COMO disse sabiamente o maestro e compositor Tom Jobim, "o Brasil não é um país para principiantes”. Tinha razão. Como exemplo dessa complexidade tupiniquim, até o golpe militar de 1964 que destituiu o presidente João Goulart e mergulhou o país numa barbárie repressiva foi concebido de maneira peculiar, diferentemente dos outros golpismos que travaram a democracia pelo mundo afora.
ALIÁS, até a nossa República foi proclamada em 1889 através de um golpe destronando o império e instituindo um governo militar. O Brasil não é mesmo um país para principiantes. Passados 50 anos do golpe de 1964, a História avalia o período como de luta pela democracia travada pelos movimentos populares, no movimento estudantil, na Igreja Católica e nos sindicatos, deixando a discussão política em segundo plano.
NOS primeiros quatro anos do golpe a oposição manteve uma luta constante, notadamente através dos movimentos político-culturais espalhados pelo país, durando até a publicação do AI-5, em dezembro de1968. A ditadura brasileira viveu 11 anos de chumbo até 1979, em uma era de prisões, cassações, torturas e assassinatos, quando houve o fechamento do regime.
EM entrevista publicada ontem no jornal Folha de São Paulo, o general de exército e ex-ministro Leônidas Pires Gonçalves fez uma dura defesa da revolução de 1964 afirmando que não existiu ditadura e que o golpe militar foi "absolutamente democrático”. A direita não se convenceu, passado meio século, que a ditadura "prendeu, bateu e arrebentou” os cidadãos brasileiros, retardando o nosso desenvolvimento nacional.
COM A abertura lenta gradual e segura do general Geisel, o país finalmente conseguiu respirar os ares da democracia, obtida, a duras penas, após reveses como as Diretas Já, o fechamento do Congresso, a censura e a morte do jornalista Wladimir Herzog nos porões do II Exército em São Paulo.
HOJE, 50 anos depois, vale a pena homenagear os nossos mortos, enxugar as lágrimas dos parentes dos desaparecidos, advertir nossa juventude dos perigos que a falta de liberdade causa aos indivíduos e da firme resistência pela democracia. Vivemos uma era em que os inimigos são outros, assim como são as novas ditaduras determinadas pela injustiça social, pela globalização e pelo capitalismo.
PORÉM, acreditamos em nosso futuro. O Brasil já sofreu demasiado. A hora é de renovarmos as nossas esperanças sem os vícios do passado. Os poderes constituídos e as forças democráticas devem estar vigilantes.
NO DIA 31 de março de 1964, editorial do jornal Correio da Manhã afirmava com todas as letras: "Qualquer ditadura no Brasil representa o esmagamento de todas as liberdades, como aconteceu no passado e como tem acontecido em todos os países que tiveram a desgraça de vê-la vitoriosa. O Brasil não é um país de escravos”. Ainda concordamos com esta afirmação.
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