Chuvas amenizam efeitos da severa estiagem do segundo semestre

Há menos de três meses, mananciais de Nova Friburgo sofriam com a maior seca dos últimos oito anos; depois das tempestades das últimas semanas, realidade agora é bem diferente
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
por Jornal A Voz da Serra
A adutora do Cascatinha em abundância devido às recentes chuvas (Foto: Henrique Pinheiro)
A adutora do Cascatinha em abundância devido às recentes chuvas (Foto: Henrique Pinheiro)

Para quem vê as águas que jorram das cachoeiras e mananciais da região agora, fica difícil de acreditar que há pouquíssimo tempo a situação era bem pior. Um inverno de poucos dias realmente frios, temperaturas altas já no início da primavera e um volume insignificante de chuvas: essas foram as características climáticas que surpreenderam os friburguenses em 2015 e fizeram a população de todo o Sudeste brasileiro passar por um período bastante crítico. A estiagem enfrentada há alguns meses foi considerada a maior desde 2007. Resultado: a falta de água mexeu com o bolso de muitos agricultores, que viram suas plantações serem dizimadas pela seca, e com a rotina de moradores de mais de 20 localidades do município, que sofreram com a crise no abastecimento.

O Rio Grande, maior distribuidor de água da região, foi o mais resistente à falta de chuvas. No entanto, o restante da vazão, proveniente de outros sistemas mais vulneráveis foi prejudicada. A do Debossan, por exemplo, que responde por 26% do abastecimento do município, só conseguiu operar com 1% de sua capacidade. Na parte mais alta do Cascatinha, nossa equipe constatou um cenário alarmante em outubro deste ano, parte de uma adutora onde normalmente é possível ver uma queda-d’água se formar estava completamente seca. Para atender as áreas mais afetadas, a concessionária responsável pelo abastecimento, Águas de Nova Friburgo, precisou realizar manobras no sistema e disponibilizar caminhões-pipa.

Na zona rural, a água que chega às moradias e irriga as plantações vem, em grande parte, direto das nascentes. Sem chuvas há meses, os agricultores viram a produção morrer e o solo secar por completo. Nem os poços artesianos construídos por eles foram capazes de atender à demanda e ficaram praticamente vazios. Só na localidade de Buracada dos Gomes, cerca de 40 famílias ligadas ao trabalho agrícola ficaram sem o sustento.

No entanto, menos de dois meses depois, o cenário começa a mudar. As fortes chuvas dos últimos dias estão restabelecendo os mananciais. De acordo com a gerente de operações da concessionária Águas de Nova Friburgo, Danielle Moreira, “todos os mananciais estão com seus níveis normais e as Estações de Tratamento de Água (ETAs) operam com vazão plena”.

Nas lavouras, o cenário também mudou. No final de outubro deste ano, visitamos a localidade de Florândia da Serra. Na época, o agricultor e vice-presidente da associação de pequenos produtores rurais da região, Renato Cordeiro de Araújo, nos mostrou o estado das plantações. Em uma delas, inclusive, devido a falta de água, os pés de couve-flor estavam completamente minguados, menores do que a palma da mão. Atualmente, a realidade é outra: “As nascentes ainda não estão completamente recuperadas, mas os poços já estão cheios. Ainda bem”, conta Renato.

El Niño severo é o grande vilão da vez

Os efeitos provocados pelo aquecimento global tem, de fato, gerado novas condições climáticas no planeta. Mas o inverno de temperaturas amenas e poucas chuvas de 2015 já foi visto em 1997. O motivo? Um dos mais intensos “niños” que o país já enfrentou. Considerado um fenômeno natural, o El Niño acontece quando a superfície das águas do Pacífico ficam mais quentes. Com a temperatura do mar elevada, há mais evaporação e mais formação de nuvens, o que provoca diferentes reações climáticas pelo mundo.

No Brasil, as consequências do fenômeno também costumam variar de região para região. E, apesar de no Sudeste, os efeitos serem difíceis de serem previstos, estamos diante de um El Niño tão forte — chegando a ser comparado com o de 1997/1998, um dos mais intensos já identificados — que os especialistas já conseguiram fazer previsões. O verão de 2016 terá um aumento considerável na ocorrência e intensidade das tempestades, em torno de 20%. Sem contar que, se a previsão para nossa região se comprovar, uma boa parte da população brasileira poderá sentir na pele um aumento de até quatro graus na média da temperatura — problema que pode se tornar frequente se nada for feito para impedir o aquecimento global

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TAGS: Água e Energia
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