Sem que os mais desatentos percebam, Nova Friburgo mergulha cada vez mais fundo na poluição visual. Sem mais delongas, é isso mesmo. Ela se alastra pela cidade, invadindo principalmente o Centro, com instalação de placas publicitárias, faixas, luminosos, folhetos e assemelhados distribuídos sem critério nem padrão pelas marquises, fachadas, laterais de prédios, pontos de ônibus, postes, etc etc etc. Com agravantes: em sua maioria, o material está visivelmente gasto, envelhecido, deteriorado, corroído pelo tempo. E, ainda: dependendo do material de que é feito, o panorama fica ainda mais deprimente. É nesta Nova Friburgo, cuja beleza e exuberância natural, urbanística e arquitetônica vem sucumbindo a cada dia, que estamos nos acostumando a viver.
A multidão indiferente caminha pelas ruas sem perceber a feiúra que toma conta do que lhe rodeia, olhando sem ver. É numa cidade assim que queremos viver? A questão já ultrapassou o que classificamos de poluição visual. É sujeira mesmo, em todo lugar: acima de nossas cabeças, sobre nós, sob nós, nos lixos que jogamos, sem critério e nenhuma educação, nas ruas. E como se não tivéssemos nada a ver com isso, damos de ombros, numa espécie de ...‘não estou nem aí’. Até o dia em que tudo isso desabe sobre nossas cabeças e o chão desapareça sob nossos pés. Pior: a enchente nos devolva tudo com juros e correção monetária.
Que tal fazer alguma coisa, se engajar num grupo ou criar uma campanha, para dar um rumo consciente e realista a essa questão? Nunca é demais lembrar: é dever de cada cidadão contribuir para a melhoria da qualidade de vida do coletivo. Uma cidade livre de poluição visual depende fundamentalmente de cada indivíduo, aliado ao poder público. A mudança deve começar de dentro para fora, com cada um assumindo seu papel de agente transformador da cidade onde vive. É preciso investir no desejo real de construir essa nova sociedade, sem radicalismos e intolerância, e abrindo mão das diferenças ideológicas. O que importa aqui e agora, é reconstruir Nova Friburgo, salvar o que ainda é possível.
Para se situar
Em julho de 2015, o Executivo de Nova Friburgo apresentou ao Legislativo um anteprojeto de Lei Complementar Municipal com a finalidade de promover a melhoria dos aspectos urbanístico e paisagístico do município. A matéria, intitulada Cidade Limpa, sugeria que os órgãos fossem eficazes, agindo pontualmente junto às questões que envolvessem poluição visual, lixo, perturbação do sossego, conservação dos passeios públicos segundo critérios mínimos de acessibilidade, dentre outros aspectos considerados relevantes.
O conteúdo do anteprojeto não agradou parte dos vereadores e quando foi apresentado na primeira audiência pública, em novembro de 2015, a plateia se manifestou contra, de maneira contundente, alegando que, “o projeto cerceia a liberdade de expressão, movimentos estudantis e religiosos, já que precisa de aval da prefeitura para serem realizados”. Por sua vez, representantes do Executivo retrucaram, argumentando que tal interpretação era equivocada. E fizeram questão de ressaltar que todos os pontos da matéria estavam abertos a negociação. No entanto, o anteprojeto esbarrou nas divergências entre vereadores e na reiterada insatisfação do público presente na última sessão extraordinária realizada na Câmara, em 30 de dezembro. O ano acabou e a questão voltou ao plenário em janeiro deste ano, quando se optou pelo seu engavetamento.
O respeito às leis está diretamente ligado ao nível de educação de um povo, em qualquer lugar do mundo. É o que se espera em relação ao novo projeto de lei Cidade Limpa que está sendo elaborado por um grupo de pessoas representativas de vários setores. Sendo aprovado, estaremos todos, então, sem exceção, sujeitos às regras definidas em comum acordo de todas as partes. Portanto, a participação da comunidade na redação final deste atual Cidade Limpa é fundamental para o seu pleno e democrático funcionamento.
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