Henrique Amorim
Até parece coisa que só vê no estrangeiro, principalmente nos países onde catástrofes naturais como terremotos, tsunamis, ciclones e tornados fazem parte da rotina da população. Mas a tragédia de janeiro já começa a mudar hábitos também em Nova Friburgo, onde seus moradores óbvia e naturalmente se encontram apreensivos com a proximidade dos temporais de verão e a vulnerabilidade das encostas na maior parte do município. No Centro, onde o Morro do Teleférico foi alvo recente do confronto de relatórios do Instituto Estadual do Ambiente (Inea)—que apontou em abril ao Ministério Público o risco iminente de um novo e gigantesco deslizamento—e agora do Departamento de Recursos Minerais do Estado (DRM), que minimiza essa possibilidade, sem, portanto, garantir que alguns escorregamentos não aconteçam, quem mora ou trabalha nas imediações teme o que possa estar por vir.
A escola particular Espaço Livre, que reúne aproximadamente 400 crianças e jovens em dois turnos na Avenida Galdino do Valle Filho, no Centro, foi pioneira na tentativa de tranquilizar seus estudantes e orientá-los a como proceder em situações de emergência, sem correria e desespero, como acontece nos Estados Unidos e no oriente, onde a população ordeiramente procura locais seguros para abrigar-se durante as intempéries climáticas. Os alunos assistiram a palestras e viveram situações simuladas durante a realização do PEE (Plano de Emergência para Escolas), ministrado por técnicos em segurança no trabalho. Os profissionais ensinaram os estudantes a seguir à risca a sinalização com placas verdes padronizadas internacionalmente para rota de fuga, caso chova forte e sejam mais prudentes ao desocuparem o prédio da escola. A sinalização foi instalada nos corredores, escadas e acessos.
A diretora Sônia Ganen explica que sua intenção em trazer o PEE para a comunidade escolar não foi alarmar os alunos, nem tampouco seus pais, mas fazê-los a aprender a conviver com a nova realidade na Região Serrana. “Temos que tirar de todo esse episódio das chuvas do início do ano um novo condicionamento. A comunidade precisa aprender a lidar com novas situações sem a necessidade de pânico”, explica a educadora que se diz mais tranquila quanto ao risco que a escola sofre no próximo verão ante as possibilidades de novos deslizamentos na encosta e o transbordamento do Rio Bengalas.
“A encosta nos fundos da escola já está sendo contida por uma empreiteira contratada pelo estado que vai construir muros de cimento e implantar uma manta vegetal evitando novos escorregamentos. Quanto à enchente do Bengalas, nos protegemos com a instalação de comportas maiores que evitam a entrada da água”, enumera Sônia, que pretende valer-se do bom senso e antecipar o término das aulas nos dias com possibilidade de temporais à tarde. “Seria muito bom que o PEE se estendesse também ao maior número possível de escolas para orientar esses alunos quanto a não necessidade de se desesperarem quando ameaçar chover forte”.
Mães querem a antecipação do término do ano letivo em Nova Friburgo
A autônoma Rosângela de Assis Barreto, 46 anos, tem duas filhas em escolas particulares diferentes no centro da cidade e já decidiu que as meninas irão faltar às aulas nos dias que a previsão do tempo for de probabilidade de chuva forte. “Não vou permitir que elas saiam de casa nem se tiver provas nesses dias. Prefiro que minhas filhas façam segundas chamadas. Imagine ter que evacuar uma escola caso uma encosta comece a cair. E se não der tempo para todo mundo sair? Imagine só o pânico pelas ruas com pessoas desesperadas querendo chegar logo em casa ou tentar socorrer algum parente. No exterior não há pânico porque a cultura lá é diferente. As crianças crescem nessa realidade e aprendem a conviver com ela desde cedo. O brasileiro não está acostumado a isso ainda. Sou a favor da antecipação das férias. É melhor manter as crianças em casa no período de chuvas”, avalia Rosângela.
Já Madalena Barroso Silva, 34 anos, mãe de um aluno de escola pública, também é favorável à compensação das aulas aos sábados para antecipar-se as férias de fim de ano (como ventilou-se recentemente, embora as direções de escolas oficialmente neguem). “Jamais conseguiria trabalhar tranquila sabendo que meus filhos estão na escola e que correm algum perigo. Teria que sair correndo para buscá-los. E se não conseguisse chegar por causa de alagamentos ou engarrafamentos. Acho que morreria de nervosismo”, diz ela que pretende levar o filho para a casa da avó em Macuco durante o próximo verão. “Meu filho tem só 8 anos e ficou bastante traumatizado com tudo o que viu pela TV em janeiro passado. Toda vez que chove ele fica assustado e se tranca no quarto”, conta Madalena.
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