Clube de Regatas Vasco da Gama e Clube de Regatas do Flamengo. Em comum, apenas as expressões iniciais do nome oficial. Eternos adversários em campo, os dois times sustentam também a rivalidade entre os torcedores. No entanto, pelo menos quando o assunto é coleção, o companheirismo ainda predomina. Vascaíno apaixonado, o porteiro Alex Moreira, de 37 anos, atingiu a marca de mil itens relacionados ao clube, desde chaveiros, relógios, quadros, recortes até o último modelo de camisa utilizada pela equipe. O milésimo item, uma medalha comemorativa do título da Copa do Brasil de 2011, acreditem, foi doado por um flamenguista: o colecionador Rogério Albertini.
"É um grande prazer receber o material dele. Nós somos amigos e sempre trocamos alguns itens. Quando recebo algo do Flamengo, eu logo encaminho pra ele. O Rogério já doou camisa, bandeira, relógio e outros. Nos dias atuais, quando as torcidas rivais marcam para brigar uma com a outra, esse fato é bem significativo. Isso prova que as torcidas de Vasco e Flamengo não são formadas por vândalos, como aqueles que se envolveram na briga em Joinvile, com a torcida do Atlético-PR.”
A paixão clubística não é a única diferença entre eles: Albertini coleciona produtos de todos os times cariocas. Dono de grande acervo, ele ficou sensibilizado com a possibilidade de participar da marca histórica do cruzmaltino e, por isso, comprou a medalha pela internet para fazer a doação. O artigo faz parte de uma edição limitada e possivelmente não será mais encontrado pelo colecionador.
"O colecionador vai além da paixão pelo clube, então tenho produtos de todos os times. Eu quero é ter a história guardada para contá-la. Estou me desfazendo de um item raro para ajudar o Alex a chegar à marca. Poderia ser um chaveiro ou algo mais simples, mas por ser o milésimo precisava ser especial. Comprei de um rapaz de Santa Catarina”, conta.
Há menos de um ano, Alex Moreira somava 855 itens em sua coleção. A reconhecida paixão pelo Vasco também sensibilizou as pessoas que convivem com o porteiro: em pouco tempo, adquiriu outros 145 e atingiu a marca. Recentemente, a neta da esposa de Alex esteve em Fortaleza, no Ceará, e trouxe um barco personalizado do clube para presenteá-lo. Dentre os últimos itens da coleção estão um selo, uma toalha, uma camisa, que seria doada pela vizinha a um bazar, e uma foto do Cristo Redentor "vascaíno”, embutida em um azulejo. O colecionador conta que não foi fácil conseguir o objeto, fruto de uma longa negociação.
"A maioria é doação, mas eu também compro bastante coisa. Quando eu passo em uma loja e vejo o produto, eu compro. Eu estava saindo do Cristo Redentor e o vendedor queria me cobrar 20 reais por esse quadro. Eu bati o pé e disse que não pagaria. Chorei bastante com ele e consegui pagar metade do preço.”
Bandeira deve ser o próximo item
A caminho dos 1.500 itens, o colecionador vascaíno já sabe qual será a próxima aquisição. A torcida organizada do Vasco da Gama, a Força Jovem, promete doar a primeira bandeira do grupo em Nova Friburgo. O equipamento, utilizado por diversas vezes nos estádios pelo Brasil, deve compor o acervo de Alex em breve. "Ao fazer a doação, eles terão a certeza de que o material estará bem guardado. Esse é um ponto positivo do colecionador. O Thiago, líder da torcida, é que deve me entregar.”
Para armazenar tantos produtos, o colecionador já pensa em comprar outro baú – personalizado com o escudo do Vasco, logicamente – para guardar os novos objetos. Em casa, um novo espaço já está preparado. "Por enquanto, coloco muita coisa em cima do guarda-roupa. A minha esposa já está reclamando, mas eu consigo convencê-la”, garante.
Sugestão: O Dia do Colecionador
Por todo o Brasil, milhares de colecionadores conservam parte da história de instituições, clubes, peças, objetos e outros itens. Entretanto, apesar de o dia 1º de agosto celebrar o colecionador de selos, não existe um dia específico para homenagear aos apaixonados por artigos do passado. Rogério e Alex reivindicam uma data e revelam que irão procurar um meio de colocar a ideia em prática.
"Existem muitos outros colecionadores na cidade. Vamos procurar os meios legais para solicitar que esse dia seja implantado, independente do que a pessoa colecione. Pode ser chaveiro, selos, carros e muito mais.”
A proposta, inclusive, prevê um evento para a exposição dos artigos em uma feira. O objetivo é reunir todos os colecionadores da cidade em um mesmo local e proporcionar aos visitantes uma verdadeira viagem ao passado. Ainda este ano, Rogério Albertini projeta uma homenagem aos 20 anos da morte de Airton Senna, mas encontra dificuldades para encontrar um local onde possapara realizar a mostra. "Procuramos espaço para expor os nossos artigos e não conseguimos. Quero fazer a exposição sobre os 20 anos da morte do Airton Senna e estou com dificuldades. Poderíamos utilizar o Centro de Turismo ou o Centro de Arte, por exemplo.”
Agremiação confecciona camisa especial para o colecionador
Apaixonado pelo Vasco e por futebol, como bom brasileiro, Alex Moreira também é fã de carnaval. Na folia friburguense, o coração alvinegro veste o verde e branco quando o assunto é a festa de Momo. A mistura das duas paixões resultou na confecção de uma camisa especial, feita pela Vilage no Samba, e doada por um dos diretores da escola. "O Paulão, da diretoria, foi quem doou essa camisa pra mim. Guardo com muito carinho, pois é a única de uma escola de samba de Nova Friburgo neste estilo.”
O desenho estampado na camisa verde traz uma imensa letra "V”, de Vasco e Vilage, segundo Alex. Ao lado do símbolo da agremiação carnavalesca está o nome do clube cruzmaltino e entre eles, a inscrição "Cocada 1988”, em referência ao autor do gol do título carioca conquistado sobre o Flamengo, há 16 anos. "Eu fui o primeiro a receber essa camisa e ganhei como um reconhecimento pela minha paixão pelo Vasco e pela escola. Guardo com muito cuidado e carinho.”
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