Antonio Fernando
Quando o assunto é literatura, logo o cinema é lembrado trazendo discussões acerca da fidelidade ao texto literário, além do velho comentário de que "o livro é melhor que o filme”. Porém, vale a reflexão: ao lermos uma obra, cada um a interpreta de uma maneira diferente, cada um tem suas perspectivas e sensações a respeito daquilo que lê. Além disso, o tempo para a obra cinematográfica é um tanto reduzido, o que não permite reproduzir todos os detalhes de uma narrativa.
A obra literária não é hermética e cabe ao leitor interpretá-la de forma subjetiva, seja consciente ou inconscientemente. O sucesso do texto literário só é obtido quando o leitor adiciona a ele suas experiências de vida, quando traz suas bagagens, isto é, seu conhecimento de mundo. Já dizia o escritor João Ubaldo Ribeiro, falecido ano passado, a respeito do romance: "Um romance são tantos romances quantos forem seus leitores”. Portanto, não podemos sempre esperar que um filme acerte em cheio, que seja extremamente fiel ao livro e à nossa interpretação.
Inúmeras obras literárias, clássicos nacionais e estrangeiros, foram transpostas para as telas, com muito ou pouco sucesso. Nomes como Shakespeare (Romeu e Julieta), Victor Hugo (Os Miseráveis), Jane Austen (Orgulho e Preconceito), Goethe (Fausto), Jules Verne (20 mil léguas submarinas), Tolstoi (Ana Karenina) e Scott Fitzgerald (O Grande Gatsby) são alguns exemplos. Mas, vamos ao que interessa. Como o Caderno Light desta semana trata dos escritores, mais especificamente os friburguenses, separamos algumas obras da literatura brasileira que foram para o cinema. Vocês já assistiram a alguns deles? Confiram:
Memórias Póstumas de Brás Cubas
O filme Memórias Póstumas de Brás Cubas (2001) é baseado no livro homônimo de Machado de Assis, um clássico da literatura brasileira. A adaptação conta com a direção de André Klotzel.
O Auto da Compadecida
O bem humorado O Auto da Compadecida (2000) é baseado na peça teatral homônima, escrita em forma de auto e em três atos, do grande Ariano Suassuna. Direção de Guel Arraes e roteiro de Adriana Falcão.
Capitães de Areia
Baseado no livro homônimo de Jorge Amado, Capitães de Areia (2011) foi dirigido por Cecília Amado (neta do escritor). O filme se passa em Salvador, com trilha sonora de Carlinhos Brown.
Cidade de Deus
O filme Cidade de Deus (2002) é uma adaptação do romance homônimo de Paulo Lins, que é baseado em fatos reais. Para escrever o livro, o autor utilizou parte do material coletado durante os oito anos em que trabalhou como assessor de pesquisas antropológicas sobre a criminalidade e as classes populares do Rio de Janeiro. Direção de Fernando Meirelles e Kátia Lund.
A Hora da Estrela
O filme A Hora da Estrela (1985) é baseado no romance sobre o desamparo de Clarice Lispector, uma das maiores escritoras brasileiras, que possui o mesmo título. Direção de Suzana Amaral.
Bonitinha, mas ordinária
Bonitinha, mas ordinária é uma adaptação da famosa peça de Nelson Rodrigues: Otto Lara Resende ou Bonitinha, Mas Ordinária. A obra já teve três adaptações para o cinema, a mais recente é de 2013, dirigida por Moacyr Góes.
Sargento Getúlio
O filme Sargento Getúlio (1983), dirigido por Hermano Penna, com roteiro assinado por Flavio Porto, Hermano Penna e João Ubaldo Ribeiro, sendo este autor da obra homônima. A adaptação é baseada no romance que garantiu a revelação do escritor e seu prestígio internacionalmente.
Estorvo
O filme Estorvo (2000), dirigido por Ruy Guerra, é uma coprodução cinematográfica entre Cuba, Portugal e Brasil. A obra é baseada no livro homônimo do escritor, mais conhecido como o grande nome da música brasileira, Chico Buarque. Foi o primeiro livro de Chico.
A lista não para aí. Temos dezenas e dezenas de obras literárias que foram parar na tela. Quase todo o alfabeto tem títulos de obras literárias: A Cartomante, A Dama da Lotação, A Estrela Sobe, Boca de Ouro, Capitu, Caramuru, Dona Flor e seus dois maridos, Feliz Ano Velho, Gabriela, Jubiabá, Quarup, Macunaíma, Navalha na Carne, O Beijo no Asfalto, Orfeu, Quincas Borba, Sagarana, Tenda dos Milagres, Tieta do Agreste, Vidas Secas, e por aí vai. A literatura brasileira e o cinema estão, enfim, juntos para sempre.
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