Centenário, Friburgo F.C. celebra aniversário e início do esporte na cidade

Cem anos se passaram desde que o antigo jornal A Paz noticiou a fundação do Friburgo Football Club, a primeira agremiação de futebol da cidade. À época, o esporte criado na Inglaterra no século XIX ainda engatinhava no Brasil e cresceu gradativamente também em Nova Friburgo, a partir da oficialização do time vermelho e branco em 1914. Desta forma, a modalidade fez parte do crescimento da cidade. Famílias inteiras nasceram e se desenvolveram dentro dos estádios friburguenses. Amizades, contatos, negociações e histórias foram produzidas dentro e fora das quatro linhas e permanecem eternas nos corações de quem pôde viver parte desta época. Mais do que relembrar o surgimento do futebol, comemorar o centenário do Friburgo F.C. é celebrar o nascimento do esporte no município e contar um dos mais belos trechos da trajetória de 196 anos.

Início do século XX. Estudantes de várias partes do país migraram para Nova Friburgo e trouxeram na bagagem um objeto até então desconhecido pelos friburguenses e por boa parte dos brasileiros. A bola de futebol representou, a partir de então, o objeto de união entre os moradores do bairro Vilage, que passaram a frequentar o Colégio Anchieta, e as tradicionais "peladas” no campo da escola. De fato, o futebol começa em 1910, com a criação do Friburguense. Entretanto, a oficialização do esporte na cidade acontece com o surgimento do Friburgo Football Club, em 1914. Ralim Abud, juntamente com os Spinelli, Sertã, Van Erven, Braune, Mastrângelo, entre outros, fundam o time de futebol, que a princípio não teve adversários para enfrentar na cidade.

Um ano depois, com a fundação do Esperança e outras equipes, os jogos começam a ser realizados com maior frequência. Apenas em 1925, contudo, quatro anos após a fundação do Fluminense Atlético Clube — fruto de divergências dentro do Friburgo — surge a Liga Friburguense de Desportos. Neste meio tempo, o Friburgo F.C. havia passado por uma grave crise, colocando à prova a paixão dos fundadores pelo clube. Raul Sertã mostrou que o amor pelo vermelho e branco não tinha limites, e desembolsou algo em torno de R$ 25 mil (adaptando para a realidade atual) para quitar as dívidas.

O futebol, então, deslancha em Nova Friburgo e surgem os times de bairro, da segunda divisão, inclusive o Serrano Futebol Clube, de Olaria, o Esporte Clube Vilage, o Esporte Clube Saudade e o Esporte Clube Filó. A criação da Liga e o surgimento do rubro-negro Sírio e Libanês representaram a oportunidade de organizar os primeiros campeonatos de futebol em Nova Friburgo. A bola rola e a rivalidade aumenta. Os estádios lotavam e o compromisso dos jogadores ficava comprovado com a rotina de treinos logo após o expediente nos respectivos empregos. Um tempo romântico, onde os jogadores recebiam no máximo o "bicho”, ou seja, um prêmio proveniente da renda dos jogos. As negociações de um clube para o outro envolviam móveis, fogões e até mesmo bicicletas. No entanto, a principal moeda era o emprego. Uma boa colocação em determinada fábrica era suficiente para seduzir os craques da época.

O então prefeito César Guinle doou propriedades particulares e áreas do município para os clubes. A família Sertã doou o terreno do atual estádio do Nova Friburgo Futebol Clube. Álvaro de Almeida, ex-deputado e vice-prefeito, tornou-se um mecenas do futebol. Trouxe jogadores do interior do estado empregando-os em sua empresa do ramo de madeiras. Os Spinelli fizeram o mesmo, e o município crescia na proporção do futebol.

Com os "investimentos”, criou-se a expectativa pelos resultados. O primeiro torneio, em 1925, foi vencido pelo Fluminense. Depois de uma temporada sem disputas, o azulino volta a vencer. O campeonato de 28 sequer terminou, culminando com a não realização do torneio na temporada seguinte.

A partir de 1930, um novo cenário se apresenta e o Friburgo começa a se estruturar. No início da década, o clube inaugura o estádio Raul Sertã, e dentre outras partidas históricas, recebe o quadro principal do Vasco da Gama para um jogo comemorativo — com direito a renda recorde, algo equivalente a R$ 12 mil. Em 1931, o Esperança conquista o título do futebol friburguense, mas o Fluminense torna-se tetracampeão entre 1935 e 1938.

Se os anos 30 foram coloridos pelo azul e branco, a metade da década de 40 em diante teve domínio do maior rival. O Friburgo conquista nove títulos em dez anos e só não conseguiu o decacampeonato devido a um gol de Ezio na decisão de 1948. O hexacampeonato vermelho e branco é interrompido pela conquista do Esperança em 1955, com o poderoso esquadrão montado por Álvaro de Almeida, com jogadores do nível de Carlito, Pardal, Carlinhos e outros. O Friburgo voltou a ser campeão entre 66 e 69, e levantou mais algumas taças na década de 70.

Atual presidente do Nova Friburgo Futebol Clube, Luiz Fernando Bachini era tesoureiro do Esperança durante o início do processo de fusão ente Friburgo e Esperança, ainda sob a administração de Onete Daflon. Uma comissão envolveu nomes como Helio, Oloff, Amâncio, Tenente Juvenal, Ítalo de Souza, Laercio Ventura, João Batista, José "Bigode”, Eugênio Cabral, Álvaro de Almeida, Climério Geraldo Moura e Lucio Flavo, e este grupo agiu para concretizar a ideia. "O conselho resolveu vender a sede do Esperança, no Paissandu, para construir uma nova em Conselheiro Paulino. O pessoal dos outros clubes, principalmente o Deccache, não entendeu como uma jogada financeira, e sim, futurista. Lá, nós teríamos espaço para fazer o que quiséssemos e no Paissandu não”, conta Bachini.

A decadência do futebol amador nos anos 70 impulsionou a mudança. As conversas tiveram um ano de duração para acertar detalhes como nome e cores, e o acordo foi assinado. A união entre os clubes derrubou a intenção inicial de fundir todos os times de futebol da cidade em uma única equipe. O presidente do Fluminense, Antonio Felippe Deccache, percebeu a dificuldade, abandonou a ideia e partiu para a fusão com o Serrano. Do mesmo modo, Esperança e Friburgo uniram forças. "Foi um modo de salvar a tradição de tantos anos.”

A profissionalização do futebol em Nova Friburgo se deu em 1979, com a fundação do Friburguense Atlético Clube. O processo desarticulou o futebol amador, que já enfrentava a decadência proporcionada por diversos fatores, como a necessidade de utilizar os terrenos dos estádios para novas construções — o antigo campo do Esperança, no Paissandu, é um exemplo. Dos "bons tempos”, restaram as histórias, as amizades e a reconhecida importância para o desenvolvimento econômico e cultural da cidade.

 

Programação dos festejos

O Nova Friburgo do futuro