Flávia Namen
Uma aula de história sobre a origem e a importância do movimento sindical em Nova Friburgo e de figuras que marcaram a luta dos trabalhadores na cidade. Assim pode ser definida a reunião solene promovida na noite de quinta-feira, 2, pela Câmara Municipal, em homenagem ao centenário de nascimento do sindicalista Francisco de Assis Bravo, mais conhecido como Chico Bravo. Familiares do homenageado e representantes de vários sindicatos de trabalhadores do município prestigiaram a sessão, proposta pelo vereador Cláudio Damião.
Apesar de histórica, a homenagem contou com a presença de poucos vereadores. Além de Damião, apenas Renato Abi-Râmia, Pierre Moraes, Edson Flávio e Luciano Faria participaram da reunião, que relembrou momentos importantes do movimento operário em Nova Friburgo. A criação dos primeiros sindicatos na década de 1930, a luta por direitos como férias remuneradas e 13º salário e as perseguições sofridas pelos sindicalistas no período da ditadura foram algumas das questões abordadas nos discursos dos vereadores e convidados.
O primeiro a falar foi o professor de história Ricardo da Gama Rosa Costa, que resgatou a trajetória de Chico Bravo e da militância operária em Nova Friburgo (ver box). Em seguida discursaram o integrante do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), Sidney Moura; o representante do PSTU, Ricardo Mansur; o ex-vereador Bruno Calderado e o vice-presidente da Associação dos Aposentados, Sílvio Teixeira. Este último lembrou a corajosa atuação de Chico Bravo e as dificuldades de fazer oposição “em uma cidade como Friburgo”.
Os vereadores também discursaram e destacaram o importante legado deixado por Chico Bravo, lembrado por sua persistência, bravura, honradez, senso de justiça e solidariedade. “Chico significa muito para a história de Nova Friburgo e precisa ter seu nome eternizado em alguma rua ou praça da cidade. A maior parte dos trabalhadores desconhece a trajetória de luta daquele que foi o único vereador cassado na história política do município. Cassado por ser honesto, digno, decente e por defender os interesses da população friburguense”, ressaltou Damião.
O ponto alto da noite foi a entrega de uma placa comemorativa pelo centenário de Chico Bravo. A homenagem foi prestada à filha Gessi Bravo, à irmã Maria Helena Bravo, à sobrinha Maria Roseli Bravo Mastrângelo e aos netos. “Em nome de meus irmãos, que não puderam vir, e de toda minha família, agradeço esta homenagem. Estou muito feliz porque meu pai merecia esse reconhecimento”, disse Gessi.
Vale destacar que a sessão foi a primeira presidida pelo vereador Luciano Faria.
“Vou guardar na minha memória este momento tão importante, que também ficará gravado na minha vida de homem público”, disse ele.
Quem foi Chico Bravo?
Francisco de Assis Bravo, Chico Bravo, ou ainda, Chiquinho Pimpão, como era mais conhecido em função do apelido ganho na infância por conta de suas travessuras, nasceu em 1910 na cidade de Nova Friburgo e com pouco mais de vinte anos já participava ativamente das lutas operárias no município.
No início dos anos 30, com a fundação dos primeiros sindicatos de trabalhadores na cidade, o pedreiro Chico passou a atuar junto aos trabalhadores da Construção Civil, vindo a exercer, mais tarde, a presidência do Sindicato durante vários mandatos. Em janeiro de 1933, durante uma greve que parou as indústrias têxteis da cidade e acarretou a morte do jovem operário Licínio Teixeira, Chico e outros companheiros se encarregaram de pintar uma faixa de protesto com os dizeres: “O sangue de Licínio clama por vingança”.
Sempre engajado na luta dos trabalhadores por melhores salários e condições de trabalho, o sindicalista era admirado por sua coragem e persistência. Em março de 1960, quando o governador Roberto da Silveira esteve visitando Nova Friburgo, uma comissão de trabalhadores capitaneada por Chico Bravo e José Costa, o Costinha, foi a ele denunciar as condições de insalubridade a que estavam submetidos os operários nas seções de tinturaria das fábricas têxteis.
Com o resultado das eleições de 1962, ficou visível o crescimento dos grupos nacionalistas e de esquerda em Nova Friburgo. Na Câmara Municipal, a novidade foi a eleição do líder operário Chico, único vitorioso pelo PST, o partido de Tenório Cavalcanti, que abrira suas portas para os comunistas. Então com 52 anos, Chico conquistou a duras penas sua eleição para vereador, pois o clero católico conservador pedia às pessoas que não votassem nos candidatos comunistas.
Em 14 de abril de 1964, em função da repressão instaurada pelo governo militar, Chico teve seu mandato de vereador cassado, conforme resolução legislativa nº 85. Assim foi interrompida a trajetória do líder operário que, no Legislativo, destacara-se por suas intervenções firmes e por ter aberto diversas frentes de luta. Foi o único vereador cassado na história da Câmara Municipal de Nova Friburgo.
Após uma vida exemplar, marcada pela preocupação com as classes menos favorecidas, Chico Bravo faleceu em 16 de julho de 1998. Dotado de um exemplar espírito de solidariedade, ele nunca se abateu diante das adversidades provocadas pelas inúmeras perseguições políticas e tampouco deixou de acreditar no seu ideal de bravo comunista! (Extraído da pesquisa elaborada pelo professor Ricardo da Gama Rosa Costa)
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