Henrique Amorim
Ah, se não fosse o Grupo de Arte, Movimento e Ação, o Gama, e sua imensa força de vontade, traduzida pelo nome Jaburu! Graças a ele, o friburguense Alberto da Veiga Guignard — pintor que aprimorou sua técnica nas academias de Belas Artes, de Munique e Florença, ganhou fama internacional, e de volta ao Brasil criou o curso de desenho e pintura no Instituto de Belas Artes de Belo Horizonte, nos idos da década de 1940 — continuaria desconhecido do grande público em sua própria terra natal.
Falecido há 49 anos e sepultado na Igreja São Francisco de Assis, na histórica cidade Ouro Preto, Guignard e sua obra finalmente começam a ser conhecidas em Nova Friburgo, graças às iniciativas do Gama: desde o seu nome eternizado em uma das três salas do Centro de Arte, ao monumento erguido à arte de Guignard no circuito turístico-cultural do Parque Santa Eliza. Agora, a luta é no sentido de despertar o interesse do município pelas obras do pintor que viveu parte de sua infância aqui.
O “pintor dos pintores”, título dado a ele por Juscelino Kubitschek, um entusiasta do talento do artista, receberá, a partir da próxima sexta-feira, 26, uma mostra de artes plásticas, em sua honra: na sala Guignard, todo o talento de Zeppe com suas réplicas em papel machê (esculturas em papel molhado amassado); na sala Nêgo, a arte multicolorida em pintura e na forma de troféus — distribuídos pelo Gama a artistas e personalidades —, de João Baptista Felga de Moraes; e na sala Villa-Lobos, a sensibilidade e o realismo das pinturas a óleo de Marcelo Auad.
A forma envolvente como as obras juntamente com as fotografias do acervo de Osmar de Castro, dos locais onde Guignard nasceu e morou em Nova Friburgo, será um atrativo a mais para o público. Sem dúvida, encontrará no Centro de Arte um ambiente propício para se aproximar do legado de Guignard, descobri-lo e admirá-lo.
“É uma tarefa difícil, mas não impossível. É uma questão cultural, de mudança de hábitos, de exercitar o olhar para a arte e enxergar a beleza contida nela. É também uma questão de princípios. Por que não incentivar professores e alunos de Nova Friburgo a conhecer o pintor, sua história e sua obra? É preciso resgatar essa memória e o Gama vem perseguindo esse objetivo há anos”, observa o presidente do Gama, Chico Figueiredo, lembrando que Nova Friburgo é um celeiro de cultura com muitos talentos, como Guignard, ainda não valorizados. Com essa nova mostra no Centro de Arte, Chico acredita que o grupo irá colaborar para incutir na população o gosto pela arte com visitação de estudantes que poderão conhecer os talentos locais.
Como ator e cenógrafo, Chico Figueiredo conhece como poucos as dificuldades para disseminar cultura em cidades do interior, como a falta de patrocínio e a necessidade de improvisar em todos os aspectos de um espetáculo, para que tudo dê certo no final. “E acaba dando mesmo. A dedicação aliada ao talento dos integrantes faz a diferença”, diz ele, que já atuou como maquiador e figurinista das produções do Gama, além de ser um ator destacado em muitas produções do Gama. Entre outras estão “Correio Sentimental” e “Engraçadinha”, de Nelson Rodrigues, e “Fernando em pessoas”. “Também gosto de trabalhar com figurino. O Jaburu [o agitador cultural Júlio Cezar Seabra Cavalcanti, fundador e administrador do Gama] é quem geralmente imagina, sonha, inventa uma “atração”, e aí eu me dedico à pesquisa de determinadas cores, tipos de roupa e ambientações de cenários no contexto da produção”, revela Chico, que também se dedica à gastronomia, já tendo sido reconhecido como chef e professor do ramo no Centro Vocacional Tecnológico (CVT).
Exposição vai mostrar
todo o talento de Zeppe
O público tem um mês para conferir as peças do escultor Zeppe a partir de sexta-feira, 26, até o dia 28 de setembro, no Centro de Arte. Neste tributo a Guignard, o visitante poderá conhecer o talento do artista plástico friburguense Zeppe, em esculturas de papel machê que impressionam pela semelhança com seus modelos. A expressividade estampada em cada peça é impactante.
O artista afirma que as criações são elaboradas a partir da observação detalhada da pessoa a ser esculpida ou através de fotografias, além das pesquisas que realiza. Os traços e feições de cada homenageado pela arte de Zeppe parecem ganhar vida. Na mostra estarão algumas réplicas de personagens retratados por Guignard e também de personalidades friburguenses.
“É um trabalho que não pode ser feito por etapas. Se começo tenho que terminar, pois o material básico, papel molhado amassado, não pode esperar para ser moldado. Em seguida vem a pintura, outra etapa repleta de detalhes e técnicas. Depois, o arremate com tinta acrílica e, por fim, uma camada de cera. Quanto tempo dura tudo isso? Varia. Só sei que para fazer surgir uma nova escultura tenho que mergulhar em mim mesmo e deixar fluir. Posso ficar horas só observando as características da pessoa que será retratada na escultura”, diz Zeppe, que admira o empenho de Jaburu e do Gama em resgatar a memória cultural de Nova Friburgo.
“Criar um evento como esse, agora, no Centro de Arte, é mesmo uma iniciativa visionária do Jaburu e do Gama. E é com orgulho que participo dela”, completa Zeppe que, mesmo com experiência internacional, se destaca pela simplicidade e originalidade que já eternizou em uma infinidade de esculturas, mantendo um acervo invejável.
E, se depender do Gama, este artista vai ganhar um espaço cativo num provável Museu de Papel Machê, missão que Jaburu já assumiu com seu peculiar jeito confiante e otimista de ser. Tudo para tornar o museu uma referência turística e cultural do município. Tudo por Nova Friburgo.
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