Clube de Xadrez: a difícil tarefa de administrar dívidas

Clube do Centro perde parte do patrimônio para pagar contas de água
segunda-feira, 30 de junho de 2014
por Eloir Perdigão
Clube de Xadrez: a difícil tarefa de administrar dívidas
Clube de Xadrez: a difícil tarefa de administrar dívidas

Alda Helena de Cássia da Silva Medeiros é professora de educação física, mas foi instada a ser administradora de dívidas ao assumir a presidência do tradicional Clube de Xadrez. E olha que não se trata de café pequeno, e sim, dívidas enormes. Até ameaças de leilão do clube Alda tem enfrentado. Ela conseguiu saldar a maioria das dívidas, porém restou uma, a maior: da água. E, por conta disso, a parte alugada para o Espaço de Convivência da Pessoa Idosa está sendo negociada com a Prefeitura para pagamento dessa dívida. Assim, ela espera deixar o clube em melhores condições para a próxima diretoria em 2015.

Alda frequenta o Xadrez desde os 8 anos, é arrendatária da academia desde 1999 e desde 2006 se vê às voltas com as contas do clube, quando foi empossada como tesoureira. Dois anos depois, passou a presidente e a luta continuou. Aprendeu na prática a lidar com dívidas de todo tipo: salários em atraso, INSS, água, tributos, entre outras. O valor total espantava, já que o clube não tinha dinheiro para saldá-las. E o pior: a situação já havia parado na Justiça. 

E aí começou sua via-crúcis. Por ter sua academia no clube e estar ali todo dia, resolveu enfrentar a situação. Nem alvará o Xadrez tinha, o que só foi resolvido recentemente, com toda documentação exigida, passando pelo Espaço de Convivência, caixas de incêndio, portas de emergência, questões ambientais e sanitárias, entre outras, sem contar as despesas que isso acarretou. 

O aluguel do Espaço de Convivência foi uma das soluções. Serviu para pagamento da dívida do INSS. Em consequência, os sócios deixaram de usar a quadra; o salão já não era mais usado. Mas esse aluguel não dava para suprir as outras dívidas. Alda iniciou, então, um trabalho minucioso para diminuir despesas. A conta de luz era cara e ela conseguiu diminuir separando as contas do clube, academia e Espaço de Convivência, e está refazendo toda a instalação elétrica do clube. 

Assim, Alda aos poucos tomou dimensão do fardo que carregava e foi cuidando de administrar cada detalhe. E os problemas brotavam de todos os lados. Até intimações da Justiça. "Eu fui sabendo o que estava errado conforme chegava pra mim”. E ela apresentava tudo à diretoria e demais sócios. 

A água do Xadrez chegou a ser cortada em 2007 e Alda não titubeou em perfurar poços. Tudo informado ao Inea. Afinal, ela não queria se comprometer mais ainda do que já havia herdado. 

MAIS SÓCIOS – Num ponto, Alda teve sorte. O verão de 2009 foi intenso, com muito calor em Nova Friburgo e sem chuvas. Ela instituiu, então, a entrada para não sócios e a condição de sócios provisórios. E isso rendeu um bom dinheiro. 

A presidente foi criticada por essa medida, mas pelo menos levantou o caixa do clube. Algumas dessas pessoas permaneceram, passando à condição de sócios, contribuindo para uma arrecadação mensal um pouco melhor. Em função disso, atualmente os não sócios só ingressam no clube mediante convite de sócios. Situação que só foi possível com a casa mais bem organizada. E há títulos à venda.

PENHORA e DESAPROPRIAÇÃO - Mesmo com a situação permitindo respirar, a dívida da água parece um fantasma rondando o Xadrez. "É impagável”, afirma Alda. Por causa dessa dívida, todo o clube estava penhorado. Tudo poderia ser perdido. Clube e Prefeitura passaram a se entrosar visando uma desapropriação da parte já alugada para o Espaço de Convivência. 

No entanto, a Prefeitura também não tem dinheiro suficiente para pagar tudo de uma só vez. "Então falta dinheiro para todo mundo. Falta para mim, para que eu possa pagar dívidas, e falta para eles, para arrematarem o espaço todo no valor que tem que ser, aprovado pela maioria”, salienta a presidente. Ela diz que é melhor dessa forma do que os sócios perderem tudo. E assim Alda vai seguindo o caminho das pedras e possibilitando aos sócios usufruir dos benefícios que lhes restam. "No verão, principalmente, tem ficado ótimo”, frisa.

Os mais de 300 sócios do Xadrez pagam taxa mensal de R$ 55 e têm à disposição o famoso Xadrezinho, com baile aos sábados, tipo sertanejo, e jiu-jítsu; piscina, sauna, espaço (tipo varandão) onde se apresenta o Clube da Música, academia de ginástica (com desconto), bar e churrasqueira. O Colégio Objetivo arrenda a piscina para natação dos alunos e a varanda do Xadrezinho ganhará janelões para bailes tipo forró.

MELHORES CONDIÇÕES – Administrando assim, com firmeza e vontade de acertar, Alda ainda convive com a dívida da água. No mais, já está colhendo os frutos de sua tenacidade. O clube está em obras, o famoso Xadrezinho ganhou três novos lustres e será todo pintado, enfim, os planos da presidente é fazer uma reforma completa.

Desse jeito, daqui a um ano o Xadrez estará todo reformado e Alda pretende passar a administração para a próxima diretoria em situação bem mais confortável do que quando assumiu.

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TAGS: Clube de Xadrez | dívida | economia
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