Cem anos do poetinha

sexta-feira, 18 de outubro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Cem anos do poetinha
Cem anos do poetinha

Como dizia o poeta, é melhor ser alegre que ser triste. Mesmo que em algumas ocasiões possa-se pensar que tristeza não tem fim, felicidade sim. Mas a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.

E foi isso que ele fez, viveu intensamente, sabendo que a gente mal nasce e começa a morrer. Então, que o amor seja imortal enquanto dure. 

Poeta, diplomata, jornalista, compositor. Teve três irmãos, nove mulheres, cinco filhos e muitos parceiros musicais, sendo que muitos se tornaram seus amigos. Grandes amigos. Morou em vários lugares, do Rio – onde nasceu – a Los Angeles, onde ocupou o cargo de vice-cônsul. De Paris à Bahia. Foi batizado na Maçonaria, fez primeira comunhão na Matriz, em Botafogo, cantou no coro do colégio Santo Inácio durante as missas de domingo e se casou – uma das vezes – no candomblé. Como ele mesmo declarou, foi o branco mais preto do Brasil, da linha direta de Xangô! (Saravá!). Não é à toa que seus três nomes remetem ao plural. Bacharel em Letras e Direito, estudou língua e literatura inglesa na Universidade de Oxford e cinema com Orson Welles, dirigiu o suplemento literário de O Jornal, escreveu crônicas para Última Hora, participou do movimento musical bossa nova e da era dos festivais na TV. Publicou livros, escreveu peça teatral e roteiros para cinema, compôs inúmeras e belas canções e, mesmo com tantas atividades, não se furtava a elogiar o balanço das moças de corpo dourado, do sol de Ipanema e nem de, à beira-mar, argumentar com doçura, com uma cachaça de rolha. Embora preferisse um bom e velho uísque, durante suas eternas noites de boemia. 

Aos que acham sua poesia "menor”, que vá pra tonga da mironga do kabuletê, porque ele soube chegar aos corações de homens e mulheres, ricos e pobres, de todas as cores, de todos os credos, de todos os continentes.

Mesmo a gente se perguntando por onde anda você, sabemos que maravilha seria, se um dia todos nós pudéssemos dizer: Ah, se todos fossem iguais a você...

Bênção, Vinícius de Moraes!

 

Na madrugada de 19 de outubro de 1913, sob um forte temporal que caía no Rio de Janeiro, nascia Marcus Vinicius de Moraes. Filho do funcionário público, poeta e violinista amador Clodoaldo Pereira da Silva Moraes e de Lydia Cruz de Moraes, ele era sobrinho do também poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes. 

Desde pequeno, ainda na escola primária, se interessava por poesias. No Colégio Santo Inácio, Vinicius participou de um coral e montou pequenas peças teatrais. Mas foi ao conhecer os irmãos Haroldo e Paulo Tapajóz que ele fez suas primeiras composições e passou a se apresentar em festas de amigos. 

Outro amigo, o romancista Otavio Faria, foi quem incentivou Vinicius de Moraes a explorar sua vocação literária. Ele, então, publica seu primeiro livro: "O Caminho para a Distância”, em 1933. 

Neste meio-tempo ele se formou na Faculdade de Direito, no Catete, e em Ciências Jurídicas e Sociais. 

O Ministério da Educação e Saúde o contratou como censor cinematográfico, mas dois anos depois ele se muda para Londres ao ganhar uma bolsa do Conselho Britânico, para estudar a língua e a literatura inglesas na Universidade de Oxford. Voltou ao Brasil em 1941 passando a ser o crítico de cinema do jornal Amanhã e funcionário do Instituto dos Bancários. 

Tentou entrar para o Ministério das Relações Exteriores em 1942, mas só foi aprovado no concurso do ano seguinte, tendo assumido o cargo de vice-cônsul em Los Angeles em 1943. Atuou ainda no campo diplomático em Paris e Roma. Mas em 1968, se tornou mais uma vítima do Ato Institucional nº 5, sendo aposentado compulsoriamente. A anistia pela Justiça só veio em 1998, dezoito anos após sua morte.


Orfeu da Conceição

Vinicius de Moraes ganhou prestígio ao ter sua peça Orfeu da Conceição encenada, em 1956, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A cenografia foi assinada por Oscar Niemeyer e as canções por Antonio Carlos Jobim, com quem Vinicius faria uma profícua parceria, inclusive "Chega de Saudade”, marco da bossa nova. A peça Orfeu da Conceição foi base do filme de Marcel Camus, "Orfeu Negro”, que conquistou a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1960.

 

Mais parcerias e o sucesso

A partir de Orfeu da Conceição a carreira musical de Vinicius de Moraes deslanchou, tendo composições gravadas por artistas de renome, como Elizeth Cardoso, e assinando músicas com novos parceiros, entre eles Baden Powell, Edu Lobo, Carlos Lyra e Francis Hime.

Em 1962, junto com Tom Jobim e João Gilberto, faz seu primeiro show de repercussão, na boate Au Bon Gourmet, onde foram lançados os sucessos "Samba da Bênção” e "Garota de Ipanema”. Composta em parceria com Tom Jobim, esta última se tornou uma das músicas mais tocadas no mundo. A versão em inglês, "The Girl from Ipanema”, foi cantada por Frank Sinatra, Cher, Madonna e até Amy Winehouse.

Em 1965, ganha o primeiro e segundo lugares do I Festival da Música Popular de São Paulo, na TV Record, com, respectivamente, "Arrastão”, em parceria com Edu Lobo e interpretada por Elis Regina, e "Canção do amor que não vem”, com Baden Powell, cantada por Elizeth Cardoso.


Década de 70

Em 1970 começou a parceria com o violonista Toquinho, 33 anos mais jovem que Vinicius. Foram quase onze anos de amizade, viagens e composições em conjunto, que resultaram em 120 canções, 25 discos e mil espetáculos. "Tarde em Itapuã”, "Como Dizia o Poeta”, "Carta ao Tom”, a trilha sonora da novela da TV Globo "O Bem-Amado”, são alguns exemplos de como a dupla encantou os brasileiros e causou admiração pelos países em que passou. Toquinho e Vinicius assinaram também o álbum A Arca de Noé, voltado para as crianças. Quando preparavam a segunda versão desse disco, Vinicius se sentiu mal, falecendo na manhã de 9 de julho de 1980. A seu lado, sua última esposa Gilda Mattoso e o último parceiro, Toquinho. 

 

Mulheres e filhos

O primeiro casamento de Vinicius de Moraes foi por procuração, em 1936, com Beatriz Azevedo de Melo, a "Tati de Moraes”. Em 1940 nasce a filha Susana e dois anos depois, Pedro. Em 1945 casa-se com a arquivista do Itamaraty, Regina Pederneiras. A terceira esposa foi Lila Bôscoli, com quem se casou em 1951. Em 1953 nasce a filha Georgina e em 1956, Luciana. O quarto casamento acontece em 1958, com Maria Lúcia Proença, musa da crônica "Para viver um grande amor”. Em 1963 foi a vez de Nelita de Abreu Rocha se juntar ao "Poetinha” e seis anos depois, a escolhida foi Cristina Gurjão. Numa cerimônia no camdomblé, Vinicius de Moraes se tornou marido da atriz baiana Gesse Gessy, em 1970, ano em que nasce Maria, filha do poeta com Cristina Gurjão. Em 1976, o oitavo casamento, desta vez com Martha Rodrigues Santamaría. Em 1978, enfim, o nono e último casamento, com Gilda de Queirós Mattoso, que o veria morrer dois anos depois. 




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