Cinema com carteira assinada

Na coluna de hoje, listo a evolução do cinema “trabalhista”
sexta-feira, 01 de maio de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Cinema com carteira assinada

Os chamados filmes sociais, que retratam os dramas humanos, sempre tiveram espaço na indústria cinematográfica, relatando o cotidiano das pessoas: quer mostrando as dificuldades do relacionamento em família, quer nas relações amorosas e de trabalho. O meio artístico, por ter como uma de suas principais ferramentas, a emoção, tampouco escapa da problemática relação humana. Enfim, o tema instiga debates, provoca discussões.

Na área do trabalho, o cinema produziu grandes filmes e frequentemente os produtores nos apresentam situações questionando o interminável embate entre o capital e o trabalho. 
Desde ‘A greve’, dirigido pelo cineasta russo Sergei Eisenstein, em 1924, até ‘Lula, o filho do Brasil’, de Fábio Barreto (2009), o cinema visitou fábricas, mostrou demissões, greves, acompanhou movimentos sindicais, denunciou a escravidão e registrou grandes momentos, realçando líderes trabalhistas, e combateu a exploração do capitalismo sobre a força do trabalho.

Na coluna de hoje, listei a evolução do cinema “trabalhista”, com histórias de vitórias e derrotas, numa prova de que o cinema estará sempre de olho nesta complicada relação, cheia de humanismo, entre trabalhadores e patrões.

A greve, de Sergei Eisenstein (1924): Retrata um levante operário numa fábrica russa, onde os trabalhadores são instigados à rebelião pela ganância e desonestidade dos patrões. Primeira de uma série de obras sobre a ascensão do domínio do marxismo-leninismo. 

A classe operária vai ao paraíso, de Elio Petri (1972): Um funcionário exemplar é admirado pelos patrões e odiado pelos empregados. Vive alienado até que sofre um acidente e passa a ver a vida por outro ângulo político. Palma de Ouro, em Cannes.

Eles não usam black-tie, de Leon Hirszman (1980): Operário, cuja namorada está grávida, decide furar greve liderada por seu pai, gerando um conflito familiar. Baseado na peça de Gianfrancesco Guarnieri, o filme recebeu diversos prêmios internacionais, inclusive dois em Veneza, em 1981.

O homem de ferro, de Andrzej Wajda (1981): Na Varsóvia dos anos 80, o partido escala um jornalista playboy e alcoólatra para infiltrar-se num grupo de trabalhadores em greve e aproximar-se de seu líder, cujo pai fora morto nos protestos de 1970. A intenção é sabotar o movimento, mas a dúvida o corrói. O filme mostra em flashbacks a história do nascimento dos sindicatos poloneses e do Solidariedade, incluindo uma ponta de Lech Walesa. Palma de Ouro, em Cannes. 

Pão e Rosas, de Ken Loach (2000): Duas irmãs mexicanas trabalham como faxineiras em Los Angeles, sem qualquer proteção trabalhista e um patrão abusivo. Com a ajuda de um ativista americano, namorado de uma delas, decidem se rebelar, mesmo correndo o risco de serem extraditadas. 

Norma Rae, de Martin Ritt  (1979): Sally Field ganhou seu primeiro Oscar e o prêmio de melhor atriz em Cannes, como uma mãe solteira, operária de uma fábrica de tecidos, que mora com os pais, também tecelões. Todos trabalham em condições degradantes, até a chegada de um sindicalista, vindo de Nova York, a princípio hostilizado pelos próprios operários. Aos poucos, a luta pela formação de um sindicato ganha adeptos. 

Como era verde o meu vale, de John Ford (1941): Durante a depressão dos anos 30, uma família se muda para uma cidade de mineradores e se empregam numa mina de carvão, nas piores condições de segurança possíveis. O dono da mina decide diminuir os salários de todos, o que deflagra uma greve de 22 semanas, que divide a família. Ganhou 5 Oscars, incluindo filme e diretor, derrotando Cidadão Kane, numa das maiores injustiças da história.

Hoffa, um homem, uma lenda, de Danny DeVito (1992): Jack Nicholson é o polêmico líder sindical Jimmy Hoffa, cujo misterioso desaparecimento nunca foi esclarecido. O filme mostra a sua luta para construir o mais influente sindicato dos EUA, sua ligação com a máfia e seu julgamento e condenação à prisão, por influência do então ministro Robert Kennedy. 

Billy Elliot, de Stephen Daldry (2000): Menino de 11 anos, filho de mineiro de carvão no interior da Inglaterra, sonha ser dançarino, enquanto seu pai quer que ele aprenda a lutar boxe. Mas, apaixonado pela dança, participa secretamente das aulas de balé, enquanto o pai enfrenta movimento grevista na mina em que trabalha. Primeiro longametragem do diretor Stephen Daldry, que produziu mais de 100 peças teatrais na Inglaterra. 

Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1930): Comédia visual, o filme relata o drama dos trabalhadores na grande depressão. Operário enfurecido por seu trabalho monótono e desumano, na esteira de uma linha de produção, é usado como cobaia de uma máquina de alimentar trabalhadores enquanto eles exercem suas funções. Chaplin confirma o que o mundo inteiro já sabe: ele é o melhor artista do cinema em todos os tempos. Imbatível.

 

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TAGS: Cinema | trabalhismo | trabalho | Dia do Trabalho
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