Cinema - “Quando o dedo aponta o céu, o idiota olha para o dedo”... Amélie Poulain

sexta-feira, 05 de setembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra
Cinema - “Quando o dedo aponta o céu,  o idiota olha para o dedo”... Amélie Poulain
Cinema - “Quando o dedo aponta o céu, o idiota olha para o dedo”... Amélie Poulain

Antonio Fernando

Filha de "um refrigerador com uma neurótica”. Esta genealogia complexa, conforme o narrador do filme, gerou Amélie Poulin, a personagem de um dos maiores fenômenos da história do cinema francês: "O Fabuloso Destino de Amélie Poulin” (2001), dirigido por Jean Pierre Jeunet e estrelado pela irresistível Audrey Tautou. O diretor atingiu o objetivo de fazer a plateia se sentir feliz. Usou e abusou de efeitos singelos, porém de grande impacto visual com muito romantismo e uma dose de inocência. É um filme tipicamente francês. Uma fábula contemporânea.

Amélie, uma solitária garçonete num café de Montmartre, apreciava os pequenos prazeres da vida, como enfiar as mãos numa saca de cereal na mercearia ou ricochetear uma pedrinha no lago. Sua vida começa a mudar no dia da morte da Princesa Diana num acidente automobilístico em Paris. Tonta com a notícia, descobre em seu quarto, escondido num pequeno buraco, uma caixa de recordações de uma criança. Curiosa, sai em busca do proprietário até encontrar o tímido Nino, representado pelo diretor e ator Mathieu Kassovitz, balconista de uma sex shop e colecionador de fotos descartadas por clientes numa estação de metrô.

Ao ser reapresentado ao seu passado, Amélie descobre sua verdadeira vocação: fazer os outros felizes. O artifício serve também para adiar a busca por sua própria realização, que ela teme não encontrar. Não que não sonhe com ela. No papel de seu príncipe, Amélie imagina o tímido Nino.

O diretor Jean Pierre Jeunet coloca no filme todo o encantamento de Paris, criando uma atmosfera de sonho e fantasia. Montmartre, um bairro tão banalizado pelo turismo, parece uma montanha encantada. Os fregueses do café Deux Moulins são tipos esquisitos, mas, à sua maneira, adoráveis. As nuvens têm forma de animais, as cores são saturadas e o calçamento brilha sob a iluminação pública. Quando Amélie encontra Nino pela primeira vez, pode-se ver seu coração vermelho-elétrico batendo no peito.

O filme tem inúmeros motivos para ser visto e revisto. A trilha sonora é muito bem feita combinando com toda a harmonia da fábula francesa. Os cenários são encantadores, assim como as locações caprichadas feitas por Jeunet. Amélie Poulin  é especial também por causa de Audrey Tautou. Seus olhos enormes, que a câmara sempre procura, combinam enormemente com o irrequieto personagem e foram o que primeiro atraiu a atenção do diretor, que a convocou para um teste e, segundo sua estimativa, não demorou mais do que dez segundos para contratá-la. Coube a ele inventar todas as coisas belas para emoldurar Audrey.

A atriz também deixa no filme frases curiosas de um personagem tão cativante, como "Estranho o destino dessa jovem mulher, privada dela mesma, porém, tão sensível ao charme das coisas simples da vida...” ou "Pois estragar a própria vida é um direito inalienável”, e ainda "Amélie vai ao cinema de vez em quando, às sextas. Gosto de observar na escuridão as caras dos outros espectadores. E de notar o pequeno pormenor que mais ninguém verá. Mas odeio nos antigos filmes americanos que os condutores não olhem para a estrada. Amélie não tem nenhum homem; experimentou uma ou duas vezes, mas o resultado ficou aquém da expectativa. Em vez disso cultiva um gosto especial pelos pequenos prazeres”. E, "Sem você as emoções do amanhã serão apenas pele morta das emoções do passado”.

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