular de Felipão, participou de quase 80 partidas pela Seleção Brasileira e entrará para o seleto grupo de goleiros que disputou duas Copas do Mundo como titular — apenas Leão e Gylmar conseguiram o feito. Além da pressão pela redenção pessoal, o jogador do Toronto FC ainda carrega o peso do gol de Ghiggia.
"Não há uma entrevista sem essa pergunta. Aconteceu, e criou-se algo muito forte em relação a isso. A nossa posição é muito ingrata e digo isso por experiência própria. A gente procura esquecer quando essas coisas acontecem. O Barbosa era um goleiro formidável, pois jogou uma Copa no Brasil. Pode acontecer com qualquer um, como aconteceu comigo. O importante é ter força para seguir em frente.”
Julio Cesar viveu situação semelhante após sofrer o gol que eliminou a Seleção Brasileira da Copa do Mundo de 2010, no jogo contra a Holanda. Protagonista no lance decisivo, ele reconhece que a falha tornou a convocação para o mundial deste ano questionável por parte dos torcedores. O goleiro passou por momentos conturbados na Inter de Milão, ainda naquele ano, e no início da temporada trocou o Queens Park Rangers, da segunda divisão da Inglaterra, pelo Toronto FC, do Canadá. Contudo, garante estar preparado para reescrever a própria história na Seleção.
"Estou muito melhor que há quatro anos, apesar de na época eu ter sido considerado o melhor goleiro do mundo. Me sinto mais preparado. Na adversidade, nós temos que tirar algo de positivo, e eu tirei muitas coisas. Depois da Copa, eu tive problemas com a Inter de Milão, e ano passado, com Q.P.R. Tive muita força para estar na Copa hoje. Eu sabia que teria dificuldades no retorno à Inglaterra. A Copa das Confederações não foi o suficiente para que eles apostassem em mim para esta temporada. Eu queria jogar e me preparar bem. Chego questionado, mas feliz por participar de mais uma Copa.”
Aos 34 anos, Julio Cesar é maduro o suficiente para reconhecer que não jogou um número suficiente de partidas neste ano — atuou apenas em sete jogos da Major Soccer League e sofreu nove gols. A confiança depositada por Felipão e Parreira pesou para o retorno ao gol brasileiro.
"Se não fosse por eles, talvez eu não estaria aqui. Eu tenho que acreditar no meu trabalho e sei o quanto eu posso colaborar. Acho que a Copa das Confederações trouxe uma força muito grande em termos de Seleção. A pressão é normal. Vou para a minha terceira Copa e espero ganhar, não para pagar uma dívida com o torcedor, mas para
realizar um sonho. Quando estava no aeroporto, parei para pensar na felicidade de jogar uma Copa aqui no meu país. Essa é a diferença e que torna a Copa especial.”
Jefferson
Victor
Disputa em aberto
Durante os treinos, jogos e entrevistas, Felipão faz questão de reiterar a confiança em Julio Cesar. No entanto, o fato de contar com três goleiros talentosos deixa a disputa pela titularidade em aberto. Pelo menos essa é a aposta de Jéfferson, considerado por boa parte da crítica como o melhor da posição no futebol brasileiro atualmente. "É uma disputa sadia. Estou ao lado de dois grandes goleiros e amigos, e respeito como pessoas e profissionais. Todos estão aqui para buscar o próprio espaço. Vamos treinar e nos esforçar para que o Felipão possa escolher. O Julio Cesar foi o melhor da Copa das Confederações, e hoje ele é o goleiro titular por tudo o que ele representa para a Seleção. Digo que a vaga está em aberto porque vamos treinar e acatar a decisão do treinador para buscar o título. Pelo o que demonstramos na Copa das Confederações, a Seleção entra para ser campeã e não podemos fugir disso. É uma pressão boa e estamos concentrados. Mas temos que manter os pés no chão e nos ajudar dentro de campo.”
Um dos principais nomes do Atlético-MG na conquista da Taça Libertadores em 2013, Victor corre por fora nesta disputa. Preterido por Dunga em 2010, o arqueiro do Galo afirma que a convocação significou uma vitória pessoal e profissional, e afirma estar preparado para brigar pela posição.
"A recepção foi a melhor possível. Convivi com a maioria dos jogadores e a amizade e companheirismo dentro da Seleção são muito presentes. Em 2010 não deu certo porque talvez eu não tivesse feito o suficiente. Hoje me sinto muito mais preparado e maduro para estar no grupo e representar o país na minha casa. Toda a frustração foi revertida em felicidade plena este ano.”
Fã do goleiro Jéfferson, a friburguense Isabella Neves torce para que seu ídolo seja o titular
Semelhanças entre os goleiros
Convocados por Felipão possuem características em comum
Julio Cesar, Jéfferson e Victor. O primeiro atua no Canadá, o segundo no Rio de Janeiro e o terceiro em Minas Gerais. O arqueiro do Toronto tem a experiência de uma Copa do Mundo como ponto favorável, enquanto Jéfferson mantém a regularidade de boas atuações pelo Botafogo e Victor é idolatrado pela torcida do Atlético-MG, sobretudo depois da conquista da Taça Libertadores no ano passado.
Apesar das diferenças nas trajetórias dentro do futebol, os três goleiros escolhidos por Felipão possuem características semelhantes. Todos eles, por exemplo, são canhotos. "Isso talvez ajude na habilidade e traz algumas vantagens, mas não foi o suficiente para eu me tornar um centroavante matador”, brinca Victor.
Outro fator em comum é a idade. Julio Cesar, Jefferson e Victor já ultrapassaram os 30 anos, o que é visto como fato positivo pelo goleiro do Galo. "Depois dos 30, o goleiro consegue entender melhor os atalhos na grande área, se aprimora tecnicamente e aprende a lidar melhor com as situações de pressão.”
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