Eloir Perdigão
Na manhã de domingo, 24, cerca de 50 ciclistas partiram de Duas Pedras e seguiram pela estrada RJ-130 (Nova Friburgo-Teresópolis) até o local onde foi atropelado e morto o colega ciclista e estudante Rômulo Arrudas da Silva, em Conquista, na quarta-feira, 20. Algumas pessoas, em veículos e motos, também marcaram presença. Na concentração, todos fizeram questão de abraçar o pai do jovem morto, Leanderson Rafael da Silva (Léo), que também é ciclista, prestando-lhe solidariedade.
Para Léo a perda de Rômulo é muito grande, não só para ele como também para os muitos amigos que compareceram ao seu sepultamento.
“Nos 17 anos que ele viveu, ele plantou uma semente e essa semente germinou. Infelizmente ele não colheu todos os frutos”. Emocionado, Léo admitiu que a presença de tantos amigos o confortava um pouco diante da grande perda. “Eu costumo dizer nós somos amigos até dar a partida de uma prova. Depois somos competidores, porém honestos. Nós sempre preservamos a integridade física do companheiro. Isso em todos os momentos. E acredito que em todos os esportes. Realmente é um conforto muito grande ter os amigos do lado. Não supre a falta dele, não só para mim, como para todo mundo, pois ele tinha um carinho enorme por todo mundo”.
Léo – que também dirige – disse não saber se o que se passa com o trânsito em Nova Friburgo é falta de respeito ou de informação. Ele enfatiza que o ciclismo vem crescendo muito na cidade e os motoristas têm que aprender a respeitar os ciclistas. As bicicletas usadas pelos atletas atingem uma velocidade alta e os motoristas, muitas vezes, pensam que dá tempo para fazer uma determinada manobra, mas não dá, porque o ciclista chega rápido.
Para Léo, os motoristas têm que redobrar a atenção com os ciclistas, dar-lhes a preferência, tal e qual os pedestres, como acontece em outros países, que respeitem os ciclistas, para que outras tragédias não aconteçam mais.
Um dos objetivos do movimento, segundo Orlando Miele, friburguense da Federação Estadual de Ciclismo, era prestar solidariedade primeiramente à família e, de alguma forma, chamar a atenção das pessoas, e mais especificamente dos motoristas, para o respeito à vida. Ele chama a atenção para o fato de que o trânsito hoje mata mais que outros problemas e acabou se tornando uma questão de saúde pública. “Em um ano a gente perdeu dois amigos: o Silvestre, no ano passado, e, agora, o Rômulo. Não queremos fazer protesto ou coisa parecida, e sim, simplesmente prestar solidariedade à família, ao pai, o Léo, um grande amigo nosso, e chamar a atenção das pessoas para que prestem mais atenção nos ciclistas, nos ciclistas que não são atletas, aqueles que usam a bicicleta como meio de transporte para trabalhar, e se arriscam todos os dias. A gente está sempre falando em incentivar o uso da bicicleta, mas como, se a gente não tem um trânsito em que os motoristas respeitam as bicicletas e não temos ciclovia? O Rômulo, por exemplo, treinando no acostamento, num lugar que a gente conhece, domina, de pouco movimento, o motorista foi busca-lo lá no acostamento, enfim, o objetivo, no meu entendimento, é chamar a atenção das pessoas e fazer uma homenagem para ele. Hoje é um dia de muita tristeza e que a gente quer, acima de tudo, homenagear o Rômulo”. Miele enfatizou que o objetivo maior é fazer com que novos acidentes, como o que vitimou Rômulo, não aconteçam. “Que realmente as pessoas comecem a respeitar a vida, que usem o carro como meio de transporte e não como uma arma, que é o que está acontecendo. E até porque a bicicleta faz parte do trânsito”, frisou.
Orlando Miele comentou que em algumas cidades os ciclistas estão colocando placas específicas com relação ao uso de bicicletas. Há muitas placas de trânsito, mas, através de patrocínio, os ciclistas friburguense também pretendem espalhar pela cidade esse tipo de placa, principalmente nos trechos onde os ciclistas treinam. Esse trabalho deverá ser feito de acordo com as autoridades do trânsito. Além disso, para Miele, é preciso fazer campanhas de educação no trânsito e fazer cumprir as leis.
O pelotão dos ciclistas saiu devagar pela estrada Nova Friburgo-Teresópolis e, no local do acidente, entre o posto policial de Conquista e o mercado da Ceasa, todos pararam, tiraram o capacete e, muito emocionados, fizeram uma oração de mãos dadas. E novamente prestaram solidariedade aos familiares, que depositaram flores no local, ainda com as marcas do acidente. “Isto é muito importante para mim. Sei que todo mundo amava meu filho. Graças a Deus acho que fiz dele um homem, apesar da idade dele, o respeito dele por vocês era muito grande. É difícil falar, sei que a partir de hoje, por mais que vocês estejam comigo, vai sempre haver uma vaga do meu lado. Quando olhar para o meu lado não vou ter mais ele comigo e conto com vocês. É o que eu posso fazer”, encerrou Léo, muito emocionado.
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