Centro de documentação e Pró-Memória: a construção de uma cidade real

Projeto que resgata a trajetória de Nova Friburgo é reformulado à medida que a cidade caminha
sexta-feira, 04 de novembro de 2016
por Ana Borges
Nelson Augusto Bohrer: idealizador e coordenador do projeto (Foto: Henrique Pinheiro)
Nelson Augusto Bohrer: idealizador e coordenador do projeto (Foto: Henrique Pinheiro)

O presidente do Centro de Documentação Fundação D. João VI, Nelson Augusto Bohrer, credita ao Arquivo Pró-Memória a inspiração para criação de um centro de documentação digitalizado. Não se deu conta disso, na época. Não tinha a menor ideia da sementinha que estava prestes a plantar. “Por volta de 1996, trabalhei na prefeitura e minha sala ficava em cima do Pró-Memória, que era dirigido pela professora Dilva de Moraes. A Tereza Barroso também dedicou anos a esse trabalho, arquivando recortes de jornal, documentos, fotos. Eu passava por ali e via pilhas de papéis, o que me causava certa apreensão com o destino daquilo tudo. E via na digitalização a única saída para a preservação do material”, contou. 

A ideia se materializou quando o então prefeito Heródoto Bento de Melo o convidou para trabalhar na produção de um CD-Rom sobre a Casa Suíça, com o patrocínio do então diretor da entidade, Renée Pegataiz. Esse primeiro contato de Nelson com o acervo de imagens e documentos sobre o município foi o empurrão que faltava para lhe dar a certeza do que, até então, apenas intuía.

Quando, alguns anos depois, surgiu o convite para criar um centro de documentação digitalizado, dos quase 200 anos de história de Nova Friburgo, ele estava familiarizado com o processo. 

Segundo Nelson, o Pró-Memória tem uma relação de amor com a população, que deposita em seu acervo “pedaços de sua vida, entre fotos, cartas e objetos”. Essa ligação, acredita ele, ajudou o arquivo a criar uma identidade própria, consolidada. 

“Passadas tantas décadas de formação de sua memória, é natural que, com o passar do tempo, o Centro de Documentação D. João VI tenha herdado esse legado e construído sua própria história, conquistando determinado público. Tanto que essa trajetória nos levou a conquistar um assento no Arquivo Nacional”, revelou.  

Ele lembra que hoje poucos municípios no Brasil têm um patrimônio desse valor, dentro do contexto da sua própria história. “O currículo da Fundação D. João VI tem peso, uma trajetória consistente, respeitável. É a única instituição no Brasil, além do Arquivo Nacional (representativa de todos os arquivos do país) com assento no Conselho Nacional de Arquivos (Conarq). Disso, pouca gente sabe, não é divulgado ou dado o devido valor, as pessoas não percebem a dimensão dessa posição. Esse reconhecimento do Conarq foi uma conquista valiosa para Nova Friburgo e devia ser motivo de orgulho de todos os friburguenses”, ressaltou. 

“Quando iniciamos esse trabalho, a celebração dos 200 anos da criação da vila que em 1818 se tornaria Nova Friburgo já fazia parte do conteúdo do site. Se não fizemos tudo, até agora, posso dizer que fizemos uma grande e boa parte. E depois, essa história não tem ponto final, porque ela vai sendo contada à medida que a cidade caminha”, arrematou.

Colaboradores fundamentais

Nelson lembra que produzir o CD da Casa Suíça foi uma tarefa trabalhosa devido a falta de um equipamento com tecnologia apropriada. “Não tínhamos certeza de até onde poderíamos chegar, mas fizemos o que foi possível e foi suficiente”, disse. 

Entre esse trabalho e a volta, anos depois, ele desenvolveu o trabalho por conta própria, com idas e vindas. Entre os principais apoiadores de seu projeto ele cita Laercio Ventura, de A VOZ DA SERRA, os irmãos Jaccoud (Raphael e Carlos Jayme, engenheiro e historiador), o empresário Joilson Wermelinger. “O Laercio era um homem de visão, sensível, adiante de seu tempo. Tinha a capacidade de antever a importância de se preservar a memória e era com esse olhar que ele via o acervo do seu jornal. Nas páginas de A VOZ DA SERRA estão reportados, desde 1945, o cotidiano da cidade, com seus personagens e costumes, os acontecimentos mais relevantes, curiosidades, enfim, toda a história do município e a sua própria, em quase 72 anos de existência. Quando surgiu essa ideia da digitalização ele viu a possibilidade de perpetuar a existência do jornal para a posteridade, para consultas de cunho histórico”, lembra Nelson Bohrer.  

Ele também agradece a contribuição do Joilson Wermelinger, que doou computador, scanners e o equipamento de still que fotografa o material a ser digitalizado; o Carlos (Jaccoud) e a esposa Alba (Caputo) disponibilizaram espaço em sua casa para fazer testes e experiências; o Laercio se empenhou de todas as formas para abrir portas e colocá-lo em contato com as pessoas que poderiam agilizar a criação de um centro de documentação. 

“Graças a eles, nos tornamos Fundação. O Laercio foi o 1º conselheiro desse projeto e no dia da oficialização da Fundação, ele e o Heródoto assinaram a ata, juntos”, recorda, emocionado.  

Essa conquista demorou dois anos, depois que o trabalho foi retomado em 2009, com a volta do Heródoto, reeleito prefeito. “Eu o procurei e expliquei que esse trabalho precisava ser retomado. Que não precisava de recurso, de equipamento, nada além de um lugar pra trabalhar. Ele topou, e durante dois anos tive total liberdade para trabalhar. Quer dizer, só dois anos, porque em 2010 ele sofreu aquele acidente na estação de trem na Suíça, teve que se afastar e foi substituído. Ano seguinte, tivemos a tragédia climática. Aí, tudo parou”, lamenta Nelson.

Em 2013, com a posse do atual prefeito Rogério Cabral, o trabalho foi retomado, graças ao empenho do secretário Alexandre Meinhardt, devidamente instalado no anexo do antigo casarão (residência do Barão de Nova Friburgo), na Praça Getúlio Vargas, 71. O secretário assumiu a presidência e em junho passou o cargo para Nelson Bohrer, que recebeu do secretário da Fazenda, Juvenal Condack, cinco computadores e uma impressora, na época da implantação do novo sistema de cobrança do IPTU. “Todas essas pessoas foram importantes para fortalecer esse projeto”, destacou.   

Agora, nós temos um projeto para levar o Centro para dentro das escolas com o objetivo de contar para todos os alunos, de todas as redes, municipal, estadual, privada e pública, a história de Nova Friburgo com todos os detalhes que coletamos. “Conecte-se, colabore, compartilhe” é o lema do projeto. Tem que ser com todas as crianças, de todas as escolas. Temos que fazer o impossível para não interromper essa caminhada que deve ser cada vez mais disseminada e respeitada. Tem que haver compromisso”, defendeu. 

Como e quando

O Centro de Documentação D. João VI foi criado em 2008, ano em que o Brasil comemorou 200 anos da chegada da Família Real a São Sebastião do Rio de Janeiro, em 7 de março de 1808, quando se deu início ao novo Império — o Reino Unido de Portugal, Brazil e Algarves.  

O objetivo do projeto se propõe a resgatar, preservar e difundir sua história, e nesse contexto, também foi criada a Fundação D. João VI de Nova Friburgo, instituição pública, curadora do Arquivo Pró-Memória. Sua prioridade é, através de tecnologia aplicada, digitalizar o acervo, resguardar os documentos originais e difundir todo o conhecimento nele inserido.

Para tal empreitada se uniu um grupo de friburguenses comprometidos com a história de Nova Friburgo, seu patrimônio histórico e cultural, assim como a guarda e difusão dessa memória em benefício das gerações que haverão de chegar. Esse comprometimento resultou na Fundação D. João VI de Nova Friburgo, em janeiro de 2010, com objetivo de institucionalizar todas essas ações.

O projeto Centro de Documentação D. João VI resultou do acordo que fizeram, a SYB Projetos, empresa friburguense detentora da tecnologia necessária e presente no desenvolvimento do site e a Fundação D. João VI de Nova Friburgo, proprietária legal do acervo arquivístico utilizado neste projeto. 

Seguindo o lema de seus fundadores, “guardar e preservar não é o bastante; é necessário difundir.” O trabalho continua.

 

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