Cigarro, inimigo cruel

quinta-feira, 05 de abril de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Cigarro, inimigo cruel
Cigarro, inimigo cruel

Mesa-redonda debate as dificuldades de quem resolve parar de fumar

Dalva Ventura

Maria José Schimidt da Silva, a Zezé, fumou durante 38 anos. Três maços por dia. Foi preciso encarar um tumor, no ano passado, para ela se decidir por uma das maiores lutas que já teve de enfrentar na vida. A luta contra o cigarro.

“Como qualquer tabagista, chegou uma hora em que tive de fazer uma escolha e decidir entre morrer ou continuar fumando.”

Zezé diz que teve de se “agarrar a muitas coisas” para conseguir deixar de lado o cigarro, “aquela muleta que esteve presente em todos os momentos de minha vida, tanto na alegria como na tristeza”. Uma delas foi o grupo de tabagismo do São Lucas, onde recebeu todo o apoio que necessitava. Hoje, dez meses depois, ela já se considera uma não fumante.

“Os adesivos ajudam, as dicas dos psicólogos ajudam, mas tudo é uma questão de vontade. De vontade de viver. E não tem coisa mais bonita que respirar, que viver.”

O depoimento de Zezé abriu a primeira Ratera (Reunião de Apoio Terapêutica) do ano, com o sugestivo título de “Cigarro, inimigo cruel”. A mesa-redonda reuniu ex-fumantes, o cardiologista Jesuíno Cunha, a pneumologista Ana Acácia Lima e o psicólogo Clayton Brust. Foi na tarde de quinta-feira, 29, no auditório da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).

A boa notícia foi dada pelo cardiologista Jesuíno Cunha, que relatou ter acabado de voltar de um congresso em São Paulo, onde não foi apresentado qualquer trabalho sobre o fumo porque “os males do tabaco já se tornaram públicos e notórios”. O médico lembrou que já há algum tempo o cigarro vem sendo combatido de todas as maneiras, o que considera “alvissareiro”. Não se pode mais fumar em recintos fechados e em algumas cidades não se pode mais fumar nem mesmo na rua. Muitos jovens não fumam, o ato de fumar passou a ser encarado como algo negativo, destituído de qualquer glamour. Sim, felizmente tem havido progressos nesta área e já não era sem tempo. E não é só.

“Nós, cardiologistas, percebemos nitidamente que hoje em dia as obstruções das coronárias são menos frequentes que antes e isto se deve, com certeza, à guerra que vimos travando contra o cigarro. Que é, comprovadamente, o inimigo número um das coronárias.”

O doutor Jesuíno é um antitabagista ferrenho e já se tornou conhecido por ser radicalmente contra o cigarro. Como médico, não se constrange em advertir duramente seus pacientes que fumam e, principalmente, aos que continuam fumando mesmo depois de diagnosticado algum problema cardiovascular.

“Fiquei com esta pecha de ser anticigarro, um título que muito me agrada até. Se tivesse um Prêmio Nobel de Antitabagismo e eu ganhasse, ficaria muito feliz”, brinca.

A teoria na prática é outra

A pneumologista Ana Acácia Lima, coordenadora do grupo de tabagismo, diz que ao longo dos anos vem aprendendo muito com os participantes. E, admite, uma coisa é a teoria, outra é a vivência. Principalmente no caso da dependência química, afirma a médica, lembrando que o tabagismo é uma doença, descrita e catalogada como tal, no capítulo das dependências químicas.

“Comecei o grupo unicamente com a visão técnica, da médica que estudou como a nicotina atua no cérebro e coisas afins. Com os participantes do grupo eu vi o quanto esta ação é maior, muito mais ampla. Pois, ao lado da dependência química tem a questão psicológica, comportamental e que alimentam esta química de forma devastadora.”

Mesmo assim, destaca a médica, nunca é demais lembrar os dados aterradores associados ao tabagismo, em especial que este vício é considerado pela OMS a principal causa de morte evitável do mundo. “O cigarro é responsável pela morte de um em cada dez adultos do mundo”, afirmou.

O psicólogo Clayton Brust abordou as dificuldades vivenciadas por quem tenta, tenta e não consegue parar. Se tenho este conhecimento, isto é, se sei os males que o cigarro está me causando, por que não consigo abandonar este vício? Por que será? Bem, se fosse unicamente uma dependência química, bastaria colocar um adesivo e pronto. Estava resolvido o problema.

“O que leva alguém a fumar é o prazer que o cigarro oferece. Só que este prazer tem um preço alto, pede sempre mais. Geralmente, a pessoa começa fumando um, dois cigarros, depois toda vez que está ansioso, triste, aborrecido, apela para o cigarro. Passa a ser o companheiro de todas as horas, uma muleta, enfim.”

Mas chega uma hora em que a pessoa se vê diante de um impasse. Precisa parar. Seja por pressões da família, por iniciativa própria ou motivada por problemas de saúde, o fato é que todo fumante acaba passando por este duro momento.

“A palavra-chave nesta hora é motivação. Por exemplo, quando o fumante se dá conta, de verdade, de que se não parar de fumar vai morrer mais rápido. A participação em grupos de apoio como o nosso aqui do hospital ajuda muito, pois além do apoio terapêutico, as pessoas aprendem com as experiências dos outros participantes e têm acesso a uma série de dicas que podem ajudar. Por exemplo, a de fugir de locais e situações que estejam, de alguma forma, associadas ao ato de fumar.”

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