Diz o ditado popular que “à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”. A essência da mensagem — a sugestão que a respeitabilidade muitas vezes é um quesito em si mesmo, independentemente da conduta que deveria lhe dar respaldo — pode ser aplicada à perfeição ao momento atual do trânsito em Nova Friburgo. Afinal, desde que foi inaugurado, no último dia 7 de agosto, o programa Cidade Inteligente foi alvo de diversos prazos para que começasse a ser utilizado como ferramenta de fiscalização, não apenas das condutas relacionadas à mobilidade urbana, mas também ao Código de Posturas, à segurança e à própria preservação do patrimônio público.
Contudo, também diversas vezes, estes mesmos prazos acabaram sendo desmentidos, ainda que por razões justificadas. E o resultado inevitável é que, apesar de todo o potencial do sistema — que ninguém jamais questionou — basta uma volta rápida pelas principais vias da cidade para comprovar que as mesmas velhas práticas nocivas ao direito de ir e vir continuam sendo adotadas em larga escala por boa parte dos condutores a qualquer hora do dia.
O último destes prazos foi o dia 20 de outubro, data na qual as zonas de monitoramento por câmeras começaram a receber as placas de orientação aos motoristas. A VOZ DA SERRA deu a notícia em primeira mão, mas logo em seguida outros comunicadores questionaram a veracidade da informação com base em declarações dúbias de membros do primeiríssimo escalão do próprio governo, lançando novas dúvidas a respeito da efetividade da fiscalização.
Passadas duas semanas a notícia publicada por AVS mostrou-se verdadeira, e acaba de ser confirmada por nota da própria Subsecretaria de Comunicação. Segundo o secretário de Ordem e Mobilidade Urbana, Haroldo César Pereira, desde o vigésimo dia de outubro as câmeras de longo alcance vêm sendo utilizadas para a aplicação de multas a infrações detectadas na Sala de Controle, por agentes competentes para exercer esta função. Ainda segundo a nota, a maior parte das irregularidades observadas são relacionadas à prática da fila dupla, embora as câmeras tenham alcance suficiente, por exemplo, para identificar motoristas falando ao celular ou dirigindo sem cinto de segurança.
A questão principal é que não basta que as multas estejam sendo aplicadas: é preciso que todos tenham consciência disso. E, nesta missão de informar, às vezes o próprio governo acaba sendo o primeiro a dificultar o trabalho da imprensa, ao adotar mais de um discurso ou não divulgar informações importantes. Desde o dia 28 de outubro, por exemplo, a reportagem de AVS aguarda por respostas para três perguntas simples, enviadas mais de uma vez: quais as infrações que estão sendo observadas pelos agentes de trânsito? Infrações ligadas à Subsecretaria de Posturas também estão sendo alvo de monitoramento? Quantos autos já foram lavrados com auxílio das câmeras?
A situação é mais complexa do que pode parecer, uma vez que a aplicação das multas não é um objetivo em si, mas um recurso eventualmente necessário dentro de uma campanha de educação e conscientização. Portanto, até mesmo para que a cobrança não venha a ser questionada futuramente, é importante unificar os discursos e dar transparência aos atos, sem margem para dúvidas.
Confira a nota divulgada pela Prefeitura
A Secretaria Municipal de Ordem e Mobilidade Urbana da Prefeitura de Nova Friburgo informa que os autores de infrações de trânsito detectadas pela Central de Monitoramento do Programa Cidade Inteligente estão sendo multados. Desde o dia 20 de outubro, a equipe da central vem anotando e multando os infratores, que, em sua maioria, estão estacionando em fila dupla.
De acordo com o secretário municipal Haroldo Pereira, os motoristas devem ficar atentos, pois a central está aplicando as multas apenas pelas câmeras, sem que haja a necessidade de um guarda no local. Contudo, quando as ocorrências acontecem perto dos guardas, esses são acionados e inicialmente advertem os condutores. Caso a advertência não surta efeito, é aplicada a multa.
Em relação à fila dupla, Haroldo disse que a equipe da Central, que é composta por vários servidores, inclusive da Polícia Militar, foi orientada a observar uma tolerância, principalmente nos casos reconhecidos de desembarque de passageiros.
O número de multas ainda não foi divulgado, mas todas são enviadas para os órgãos competentes, que as expedem para os proprietários dos veículos. A infração para os casos mais comuns, que são os de fila dupla, valem cinco pontos na carteira, e o valor é de R$ 127.
O mais importante disso tudo, avalia o secretário Haroldo Pereira, não é multar, mas disciplinar o trânsito na cidade e, com isso, contribuir para a mobilidade urbana. “Desde que iniciamos esse trabalho de monitoramento através de nossas 32 câmeras, já percebemos uma melhoria considerável no trânsito e na disciplina. Percebemos que reduziu muito a prática da fila dupla”, afirmou.
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