Cascatinha: crescimento exige estrutura

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Cascatinha: crescimento exige estrutura
Cascatinha: crescimento exige estrutura

Vinicius Gastin

Poucas localidades de Nova Friburgo ainda preservam o verde em meio à paisagem urbana. O bairro Cascatinha, localizado a seis quilômetros do Centro, é um destes privilegiados, apesar das mudanças observadas nas últimas décadas. Antes resumido ao centro comercial e algumas casas ao redor, o bairro sofreu com a especulação imobiliária das últimas décadas: novas ruas foram abertas, loteamentos feitos e condomínios construídos para abrigar cerca de cinco mil moradores. Contudo, o crescimento não foi acompanhado por melhorias em alguns aspectos. "As regiões onde se plantavam flores hoje foram tomadas por imensos condomínios. E algumas coisas não evoluíram ao mesmo tempo”, conta o comerciante Pedro Cunha, morador do bairro há 56 anos.

Proprietário de um estabelecimento ao lado da pracinha do bairro, Pedro ainda recorda a época em que o Cascatinha recebia uma grande quantidade de turistas nos feriados prolongados. "Eram 10 ou 15 mil pessoas, fora os turistas que já estavam construindo casas. Eu trabalhava com meu pai em um bar do outro lado da rua, e nós vendíamos muito.”

A expansão do bairro trouxe, dentre outras consequências, o aumento na circulação de veículos, e a ponte estreita da Rua Francisco Almeida Sobrinho, por exemplo, representa um perigo constante para quem precisa utilizá-la diariamente. "Se vier um carro de cima e outro de baixo vai acontecer uma colisão. Não dá para um pedestre e um carro passarem ao mesmo tempo. Recentemente, uma menina estava passando de bicicleta, caiu dentro do rio, e a sorte é que ela caiu na areia.”

O conserto da ponte, inclusive, poderia possibilitar a abertura de novas linhas, como a que poderia circular pelo Caledônia e descer pela Rua Joaquim José da Silva. Desta forma, os moradores evitariam andar entre 10 e 15 quilômetros para chegar às respectivas residências. Assim como outros bairros, o Cascatinha sofre com o atraso no horário dos ônibus e a falta de efetivo para os locais mais afastados. "Tem dias que atrasa uma hora e meia ou mais, e chegam três ônibus juntos. Compreendemos que o trânsito no centro da cidade não ajuda”, pondera Pedro.

 

O terreno na Rua Dom João VI poderia abrigar área de lazer ou um posto de saúde


Mais atenção com a pracinha...

Os serviços de água, luz, esgoto e telefone são considerados regulares pelos moradores. "Aqui é um lugar tranquilo para viver. Tem alguns problemas, assim como todos os lugares. A Prefeitura tem feito trabalho de capina, essas pequenas coisas, mas as grandes necessidades não são atendidas”, reclama o comerciante.

Dentre as demandas, além da reforma da ponte, considerada prioridade, está a recuperação da Praça na Rua Dom João VI. O cartão-postal do Cascatinha sofre com o abandono há algum tempo: as mesas e aparelhos de ginástica estão mau conservadas, algumas grades tortas e o piso quebrado. "Eles fazem a limpeza da praça, mas pintar, consertar o que está quebrado e ajeitar o que é preciso não está sendo feito. Teve uma senhora, moradora do bairro, que reclamou e disse que o Cascatinha não vive só da praça. Está certo, mas esse é o nosso ponto de referência.”

A falta de iluminação eficiente compromete a segurança, e facilita a prática de atividades ilícitas ao redor da praça. De acordo com os moradores, a situação piora quando o bar em frente à praça não funciona. "A rua fica ainda mais escura. Tinha que ter um ponto de iluminação perto da escola, para melhorar um pouco. Há pouco tempo, tinha um patrulhamento na parte da manhã e à noite. Atualmente, esse procedimento não é mais feito. Não precisa de muita coisa para o nosso bairro. Acho que a reforma da pracinha e a construção de uma área de lazer seriam feitos importantes, com um parquinho e uma quadra de futebol”, sugere Junior, vendedor de 35 anos.

A preocupação do morador se justifica pela companhia da filha, ainda pequenina, que o acompanha durante a entrevista. Dentre as opções de lazer para jovens e adultos estão dois restaurantes famosos e um estabelecimento particular com piscina natural. Entretanto, elas não satisfazem a população local. O terreno onde está localizado um dos pontos de ônibus da Rua Dom João VI e outro na Rua Toro Kassuga foram cogitados como possíveis espaços para a construção de áreas de lazer, mas por enquanto nada foi feito. "Alguns vizinhos são contra essa situação, por conta do barulho, o medo de a bola bater em alguma janela. Mas tem esse outro terreno, que foi doado para a construção de uma área de lazer e está abandonado.”

Um dos destaques turísticos do bairro, o Parque Municipal Juarez Frotté possui aproximadamente cinco hectares de área (50 mil metros quadrados), e no verão as cachoeiras do local recebem um grande número de banhistas. Entretanto, a infraestrutura do complexo é considerada insuficiente para atender à demanda, e os frequentadores reclamam da má conservação dos banheiros e da falta de limpeza. "É um ponto turístico nosso e deveria ser mais bem cuidado e trabalhado pelas autoridades”, destaca.

A ampliação e reforma da ponte na Rua Francisco Almeida Sobrinho são consideradas prioridades pelos moradores 


A qualidade do ensino na Escola Amancio Azevedo é considerada boa, mas os pais reivindicam melhorias na estrutura física


Moradores pedem posto de saúde

Enquanto a área de lazer não sai do papel, os moradores cogitam outras utilidades para os terrenos destinados à construção do parquinho e da quadra. A principal delas seria a construção de um posto de saúde. A unidade poderia atender aos moradores do Cônego, Sítio São Luiz, Granja do Céu, Caledônia e Garrafão, diminuindo a sobrecarga do Posto Tunney Kassuga, em Olaria. 

"Seria fundamental para nós, pois temos que nos deslocar até Olaria e o posto fica sobrecarregado. Se aqui no bairro tivesse uma unidade de saúde melhoraria a situação de todo mundo”, opina um morador que preferiu não se identificar.

O Cascatinha é atendido pela Escola Municipal Cecília Meireles, além de uma creche. Os pais elogiam o ensino oferecido pelo colégio, mas alertam para a necessidade de ampliação. "A escola tem qualidade de ensino, mas se tornou pequena. Para fazer qualquer atividade física ou recreativa, os alunos têm que se deslocar para o Parque Municipal Juarez Frotté. A professora sai pela rua com 20 ou 30 alunos pela rua, em fila indiana, para ir até lá. A aula de capoeira é feita na pracinha, mas o piso está quebrado e coloca a segurança das crianças em risco”, alerta Pedro. 

 

O Parque Municipal Juarez Frotté necessita de atenção especial e pequenos reparos na infraestrutura



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